As escolas e o desafio de formar seres ‘humanos’

Foto: Divulgação/Colégio Marista João Paulo II
A tecnologia vem contribuindo para o aumento da competitividade tanto no mercado de trabalho quanto na vida pessoal. Com isso, a saúde mental vem sendo afetada. Felizmente, várias instituições de ensino seguem reforçando os valores humanos, além de oferecer suporte emocional aos alunos

 

Inteligência artificial, carros autônomos e aplicativos para quase tudo. A tecnologia se encontra em tantos lugares e proporciona diversas facilidades. Entretanto, ao mesmo tempo, a nova era trouxe mais ansiedade, estresse e relações instantâneas. Afinal, atualmente, é preciso ser ou parecer ser inovador ou extraordinário. 

As mudanças vividas despertam alguns questionamentos: como ser mais ‘humano’ nesse universo? Será que a empatia, solidariedade são sentimentos que ainda cabem no mundo dos bits? Como superar a superficialidade das redes sociais?

A escola pode ajudar a responder a estas questões. Felizmente, muitas já perceberam as mudanças provocadas pela tecnologia e entenderam que a formação humana é uma prioridade.

Alunos da Escola Arara Azul. Foto: Divulgação

Entre as instituições de ensino com essa preocupação está a Escola Arara Azul, que atualmente atende alunos desde seis meses de idade até estudantes do 3º Ano das Série Iniciais do Ensino Fundamental.  A diretora pedagógica, Niara Borges, conta que o colégio visa respeitar a individualidade de cada estudante, afinal, cada um apresenta habilidades diferentes, ao percebê-los assim, a “escola enxerga o aluno em sua totalidade”.

Para seguir desenvolvendo as habilidades e formação humana de cada estudante, o colégio vai implementar neste ano letivo o programa socioemocional Pleno, que apresentará atividades semanais baseadas em uma abordagem interdisciplinar. “Desenvolveremos projetos pedagógicos direcionados de acordo com a faixa etária, jogos e práticas educacionais, por meio de uma plataforma, desenvolvendo no aluno um projeto de vida, com base na conexão com o mundo digital”, explica Niara.

 

Vice-diretor do Marista reforça que a instituição quer ajudar os alunos a construírem os seus projetos de vida. Foto: Raquel Paternostro

Outro exemplo é o Colégio Marista João Paulo II. A instituição,  que nasceu na França, vinte anos após o fim da Revolução Francesa (1789-1799), mantém até hoje o compromisso de formar bons cristãos e virtuosos cidadãos. 

Seguindo essa missão, foi criado o Projeto de Vida, que, como relata Luiz Gustavo Mendes, vice-diretor, “tem sua centralidade no sujeito, ou seja, busca ajudar os estudantes a se autoconhecer para poder, depois, fazer escolhas na vida, como a da profissão, por exemplo. Em nosso projeto, os estudantes possuem tempo para a reflexão e são convidados a viverem experiências de atuação em diversas atividades, tais como: voluntariado, iniciação científica, simulações de organismos nacionais e internacionais, monitoria, dentre outras. Após cada vivência, o estudante tem um tempo para avaliar a experiência a partir do seu projeto de vida.” 

Gotas de Amor

Os jovens estão chegando ao ensino superior desestimulados e cansados. Ao se deparar com essa realidade, a professora de Educação Física do UDF, Suliane Beatriz Rauber não entendeu essa situação, pois para ela, a faculdade representa “evolução, oportunidade e mudança. Como assim, estar aqui com raiva e triste?”, relata.

Deste incômodo de ver os estudantes com pouca qualidade de vida, surgiu o Gotas de Amor. Projeto de extensão do UDF que promove ações voltadas para o autoconhecimento, a auto-estima, além de melhorar o engajamento acadêmico e gerar uma onda de felicidade entre os alunos. O programa ainda atende o público externo, entre as ações estão o desenvolvimento humano de adolescentes e o acolhimento de mulheres em tratamento de dependência química.

Foto: Divulgação/instagram

Oficinas de reiki, aulas de yoga meditação e atividades simples, como distribuir abraços estão transformando a vida dos alunos do UDF. “As doenças mentais estão aumentando exponencialmente e a gente assistindo. Por isso existimos, para frear um pouco esses dados e ajudarmos as pessoas a serem mais felizes. O ambiente universitário é permeado por muitas demandas e queremos ajudar os estudantes a superarem os desafios com mais leveza. Além disso, como podemos formar profissionais que já chegam ao mercado adoecidos? Isso é incongruente e insano”, relata Suliane.

