[Território Múltiplo] Capitão Polêmico vs Super Juiz

Olá, caro leitor.

Mais uma tarde turbulenta na terra brasilis. Então, aconselho que você aperte o cinto.

Na quinta-feira passada a turbulência foi provocada pela saída de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. As discordâncias levaram o rompimento e saída de Mandetta aconteceu.

Aí você pode ter pensado, acabou a polarização, pra frente Brasil salve… Não. A polarização é uma característica deste governo, ele nasceu da polarização e ela virou a ‘estratégia’.

Lembro-me que após o impeachment de 2016, muitos analistas falavam da necessidade em um candidato que apresentasse um discurso que unificasse o país. Esse discurso não veio. O país se viu dividido entre camisas vermelhas e camisas da seleção brasileira. 

A seleção venceu e o discurso de polarização continuou inclusive dentro do próprio governo, temos aí uma situação de instabilidade e extremamente tóxica a todos.

Após a saída de Mandetta, o presidente esteve em um ato tão polêmico quanto chamar a covid-19 de gripezinha (ou até mais polêmico, mas você decide). No último domingo, manifestantes pediam o fechamento do Congresso, do STF e a volta do AI-5, o mesmo instrumento que proibiu manifestações, ué?! Sei que as coisas param de fazer sentido, não é?

Vi alguns manifestantes falarem: não queremos o fechamento do Congresso, mas a ‘limpa’, o fim da corrupção. Peraí, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. 

Caro leitor, acredito que ninguém, nenhum brasileiro defenda a corrupção. Mas será que o fechamento das instituições é o melhor caminho?

No dia seguinte, o presidente voltou atrás e disse que não tinha nada disso e ainda ouvimos mais uma frase de efeito: “eu sou a constituição”. Alô? Luís XIV? Você pode dar um pulinho aqui no Brasil? Para quem não lembra, Luís XVI foi o chamado rei sol que teria dito: “o Estado sou Eu”. Ou como você viu na charge de hoje, haja terapia!

Foto: Marcelo Camargo/Fotos Públicas
DesMOROnando?

Hoje, a polarização é com Sérgio Moro. Logo ele. Logo o juiz que ganhou lovers e haters por conta da atuação na lava-jato. O motivo da rusga? O presidente quer mexer no comando da Polícia Federal. Valeixo, para quem não está acompanhando os noticiários é pessoa de confiança de Moro e tem o respeito da corporação.  

E eu me pergunto: por que isso agora? Estamos no meio de uma crise de saúde pública e precisamos repensar os planos econômicos. Tenho minhas dúvidas quanto ao Pró-Brasil, mas esse é um outro assunto. Vendo o circo armado, eu fico com a sensação de que o presidente não consegue viver sem uma boa treta e cada momento elege um novo arqui-inimigo.

Moro deu seu recado e pediu demissão, como quem diz: quer trocar o comando? Ok, mas eu não fico. 

A questão que fica é: Moro seria uma peça que valeria a pena ser sacrificada? Ou é hora do Planalto recuar? O que será que a PF descobriu?

Entendo que a nomeação do juiz da Lava-Jato para o Ministério da Justiça foi uma forma de legitimar a operação, que desmontou uma das maiores operações de corrupção da história do país. Entre os de camisa verde-amarela, Moro é uma unanimidade, um pilar fundamental do atual governo. Do outro lado, dizem por aí que muitos parlamentares estão confortáveis com a possibilidade da saída dele.

A ex-apoiadora do presidente, Joice Hasselmann (PSL-SP) postou no twitter

“Junte as pontas. Jair Bolsonaro manda demitir Valeixo, escolhido por Moro depois que: 1- A PF chegou ao centro e aos financiadores das milícias digitais. 2- Bolsonaro negociou o governo com Bob Jefferson e Valdemar. 3 – a corda aperta o pescoço do filho Flávio no caso Queiroz”.


Polêmicas nada saudáveis

A primeira semana do novo ministro da Saúde foi agitada, no mínimo. As frequentes coletivas não acontecem mais e os números precisam ser corrigidos, sim, nesta semana, o número de mortes pelo coronavírus foi divulgado errado. 

Nelson Teich defende a reabertura do comércio e o afrouxamento das medidas de isolamento/distanciamento. Será que o afrouxamento vai acontecer com calma ou… peraí, já temos shoppings abertos no país, aglomeração e tudo mais… Vendo tudo isso, eu aproveito para dividir uma pergunta: qual será o custo real dessa postura? 

Permita-me fazer uma conta rápida com você. Em Manaus, o prefeito Arthur Virgílio já chora pelas vidas perdidas. Não vou aqui questionar a atuação política nem as falhas da gestão na saúde pública – infelizmente, sabemos que em todo o país a gestão da saúde pública é bastante questionada, temos um sistema importantíssimo, mas que precisa lidar diariamente com a falta de itens, como algodão, luva… 

Bom, vamos aos números? Segundo o prefeito, o número de sepultamentos em Manaus ficava entre 20 e 35 mortes por dia. Agora, neste ano, em quatro dias, os números foram: 66, 88, 121 e 106.

Segue meu raciocínio, mesmo se pegarmos a máxima da curva anterior, de 35 por dia, em quatro dias, seriam 140 óbitos. Com o coronavírus no cenário, o número foi para 381 – só em Manaus. O estado do Amazonas tem, números oficiais, 234. 

Ao trazer esses números, reforço que a minha intenção está longe do sensacionalismo ou da histeria, apenas acredito que precisamos repensar as ações e as estratégias adotadas. Estamos vivendo em um momento delicado e lembrar que cada vida importa. Por trás de cada número existe uma pessoa, uma história. 

Para finalizar

Por isso, não acredito que seja a hora de buscar arqui-inimigos, e nem momento para colocar agravar crises políticas, pois elas criam crises econômicas também. 

Ficarei com o cinto bem afivelado e torcendo para que de fato as turbulências não derrubem o avião. Eu aprendi que na vida real, turbulência não derruba avião, assim espero!

Até a próxima!

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