Volta às aulas: será que o propósito das férias escolares foi cumprido?

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Helen Mavichian. Foto: Divulgação

Fim de férias escolares e os seus filhos estão ansiosos pela volta às aulas? Que tal você, pai ou mãe de crianças e adolescentes, aproveitar este momento para fazer uma breve retrospectiva das últimas semanas e ver se os seus filhos cumpriram o verdadeiro propósito das férias?

Esse período de descanso, em pleno verão, é mais do que somente uma trégua das aulas e atividades curriculares. É uma fase de curtição, um momento para fazer com que as crianças descansem a mente, recarreguem as energias, fortaleçam os laços familiares e também aprendam a lidar com o tédio, o tempo ocioso.

A rotina escolar com certeza é benéfica para estimular a responsabilidade, as relações sociais e autonomia nas crianças, mas também é fundamental dar uma pausa nos horários rígidos, nos estudos e nas atividades escolares e extracurriculares. As crianças também sofrem com o estresse e a pressão durante o ano letivo, assim como os adultos. Essa pausa faz bem para a saúde mental dos pequenos, contribui para o descanso e permite que crianças e adolescentes tenham o privilégio de dar um respiro maior.

As férias contribuem também para proporcionar momentos memoráveis em família e reforçar os vínculos afetivos, especialmente para aquelas crianças que frequentam a escola em período integral ou que têm uma agenda lotada com atividades extracurriculares durante o ano. É por meio das brincadeiras que elas elaboram sentimentos, desenvolvem estratégias para enfrentar situações desafiadoras, constroem sua autonomia e aprimoram seu relacionamento com o outro.

As viagens, passeios, conversas e atividades em espaços como parques servem para aproximar e fortalecer o vínculo familiar. É importante que os pais e filhos aproveitem juntos o período de férias, porém, nem sempre as férias de trabalho dos pais coincidem com o período de férias escolares e gera uma angústia de deixar os filhos em casa com pouca diversão, enquanto os pais trabalham em home office ou no modelo híbrido. 

Mas, não necessariamente os pais devem se sentir culpados por isso. Deixar os filhos um pouco quietos enquanto trabalham pode ser até benéfico para a saúde mental deles.  É isso mesmo que você leu. Algumas crianças e adolescentes são muito ativos e nem sempre sabem lidar com o tédio, porém, esses dias de calmaria também são importantes. 

O tédio é importante na vida da criança, mas, por muitas vezes, os pais e responsáveis se preocupam demais em manter os filhos repletos de atividades, sejam elas escolares ou até extracurriculares, como esportes, aulas de reforço, idiomas, natação e afins. Eles esquecem ou não sabem que o momento do ócio também é necessário para o desenvolvimento dos filhos.

Quando os filhos estão entediados ou não possuem uma companhia para brincar, são naturalmente estimulados a usar a imaginação para encontrar meios de se divertirem ou mesmo soltar a imaginação e os pensamentos. Isso permite que a curiosidade os faça inventar brincadeiras e conhecer coisas novas, tomando a iniciativa de se distrair e curtir a própria companhia.

O tempo ocioso auxilia na formação de habilidades como a criatividade e a inovação, características essenciais para toda a vida. A infância e a adolescência são fases intensas de desenvolvimento e possuem necessidades cognitivas de descobrir, investigar, tocar com as próprias mãos e explorar novos territórios. Só que, em meio a tantas atividades durante o ano letivo, as crianças e os adolescentes desaprendem a lidar com o “não fazer nada”. Ficam inquietas, sofrem de ansiedade e limitam o próprio potencial de viver situações diferentes. Querem estar ocupadas com atividades ou optam por se distrair por horas no celular.

Por que estou enfatizando isso? Para te lembrar que o tempo das crianças não precisa sempre ser preenchido integralmente com atividades, nem nas férias, nem durante o período escolar. Deixá-las aprender a lidar com o ócio às vezes é bom e necessário. Às vezes é importante deixá-las quietas para que aprendam a desacelerar um pouco. Deixe-os com algumas tardes livres, se estudam pela manhã. Ou vice-versa. Faz bem para o desenvolvimento e para a saúde mental deles. Acredite.

Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita.

Contexto Livre é uma coluna rotativa, de assuntos diversos escrita por pessoas bacanas que tenham algo legal e inspirador pra compartilhar.

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