O poder da crítica

Olá, amigos leitores da coluna Bastidores de Você. Em nossa coluna de hoje abordaremos o papel da crítica em nossas vidas e como ela pode nos ferir gravemente, mas também ela pode nos servir de mola propulsora, quando sabemos escutá-la e fazer dela um instrumento de melhoria pessoal.

Desde a tenra idade nos relacionamos com o outro e esse contato é justamente o que nos coloca em sociedade. Isso nos permite fazer o chamado laço social e nos inscreve no grupo social onde estamos imersos. Exemplo: Uma criança, nascida em uma zona rural terá uma forma de se inserir na sociedade e se comportará de uma determinada forma. Já uma criança nascida nos centros urbanos provavelmente se organizará com valores e condutas diferentes.

Essa inscrição social nos faz aprender a lidar com o mundo, nos ensina as regras de convivência e faz com que consigamos nos orientar e comportar. Ela nos dita como agir diante de uma série de situações, desde como se comportar à mesa, até como se relacionar com os amigos, pessoas desconhecidas, enfim, dita nosso comportamento,

No bojo dessas relações, somos doutrinados também a lidar com nossas emoções e afetos, onde discursos vão nos atravessando, nos constituindo como sujeitos desejosos. Neste ponto temos o surgimento de diversas questões, inclusive quanto ao compromisso que podemos fazer com nossos desejos.

Em outra coluna escrevi sobre a diferença do querer e do desejar. Lá eu sinalizava para o fato de que querer não exigir o sacrifício de nada. Por outro lado o desejo, aquilo que emana de nosso inconsciente, é muito mais profundo e exige sacrifícios para atingir a sua saciedade e ainda como criança, nossos desejos, muitas vezes são alvos de críticas e isso vai provocando marcas em nosso psiquismo.

Justamente aqui começam as nossas questões, pois quando se assume o compromisso com o desejo também fica-se exposto a críticas, julgamentos, avaliações e este é apenas um dos pedágios que pagamos ao formar compromisso com o que verdadeiramente se anseia.

Esses julgamentos, avaliações são aquilo que justamente chamamos de críticas e, para alguns, elas tem um poder imenso, pois ao passo que se deseja, na mesma medida, temos o nascimento das ditas cobranças e dependendo da maneira que isso é manuseado pela pessoa, isso poderá ajudar a construir uma personalidade compromissada com os seus desejos, desde que respeitando limites éticos.

Por outro lado, para algumas pessoas, isso será um fardo e levará a pessoa dois comportamentos. Ela poderá abrir mão daquilo que busca, por medo das críticas ou fará com que ela se torne beligerante diante de qualquer, ignorando, por medo, eventuais apontamentos construtivos e que a fariam construir seus sonhos.

Quando uma pessoa é mergulhada em um ambiente saudável, provavelmente desenvolver-se-á criando um pensamento de que em alguns momentos da vida reprimendas irão ocorrer, em outros, elogios, conselhos, enfim, a pessoa irá lidar de uma maneira mais equilibrada com os desafios que lhe são impostos.

Para a pessoa cujas experiências pessoais foram carregadas de negatividade, poderá desenvolver um comportamento de achar que é “sempre menos” em relação ao outro, trazendo para o sujeito uma sensação de desconforto emocional. Esta pessoa provavelmente terá sérias dificuldades para lidar com as críticas, ainda que construtivas. Isso ocasiona um senso de que ela vale menos, um senso de que nada que ela faz é bom o bastante, o que traz profunda dor.

Quando o ambiente em que a pessoa cresceu se revela hostil, aqui cabe um destaque, não precisa ser necessariamente hostil, basta que na fantasia dela ele se manifeste dessa maneira, ela pode desenvolver um senso de que está desadaptada ao ambiente e, por conta disso, começa a travar um conflito em seu psiquismo.

