Mais de 140 pesquisas em todo mundo buscam uma vacina para o coronavírus. No Brasil, o Instituto Butantan e a Fiocruz firmaram parcerias internacionais para a produção de uma vacina contra a covid-19
No mundo são mais 140 pesquisas para encontrar uma vacina para a covid-19. As doses deverão estar à disposição no início do próximo ano, no entanto, um dos estudos faz uma previsão ousada em que vacinas emergências podem ser entregues ainda em outubro.
No Brasil, além do Instituto Butantan (que firmou parceria com a chinesa Sinovac), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Universidade de Oxford, irá produzir a nova vacina. O acordo firmado pela Fiocruz com a biofarmacêutica AstraZeneca teve o apoio do Ministério da Saúde e da Casa Civil da presidência. A partir da parceria, a instituição brasileira irá receber lotes e a tecnologia desenvolvida pela Universidade de Oxford.
“A produção dessa vacina é mais uma importante iniciativa da Fiocruz, que, combinada a outras ações, poderá contribuir para o enfrentamento da pandemia de Covid-19. Como instituição estratégica do Estado brasileiro, carregamos 120 anos de experiência e atuação na saúde pública. Num momento como esse, de emergência sanitária, já temos uma infraestrutura robusta e com capacidade produtiva para incorporar novas tecnologias e introduzir novas vacinas rapidamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Isso é resultado direto desse acúmulo e de todo o investimento que se fez na Fiocruz nos últimos anos, especialmente na atualização de seu parque tecnológico”, destaca a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.
Fases das 140 pesquisas
Em janeiro deste ano, cientistas do mundo todo se uniram contra o coronavírus. O primeiro passou foi decodificar o genoma da SARS-CoV-2. Os primeiros testes foram realizados ainda em março, mas ainda sem um resultado certeiro.
Entende-se que processo de desenvolvimento de uma vacina passa pelas seguintes fases:
- Pré-clínico: testes em animais, estima-se que mais de 125 pesquisas estariam nesta fase;
- Fase I: os cientistas já começam a testar a vacina em humanos. São usados grupos pequenos para testar a segurança e confirmar se o sistema imune é estimulado;
- Fase II: o grupo de pessoas testado é ampliado para centenas de pessoas, incluindo crianças e idosos. Assim, os pesquisadores podem verificar a segurança e se a vacina consegue provocar uma resposta imune do organismo;
- Fase III: milhares de pessoas são testadas, nesta fase, alguns grupos recebem o placebo para comparar com o grupo que recebeu a vacina de fato. Nesta fase pode-se determinar se a vacina protege ou não contra a infecção;
- Aprovação: cabe as agências regulatórias de cada país revisar os resultados do estudo para validar ou não a vacina. No entanto, durante uma pandemia, uma vacina pode ter aprovação de uso emergencial.
As vacinas podem ser: genéticas (quando usam um ou mais genes do vírus para provocar a resposta imune), com vetores virais (quanto usam um vírus para liberar genes da covid-19 nas células e provocam uma resposta imune). Existem também as com base de proteína (usam a proteína do coronavírus para ter a resposta imune) e vacinas que usam uma versão enfraquecida ou inativa do coronavírus.
Vacina de Oxford
A Universidade de Oxford e a AstraZeneca agora contam com a parceria da Fiocruz para produzir a vacina do tipo vetores virais. Na Inglaterra, a pesquisa está na fase II e III, já no Brasil e África do Sul, o estudo entra na Fase III. Acredita-se que vacinas emergenciais podem ser entregues ainda em 2020.
No Brasil, o protocolo prevê 2 mil participantes recrutados em São Paulo, pela Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp); e no Rio de Janeiro, pelo Instituto D’Or.
O estudo avalia o chamado “esquema vacinal”: um grupo recebe uma dose da vacina e outro recebe duas doses, sendo a segunda dose administrada 4 semanas após a primeira. O estudo deve ser ampliado no Brasil para 5.000 participantes. Há uma expectativa de que já hajam resultados preliminares dessa fase em outubro ou novembro deste ano.
“A população brasileira tem características próprias e temos avançado muito na pesquisa clínica. É importante testarmos as vacinas considerando tanto as variações genéticas da nossa população, como as variantes de vírus que têm circulado no país. Isso vai nos garantir uma segurança muito maior do que se tivéssemos incorporando uma vacina testada em outras condições e com outro perfil de população”, comenta o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger.
Vacina Coronavac
A vacina que está sendo desenvolvida pela chinesa Sinovac Biotech (Coronavac) e tem a parceria do Instituto Butantan, usa uma versão enfraquecida ou inativa do vírus para provocar uma resposta imune.
A pesquisa está indo para a Fase III, a expectativa é fabricar até 100 milhões de doses por ano. “Poucos meses após a confirmação do primeiro caso de COVID-19 no país, São Paulo vai liderar um ensaio clínico fase três e se prepara para iniciar a produção nacional de uma vacina promissora, que poderá ser disponibilizada em tempo recorde na rede pública de saúde”, afirmou o Diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas.
Desenvolvimento de uma vacina brasileira
A Fiocruz segue com desenvolvendo dois projetos que podem dar origem a uma vacina nacional.
– Vacina sintética, com base em peptídeos antigênicos de células B e T – ou seja, com pequenas partes de proteínas do vírus capazes de induzir a produção de anticorpos específicos para defender o organismo contra agentes desconhecidos – neste caso, o Sars-CoV-2; e
– Vacina com a plataforma de subunidade (que utiliza somente fragmentos de antígenos capazes de estimular a melhor resposta imune), que testa diferentes construções da proteína S, a principal proteína para a ligação do vírus Sars-CoV-2 nas células do paciente, responsável pela geração de anticorpos protetores/neutralizantes.
Além disso, a Fiocruz está desenvolvendo uma vacina, que utiliza o vírus da influenza como vetor vacinal para gerar resposta imunológica. Com esse processo, uma das possibilidades é desenvolver uma vacina bivalente, que possa ser usada contra influenza e contra o novo coronavírus.
A Universidade de São Paulo (USP) também está na corrida para desenvolver uma vacina. Mas nada de agulhas, a vacina da USP será um spray oral. O modelo de imunização já foi testado em camundongos contra a hepatite B.
Os protótipos para o coronavírus estão sendo feitos e devem ficar prontos em setembro, quando serão realizados os primeiros testes em animais.