Fim de Ano e a 2ª Onda

Ano 2020Estamos entrando em uma época do ano na qual muitos esperam ansiosamente, Natal e Ano Novo. Para muitos é tempo de celebrar o ano que passou, as conquistas, as vitórias, repensar aquilo que não deu certo, construir sonhos, repensar metas, enfim, um momento em que fazemos um balanço de nossas vidas.

Acontece que, nesse ano temos uma nova vivência, uma nova experiência, estamos em um momento em que praticamente nenhuma pessoa viva no mundo passou. Eventos semelhantes foram as epidemias de escarlatina e da gripe espanhola. Assim, a população mundial em sua imensa e esmagadora maioria nunca tinha se deparado com um evento semelhante, uma ameaça causada por um fator da natureza, algo incontrolável.

Importante destacar que não estou excluindo de minha análise os fatores da primeira e segunda guerras mundiais e tudo que causaram na população, especialmente nos teatros de batalha, ou mesmo nas regiões conflagradas como na África, Oriente Médio para não dizer de todos os cenários. Mas nesses locais o fator Homem foi e tem sido fundamental para a construção dos sentimentos que atingem a população.

Lembro-me da música da Simone “Então é Natal”, nela a cantora começa com uma pergunta avassaladora para os tempos atuais: “Então é Natal. E o que você fez?” Se não bastasse esse questionamento, ela continua com uma afirmação fortíssima: “O ano termina e nasce outra vez” e isso nos faz pensar sobre a nossa vida.

O que 2020, ou como diria o Leandro Hassoun 2000 e vixi!, tem de novo? Ele trouxe à tona algo que ninguém estava preparado, ou seja, um momento em que as pessoas se confraternizam, mas como fazer isso em plena pandemia? Como reunir com a família, amigos em torno de uma ceia para comemorar o nascimento de Cristo ou a passagem de ano?

Este momento que era absolutamente de encontro, onde o passado e o futuro se encontram, onde amores das mais diversas formas se comungam em um mesmo espaço, onde sempre renovamos nossas crenças em um ano melhor através desse mútuo abraço que nos damos fisicamente falando, como fazer isso agora, especialmente para um povo que tem a necessidade de contato? Que dinâmicas usar? Qual o sentido do Natal? O que virá em 2021?

A pandemia colocou na ordem do dia a necessidade do afastamento, colocou diante do brasileiro um ponto muito grave que é a vedação ao contato, ao aperto de mão, ao abraço, beijo, enfim, distanciou o brasileiro, afastou famílias, filhos sem ver seus pais, netos sem acesso aos avós, e N outros fatores.

E diante disso tudo, o que fazer? Como passar por esse período de uma forma menos dolorosa? Por incrível que pareça as respostas são mais óbvias do que parecem, aliás como na maioria das situações, a resposta é óbvia e nós é que ficamos criando dificuldades na maior parte das vezes.

Em primeiro lugar, quero te fazer um convite, pense em tudo que você passou esse ano, olhe, note que apesar de tudo, se você está lendo esse texto é porque você passou por tudo até agora, com maior ou menor dificuldade, mas passou. Você está terminando um ano que em março parecia que não teria fim e mesmo assim você venceu. Você se adaptou, você em alguma medida, ainda que tenha passado por mudanças intensas em sua vida, seja por ingressar em um home office, seja por perder um emprego, mesmo assim você está aqui. E há um dia a mais para lutar, olhe quantos caíram, quantos não sobreviveram, quantos entraram em sofrimento mental agudo e você, ainda que aos trancos e barrancos, continua mais ou menos de pé.

Temos a tendência de pensar no quadro acima como uma derrota, mas na verdade é uma vitória. Aqui não estou falando como auto ajuda, mas como fato, pois nenhum de nós tinha ferramentas prontas para lidar com o que está acontecendo e tivemos que desenvolver, cada um no seu modo particular, um mecanismo de enfrentamento e isso, por si só, já é uma vitória.

O ano de 2020 foi um ano em que nos tornou mais forte, tal como acontece com as árvores, cujos cortes na casca fazem com que ela se engrosse e fique mais resistente. Esse ano nos fez isso, nos tornou mais fortes para o que virá adiante.

Mesmo para os que aprofundaram em um quadro depressivo, acredite, mesmo esses não foram derrotados, pois a depressão, ainda que dolorosa é sinal de que a pessoa não desistiu da luta. A desistência é vista em um outro lugar, a chamada melancolia, onde a pessoa não quer mais lutar e a desistência da luta é que se torna a verdadeira derrota, como diria o ditado, não está morto quem peleia.

Assim, a minha primeira sugestão para as pessoas passarem com mais leveza por esse período tão intenso é justamente valorizar as vitórias que tiveram, nem que seja somente a vitória de ter vencido esse ano, só isso já seria o bastante para acreditar que o sol vai nascer de novo, que as coisas vão se encaixar.