De um lado há a captura pelo laço social que o inseriu na sociedade, por outro há um sentimento de que aquele meio lhe é bastante amedrontador, gerando a dúvida entre seus desejos pessoais e a lida com a cobrança externa a ela. Nessas pessoas, seu superego é bastante poderoso, massacrando seu ego e este por sua vez faz muita pressão nos conteúdos idílicos.

Já o Id do sujeito, a porção inconsciente, mantém uma pressão sobre o ego da pessoa, pois nossos desejos insistem em ser realizados, levando a mais uma pressão sobre o ego que fica achatado entre as críticas e os desejos do sujeito. Tempestade Perfeita para uma luta.

Neste sentido, diante da fantasia de hostilidade, a pessoa entra em um jogo pessoal de luta ou fuga, onde, diante da crítica ela tenta fugir, diminuindo-se em relação ao outro, se sentindo impotente por conta do apontamento. Por outro lado, a pessoa entra em um modo de luta e parte para agredir quem lhe critica. Repito, em ambos os casos a pessoa sente-se ameaçada pelo outro, pelo meio externo, mantendo-a em um estado de constante alerta e estresse.

E como reagir diante deste quadro? O que tenho de plano para lhe dizer é que ninguém está à salvo de críticas, pelo contrário, elas sempre estarão presentes em nossas vidas. A questão é o que fazer com elas.

Quando há uma crítica a primeira pergunta que faço é: Quem está me criticando? Ao fazer isso você poderá perceber se quem lhe critica é alguém com capacidade para fazê-lo. Muitas pessoas, por inveja, ou qualquer outro sentimento menos nobre, adoram criticar o outro justamente porque sentir-se inferior, carecendo de diminuir o outro para que ela possa ficar mais em paz consigo mesma.

Uma segunda pergunta que me faço é se a crítica é pertinente e se cabe naquele momento e naquele lugar. A pertinência e o cabimento se revelam importantes porque, muitas vezes, a pessoa que está fazendo uma crítica pode ser alguém de ilibada importância, mas se você sentir que está certo, siga em frente. A pessoa que está apontando a crítica pode não ter todos os dados para chegar a uma conclusão correta.

Imagine, Freud sofreu severas críticas em seu pensamento sobre a mente humana, alguns até o chamaram de charlatão. Ele enfrentou o espírito de uma época e comprovou tudo que se propôs a estudar. Será que se ele tivesse dado ouvidos às críticas ele teria construído tudo que construiu? Creio que não.

A terceira pergunta que faço é se quem está declinando a crítica conhece toda a realidade envolvida, pois conhecer parte da história não autoriza ninguém a criticar o outro. Neste sentido pondere as críticas, veja se a pessoa tem todas as informações que você possui para tomar essa ou aquela decisão.

Finalmente, passado por esses crivos, nunca leve para o lado pessoal. As críticas costumam ser um instrumento de aperfeiçoamento do sujeito. Neste ponto, você deve está se perguntando, mas se há críticas que não são construtivas, que só querem nos ferir, como não leva-las para o lado pessoal? A resposta é simples, críticas que não são para desenvolver, melhorar verdadeiramente uma situação, não são críticas, são verdadeiras picuinhas, e por conta, disso não devem ser tomadas como verdades e portanto, não há sentido em leva-las para sua vida.

A maturidade emocional é encontrada justamente no ponto da vida em que podemos superar essa sensação de luta com o outro, para passar a enxergar que nossa realidade é única e que não iremos agradar a todos. Isso fará com que seja possível separar as coisas e mais, lhe retirará dessa zona conflituosa, devolvendo para você a paz que merece.

Quero terminar nosso texto com um pensamento de Santo Agostinho que dizia: “Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem.” Pois como Freud um dia disse: “Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio.” Ora, se nem os elogios podem servir exclusivamente de base para a nossa edificação, quanto mais as críticas sem propósito construtivo. Cabe a cada pessoa, compromissada com seus desejos, lidar com as críticas, saber perceber se ela é válida ou não, saber separar as construtivas, daquelas que não servirão para edificar nada.

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