Desculpe-me pelo título sensacionalista, mas eu precisava chamar a sua atenção para conversarmos sobre um ocorrido que, pelo menos para mim, traz inúmeras reflexões.
De fato, o que aconteceu? Não tem mais futebol feminino na Finlândia? Bom, vamos aos fatos: a Federação Finlandesa de Futebol anunciou a mudança do nome do campeonato disputado por elas. Se antes era “Liga Feminina”, agora o torneio será conhecido como Kansallinen Liiga ou em bom português, Liga Nacional.
Nada de diferenciar meninos e meninas. Até entendo que especificar o gênero seja uma forma de dar visibilidade ao esporte praticado por elas. Mas será que essa seja a melhor estratégia para combater preconceitos? Ou será que essa diferenciação mostra que ainda temos um caminho longo para vencer o preconceito?
Entendo também que abaixo na linha do equador ainda não estamos no mesmo nível da Finlândia. Não sabemos ainda respeitar mulheres ou outros grupos. Sabemos das tristes estatísticas do nosso país, não é?
Uma pausa para argumentação, preciso ‘contextualizar’, você, caro leitor. Eu entrei para o jornalismo online pela porta do Automobilismo, mas especificamente, graças a produção de conteúdo para a piloto Bia Figueiredo, que venceu na IndyLights e passou pela Fórmula Indy, e hoje, deu uma pausa nas corridas para ser mãe.
Eu aprendi com a Bia uma coisa, não havia diferença entre ela e eles (para eles havia, pois Bia já foi colocada para fora da pista algumas vezes, afinal, muitos meninos não admitiam perder para uma menina). Mas eu ouvi a Bia dizer inúmeras vezes que baixou a viseira do capacete, todo mundo vira piloto, ou seja, não importa o gênero ou a orientação sexual.
A mesma situação acontecia nos Estados Unidos, lá o preconceito com as meninas que querem ser piloto não é como aqui. Um nome que preciso citar aqui é o de Danica Patrick. Sempre com resultados consistentes na Fórmula Indy, ela colocou o nome na história de forma definitiva em 2008. Danica venceu a etapa realizada no Japão, foi uma corrida de tirar o fôlego, e ela bateu um brasileiro, o tricampeão das 500 milhas de Indianápolis – umas das corridas mais famosas do mundo, Helio Castroneves.
Quer ver como foi essa corrida? Veja aqui
Nos anos de cobertura no automobilismo, eu sempre dizia: o preconceito vai acabar quando pararmos com a diferenciação. Uma hora não vai mais fazer sentido essa necessidade de marcar que foi uma mulher que venceu, chegou em último ou ainda, que aquele esporte é só delas.
Por isso, eu aplaudo a decisão da Federação Finlandesa que além da atualização do nome fez algo muito importante. Ok, essa decisão veio em setembro passado, bom, as atletas assinaram com a entidade um contrato que garante a elas as mesmas premiações pagas para eles.
A igualdade no valor das premiações não é exclusividade da Finlândia. Na Noruega, o acordo foi assinado em outubro de 2017. Recente? Sim, mas é fascinante ver o mundo mudando e encurtando preconceitos entre pessoas e gêneros.
Veja o que a Heidi Pihlaja, chefe de desenvolvimento de futebol feminino da Federação de Futebol da Finlândia diz sobre a mudança:
“Futebol é futebol, não importa quem chuta a bola. Alguns podem ver a mudança de nome como insignificante, mas, na verdade, é uma afirmação forte, que representa uma mudança cultural mais ampla na comunidade esportiva e em nossa sociedade”.