O que os Pinguins me ensinaram

     Olá meus amigos da coluna “Bastidores de Você”. Antes de mais nada, quero me desculpar com você leitor. Na semana passada tive umas dificuldades técnicas por conta de um relacionamento tormentoso com meu computador, associado a questões de trabalho e não consegui trazer para você nossa conversa semanal.

Dito isso, converso hoje sobre os pinguins, sim pinguins, e como eles me deram uma lição de vida. Eles me ensinaram a persistência. Mesmo que custe um esforço tremendo, devemos perseguir nossos desejos.

Você deve estar se perguntando, o que pinguins têm a ver com isso? Tudo! Você sabia que um pinguim azul, uma das menores espécies de pinguins, medindo aproximadamente 33 centímetros. Imagine o que isso significa, eles são em média, pouco maior do que uma régua escolar. Suas pernas são diminutas e, mesmo assim, eles viajam anualmente mais de 700km atrás daquilo que desejam, ou seja, simplesmente saem por aí se deslocando, atrás de alimento ou reprodução.

Agora, pense comigo, se esse pinguim, com uma perna que não chega a 10 centímetros, é capaz de se deslocar por uma distância tão grande movido apenas por uma coisa, seu desejo.

Uma coisa muito importante é exatamente o compromisso que firmamos com nossos desejos. Incrivelmente deixamos nossos desejos de lado por absoluta infidelidade a nós mesmos. Acontece que esse comportamento gera em nós um sentimento estranho, um sentimento de querer algo e ao mesmo tempo, sentimos, por nossas crenças, que não podemos realiza-los.

Acontece que o desejo continua, mesmo diante das crenças de impossibilidade, a martelar incessantemente, mas como há a repressão do desejo, nasce então a angústia.

   Heidegger dizia que a angústia é aquela disposição fundamental que nos coloca diante do nada, ou seja, o sentimento de angústia invade quando, diante de um desejo que é reprimido, nos colocamos em um vazio, pois aquilo que se deseja e não se pode ter, devido as repressões autoimpostas, nos lança em um vazio que nos mostra o dilema entre desejar e buscar nossos desejos.

Frankstein, a obra de Mary Shelly, nos mostra exatamente isso, aquele homem, feito de pedaços de outras pessoas, que vive assombrado com o seu desejo e suas repressões impostas, não por outro motivo ela escreve:

          Meu coração fora tomado de angústia e desespero.

Dentro de mim, sentia um inferno, que nada podia aplacar.

 

Viver não é das tarefas mais fáceis, mesmo porque a vida não tem uma fórmula mágica, tanto que ao olhar livros de autoajuda, os títulos chegam a ser pérolas: 8 maneiras de ser feliz; 10 maneiras de ser feliz; Como ser feliz; Seja Phoda. Nada contra esses livros, mas se existisse uma receita que funcionasse para todos, não encontraríamos milhares e milhares de receitas para a felicidade.

E porque existe tanto livro assim? Porque as pessoas perderam a capacidade de firmarem compromissos com seus desejos, especialmente em um mundo onde os valores se tornaram complexos e muitas vezes contraditórios, permeando as pessoas com a incerteza, bem como com o medo do julgamento do outro por conta das redes sociais.

Não pretendo com esse texto lhe presentear com mais uma fórmula mágica para a felicidade, pelo contrário, o que tenho a dizer é profundamente aterrador: A receita para você é uma só e aplicável a todas as pessoas, que é a fidelidade, mas digo da fidelidade para consigo mesmo, para com seus desejos.

Nota que a fidelidade, nunca é para com o outro, a fidelidade é um valor para dentro de si. Sim, quando há uma traição, a pessoa não trai o outro, ela trai a si própria. Em um casamento, quando há a promessa que fazemos para nós mesmos que seremos fiéis, esse compromisso não é o que assumimos com a outra pessoa, mas sim o que assumimos conosco.

A fidelidade é um valor que liga quem fomos a quem somos. Ela alinha nosso discurso do passado ao nosso momento atual. Pois se em nossa vida tudo muda, também nossas células mudam, nossos sentimentos mudam, nossos pensamentos mudam. Assim, nosso único porto seguro, que nos mantém ligeiramente protegidos, é a fidelidade a nós mesmos, pois sem ela nos desatracamos em meio a um mar bravio e sem saber para onde vamos, como vamos e se vamos chegar, nascendo assim a angústia.

Sabe, o pinguim não se angustia porque ele tem compromisso ético com seu desejo e é fiel a isso, por tal razão ele caminha 700 quilômetros por ano, simplesmente porque ele deseja isso, não se importa com a distância,

Nossos desejos são como os passos do pinguim e, tal como eles, precisamos de caminhar rumo aos nossos objetivos, ainda que cada dia demos pequenos passos, ao final de um ano, teremos caminhando bastante, ao final de uma vida, teremos dado voltas e mais voltas em torno do planeta.

Desejar é fazer compromisso ético com você e um ato de fidelidade, lembrando-se de que somente através da fidelidade a nós mesmos é que conseguimos ligar nosso passado com nosso presente e construir um futuro onde nossos desejos sejam realizados e mais, onde nos tornamos livres do inferno da angústia. Afinal de contas, como diria Jacque Lacan: “Se existe um objeto de teu desejo, ele não é outro senão tu mesmo”. Portanto, seja mais pinguim…

Sigam o autor no Insta @robsonpribeiro.

 

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