Uma outra coisa é a impossibilidade de nos reunirmos com aqueles que amamos, muitos só se encontram fisicamente nesta época do ano, famílias que se espalharam pelo mundo, nessas datas, se encontram. Como lidar com isso diante da impossibilidade de viagens ou mesmo pelos riscos de agrupamentos?

Novamente a resposta é simples e passa por uma questão de utilizar as ferramentas que possuem, assim, aplicativos de mensagens, aplicativos de reuniões, tudo isso pode ser empregado para que as pessoas se congratulem nesse ano.

Alguns vão dizer, mas não é a mesma coisa, não tem o calor humano do contato, a troca de presentes, enfim, não tem o tradicional natal ou réveillon. Sim concordo, mas 2020 não foi um ano normal, não foi um ano típico, pelo contrário, situações diferentes implicam em resoluções diferentes.

Novamente tudo é uma questão de ponto de vista, claro que eu ansiava estar reunido com toda a minha família, mas diante da impossibilidade podemos ficar chupando o limão azedo e sem doce ou pegar o limão e fazer uma bela limonada, suave e refrescante.

Sei que não é a mesma coisa, sei disso, mas tudo é uma questão de referencial. Podemos escolher lamentar a falta do outro ou comemorar que se a pandemia tivesse ocorrida a mais ou menos 20 anos atrás, tais possibilidades de encontros virtuais não existiam. Então, vamos aproveitar a tecnologia e fazer dela uma ferramenta para a nossa limonada.

O amor, o verdadeiro amor, não está na presença da pessoa. Imagine, a morte, em algum momento de sua vida, já levou uma pessoa que você ama, será que seu amor por essa pessoa deixou de existir porque o corpo dela não está mais entre nós? Certamente que não. Com a morte aprendemos a lidar com o amor em uma outra dimensão, onde o amor se liberta da cegueira da carne e fica somente no coração. Um filho que perdeu seu pai não deixa de amá-lo. Um neto que perdeu seu avô da mesma forma. Até mesmo o amor dos pais que eventualmente perdem um filho também não termina com o perecimento da pessoa.

Diante disso, penso que 2020 nos ensinou que podemos amar sem o contato físico e se podemos fazê-lo dessa forma, também é possível sentir o amor através do meio virtual. É possível viver esse sentimento, e muitas vezes, nosso erro é acreditar que somente é possível sentir o amor com a pessoa ao lado fisicamente falando, isso não é verdade.

Assim, penso que o uso das ferramentas tecnológicas que temos hoje é fundamental para o enfrentamento deste momento. E o que esperar para o ano de 2021? Como encará-lo?

A receita novamente é simples, a palavra para o ano 2021 é adaptação, é você ser capaz de se adaptar, tal como foi no ano que está acabando. Uma dica que sempre dou aos meus pacientes é viver um dia de cada vez, como diria o ditado dos militares, sobreviver para lutar mais um dia.

Pense o ano de 2021 como o primeiro ano do resto de sua vida, um ano em que um mundo de possibilidades se abre para você. Um mundo em que você poderá construir e reconstruir seus sonhos, pois 2020 nos ensinou que dinheiro, poder, fama, nada disso tem valor. A pandemia levou embora tanto ricos como pobres, pretos ou brancos, não poupou ninguém, assim, lembro da última disposição de vontade de Alexandre, O Grande.

Com a morte à espreita, Alexandre percebeu como suas conquistas, seu grande exército, sua espada afiada e toda a sua riqueza eram de pouca importância. Desse modo, o poderoso conquistador quedou-se prostrado e pálido, impotente à espera de seu último suspiro.

Ele chamou seus generais e disse: “Vou partir deste mundo em breve e tenho três desejos, por favor, realizem-nos sem falhas”. E os generais concordaram em cumprir a última vontade de seu rei.

1º pedido: Que seu caixão fosse carregado pelos melhores médicos da época.

2º pedido: Que os tesouros que tinha fossem espalhados pelo caminho até seu túmulo.

3º pedido: Que suas mãos ficassem fora do caixão e à vista de todos.

Os generais, surpresos, perguntaram quais eram os motivos de tais pedidos e ouviram as seguintes respostas:

1º) Eu quero que os melhores médicos carreguem meu caixão, para mostrar que eles não têm poder nenhum sobre a morte.

2º) Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros, para que todos possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui ficam.

3º) Eu quero que minhas mãos fiquem para fora do caixão, de modo que as pessoas possam ver que viemos com as mãos vazias, e de mãos vazias voltamos.

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Leia outros artigos do Robson na coluna Bastidores de você!

Fim de ano

 

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