Concessões de energia por cotas também estão entre as razões para o presidente deixar o cargo
“A missão foi cumprida”, declarou ontem (25) em coletiva virtual, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, ao confirmar sua saída da empresa por motivos pessoais, anunciada no último domingo (24).
Em encontro virtual, o então presidente explicou que uma das razões para a renúncia foi considerar que as concessões para a geração de energia que funcionam em regime de cotas são desfavoráveis tanto para a união quanto para o consumidor brasileiro. Ferreira Junior também afirmou que não vê a privatização da Eletrobras como prioridade para o Congresso Nacional. “Se o assunto não for julgado rapidamente, no primeiro semestre, será difícil viabilizá-lo (a privatização) este ano. No ano que vem, que é um ano de eleição, o projeto encontraria dificuldade ainda maior. É uma percepção pessoal”, destacou Wilson.
No entanto, Ferreira Junior aceitou o convite feito pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e continuará no membro do Conselho de Administração da companhia. Wilson pretende fazer a transição em 45 dias para o novo presidente assumir, além de fechar o balanço de 2020.
“Tive e estou tendo a honra de conduzir o maior grupo de energia da América Latina, um dos cinco maiores do mundo”. Para Ferreira Junior, o processo de reestruturação da Eletrobras foi um dos maiores que conduziu. “A companhia tinha um conjunto de desafios elevados em sua estrutura societária”. Observou que todas as distribuidoras de energia da empresa, consideradas deficitárias, foram privatizadas até dezembro de 2018. Elas se concentravam no Norte e Nordeste do país.
O balanço de gestão apresentado por Wilson Ferreira Junior inclui a diminuição de dívidas das controladas, redução do quadro de pessoal acima de 50% por meio de programas de demissão incentivada, profissionalização dos gestores por meio de processo público, redução de custos de 40%, desalavancagem da empresa para menos de duas vezes e meia, que é padrão reconhecido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Essa reestruturação foi reconhecida pelo mercado; as ações praticamente quintuplicaram de preço”. A Eletrobras tem hoje um plano estratégico de 15 anos que permite sua capitalização, afirmou o presidente, que deverá ficar no cargo até o dia 5 de março. “É uma companhia que está hoje fadada ao sucesso, fruto de medidas de competitividade, de medidas de saneamento financeiro e de governança corporativa de classe mundial”, comentou.
Dificuldades
Um dos entraves à melhoria do desempenho da empresa é o conjunto de concessões de geração que operam pelo regime de cotas, citou o executivo. Esse regime é original da Medida Provisória 579, que resultou em prejuízos para a Eletrobras da ordem de R$ 30 bilhões durante o governo Dilma Rousseff. Ferreira Junior explicou que dois terços das cotas pertencem à Eletrobras e o risco hidrológico é repassado à sociedade brasileira. “Isso fez com que a tarifa de energia elétrica que é indexada à inflação tivesse ao longo de seis anos aumento de três vezes a inflação.
O executivo defendeu um processo de mudança dos contratos de concessão por cotas e que existam outorgas de novas concessões em regime de produção independente, como ocorre com as demais empresas. Os recursos da Eletrobras para comprar essas novas outorgas viriam do aumento de capital.
Em relação à privatização, reiterou que não basta os ministros de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e da Economia, Paulo Guedes, defenderem a matéria. O projeto de lei tem que ser considerado prioridade pelo Congresso Nacional, manifestou Ferreira Junior.
*Com informações da Agência Brasil