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Habilidade de negociação da Fiocruz com diferentes atores políticos é um dos fatores de sucesso da parceria do laboratório Bio-Manguinhos com a AstraZeneca
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A capacidade tecnológica do laboratório e a adaptação de processos de regulação da Anvisa também garantiram a transferência de tecnologia
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O aprendizado na produção da vacina contra a Covid-19 pode contribuir para o desenvolvimento de outros imunizantes
A capacidade produtiva do laboratório Bio-Manguinhos e a habilidade política da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para firmar acordos de transferência de tecnologia estão entre os motivos para o sucesso da parceria entre a farmacêutica AstraZeneca e o laboratório brasileiro na produção de vacina contra a Covid-19. A constatação está em artigo publicado nesta quarta (8) na revista “Research Policy” com autoria de pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) e da London School of Economics.
Os autores realizaram um estudo de caso baseado em pesquisa qualitativa. Além da análise de documentos e arquivos e de visitas à Fiocruz, os pesquisadores entrevistaram 11 informantes-chave da instituição. A coleta de dados mais intensa ocorreu de junho de 2021 a março de 2022, e a validação adicional de informações ocorreu até agosto de 2022.
A pesquisa explica que a experiência de Bio-Manguinhos foi bem-sucedida por três fatores: ação política, capacidade tecnológica e flexibilidade regulatória. No primeiro caso, a concorrência política entre o Governo Federal e o Governo de São Paulo em meados de 2020 para a produção da primeira vacina brasileira abriu uma janela de oportunidade para a Fiocruz, que também demonstrou habilidade para negociar com diferentes atores políticos, como Congresso, Judiciário, instituições de controle e filantropos.
A tecnologia do laboratório foi decisiva para o interesse da AstraZeneca na parceria, diz o artigo. “A experiência e know-how com a cultura de células em biorreatores e purificação de proteínas foi crucial para que Bio-Manguinhos conseguisse simplificar os protocolos de produção – dada a urgência de produzir o imunizante no auge da pandemia de Covid-19 e diante de interrupções nas cadeias globais”, explica Elize Massard da Fonseca, uma das autoras do artigo. A pesquisadora da FGV EAESP explica que, no curto prazo, o conhecimento adquirido no processo pode contribuir para o desenvolvimento de vacina que responda a novas variantes da Covid-19. A longo prazo, pode fomentar o desenvolvimento de mais produtos biomédicos, como imunizantes para outras doenças.
O artigo também aponta a contribuição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para acelerar e facilitar o processo de produção das vacinas. “A Agência rapidamente adaptou seus procedimentos e diretrizes para realização de ensaios clínicos e de produção. Isso permitiu que desafios inesperados fossem prontamente resolvidos”, cita Fonseca. A autora ressalta que o diálogo constante com o setor regulador é um dos aprendizados que a atuação da Anvisa pode deixar de legado para outros países.
Os autores enfatizam a contribuição do artigo para o debate internacional sobre o compartilhamento de conhecimento pelas iniciativas de transferência de tecnologia e sobre como essas parcerias funcionam na prática. “O mecanismo de encomenda tecnológica, modelo de contrato adotado por Bio-Manguinhos, garantiu acesso a uma tecnologia inovadora, porém ainda não disponível no mercado. O trajeto percorrido pela Fiocruz pode incentivar (e servir de modelo) para outros contratos de inovação orientada por missão”, completa Fonseca.
Fonte: Agência Bori