[Território Múltiplo] É dia de feira

Sábado, 1 de fevereiro. Alívio por finalmente termos saído de janeiro, um mês que pareceu ter demorado tanto para acabar. Contudo, questiono-me, será que ele demorou para passar ou nós estamos tão acelerados e ansiosos que precisamos logo do amanhã?

Queremos as melhores tecnologias, buscamos respostas imediatas e conversas rápidas. Quem nunca ouviu: “nossa, fulano demorou vinte minutos para me responder” ou “adoro aquela pessoa porque ela me responde rápido. Pois é, tudo é instantâneo (até a comida), que se o Uber demora mais de cinco minutos para chegar, já estamos irritados e ainda brigamos com o motorista. 

Dentro dessa bolha da velocidade das relações e dos acontecimentos, eu busquei uma pausa. Algo tão simples que parece-me disruptivo para os tempos atuais. Queria apenas o silêncio dos bits e bytes e o barulho da vida real. Visitei um lugar em que o futuro convive com o passado, e este ainda resiste bravamente. 

Onde fui? Na Feira Permanente do Cruzeiro. Como as feiras são deliciosas, pessoas de verdade, olho no olho, e ali em algumas bancas, eu tive a sensação de que o tempo resistia, como o mês de janeiro tentou fazer. 

Grãos e farinhas sendo vendidos ainda do jeito antigo

Não fui como repórter, deixei a roupa de jornalista em casa. Eu queria ir apenas para ver. Ver as pessoas, as cores, a vida! E como é uma delícia ir aos lugares estando presente. Nada como deixar os sentidos aflorados e para viver aquela experiência de forma intensa.

Nada de ficar vigiando o celular para checar notificações, nada de preocupar com os acontecimentos do mundo. Ser jornalista significa ser um grande ansioso, estamos sempre pensando no amanhã, no tema que será a capa do site ou naquela entrevista exclusiva. É emocionante, a melhor profissão do mundo, sem dúvida, mas a pausa é necessária. São nos momentos de pausa que entendemos melhor o que precisa ser entendido.

Você já viveu algum instante em que parecia que o tempo havia parado? Esses momentos guardam uma beleza ímpar, e precisamos deles.

Desconectei e ouvi a música antiga de uma banca, vi em outra, a TV, com problemas, ligada em algum canal religioso, e ainda, pude sentir o cheiro dos temperos e das frutas ali vendidas. .

Talvez sejam nestas pausas em que nos conectamos com o nosso lado mais humano. Por isso que as feiras são tão mágicas. Existe um olho no olho, confiança, e amizade. Nas feiras, você escuta: um “eu venho aqui toda a semana, sabe?”, ou ainda “veja lá no seu Francisco, com certeza, ele terá o que você está buscando”.

Existem pequenas gentilezas que substituímos pelos apps ou pelo mecanismo de busca mais famoso do mundo, que, certamente, tem um dossiê completo sobre todos nós. 

Falando sério, sou uma amante da tecnologia, mas desconectar por alguns minutos, talvez, um pouco mais de uma hora, como fiz hoje, foi uma forma de acalmar a minha ansiedade, saí de lá com as baterias recarregadas.

Sei que acreditamos muito que para resolver uma determinada situação precisamos de medidas extremas, como ir para um retiro, parar de comer carne imediatamente.. E assim vai. No entanto, quero acreditar que a beleza das coisas, a felicidade e a tranquilidade podem viver em pequenos frascos, não é preciso muito para apreciar a existência.

 

 

Território Múltiplo é a coluna em tudo pode virar assunto, assinada pela Larissa Leite, editora do Portal Contexto.

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