Pressões

A pressão é uma constante na vida de todos. Os pais não estão imunes, assim acabam cobrando os filhos para seguir uma determinada carreira, por exemplo. Por isso, Luiz Gustavo Mendes defende que: “é preciso respeitar cada projeto de vida. E o mundo atual apresenta diversas alternativas para a realização desse projeto. Foi-se o tempo em que o único caminho para o sucesso era o da universidade. Claro que este caminho ainda é uma possibilidade, na verdade continua sendo a maior possibilidade, mas a cada ano novas opções surgem, como intercâmbios, ações de empreendedorismo e voluntariado”.

A professora Suliane também percebe o aumento da competitividade e entende que é preciso ter as ferramentas certas para enfrentar os desafios atuais. “Acreditamos que a gestão emocional e a formação pautada em valores e virtudes devia ser obrigatório na educação como um todo, pois ajudaria a promover uma cultura de paz no mundo. Afinal, nos ensinam tantos conteúdos, mas não nos ensinam aquilo que vamos fazer pra vida toda: compreender e gerir as nossas emoções e interagir com o ser humano sendo humano”, defende.

Um olhar especializado

Foto: Divulgação

Dedicado a realizar palestras para pais e filhos, o psicoterapeuta Guilherme Davoli entende que a tecnologia trouxe um distanciamento entre as pessoas e que “o diálogo, que é a base da saúde mental precisa ser reaprendido e para tanto os medos e isolamentos sociais precisam ser vencidos pelos adultos, inclusive como modelos para seus filhos”.

A ansiedade e a depressão são duas doenças mentais que colocam o Brasil em destaque no ranking da Organização Mundial da Saúde (OMS). Davolli alerta aos pais que “os quadros podem variar de pessoa para pessoa, mas acredito que de forma bem resumida e objetiva, os pais precisam se ater aos excessos, quer de agitação e/ou isolamento. Buscar conhecer os grupos de seus filhos e dialogar de forma frequente com a escola deles. O bom sempre está na somatória de equilíbrio, diálogo e utilização das oportunidades.”

O psicoterapeuta também conta qual a maior reclamação dos jovens: “comparações com seus pares, quer colegas ou mesmo aqueles da vida virtual”. O conselho dado aos pais é: “nesse contexto, cabe aos pais a busca de uma linguagem que gere aproximação pois do contrário, o mundo externo acaba preenchendo e respondendo as indagações desses jovens.”

Acolhimento na escola

O vice-diretor do Colégio Marista João Paulo II reafirma que os educadores estão prontos para ajudar estudantes e famílias, e além disso estão à disposição dos alunos, pois quando eles “são são ouvidos, ajudados a fazer boas escolhas e respeitados em suas escolhas, sobra menos espaço para ansiedade, depressão e outros males que assolam a sociedade atualmente”.

Pais? Presente! A Escola Arara Azul tem um calendário de palestras para os pais. Foto: Divilgação

Na Escola Arara Azul, os alunos também contam com o acolhimento dos professores. Niara Borges aproveita para explicar como o aprendizado acontece, “o cérebro precisa se emocionar para aprender. Portanto, tudo que somos, pensamos, sentimos e aprendemos é o resultado de constantes interações com o corpo (a psicomotricidade), com o outro e com o meio. Assim, a equipe pedagógica da escola adapta as relações humanas como prioritárias para acolher, observar e mediar situações comportamentais”. 

Atendimento na Universidade

Promover a saúde mental dos estudantes e da comunidade externa se tornou uma prioridade dentro da Universidade de Brasília (UnB), que entendeu a importância de cuidar da mente e das emoções, afinal, o ambiente acadêmico pode se apresentar de forma hostil para muitos estudantes.

Vinculado ao Instituto de Psicologia (IP), o Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep) presta atendimento à comunidade com profissionais do quadro, estagiários do curso de Psicologia além de voluntários. Todo o trabalho é supervisionado por professores do IP.

Quem precisa de atendimento, pode ligar para o número (61) 3107-1680 às segundas-feiras, a partir das 8h30. A previsão é que novas vagas para agendamento serão abertas em março. O serviço é aberto para a comunidade acadêmica, mas também para a comunidade externa de baixa renda.

Foto: Secom/UnB

Dentro das ações voltadas à promoção da saúde mental está a roda de Terapia Comunitária Integrativa. O encontro é um espaço seguro para o compartilhamento de experiências, escuta e acolhimento. Aberto à comunidade, a roda acontece toda semana nos três Campi e durante as férias na UnB, os encontros serão ofertadas a partir do dia 27 de janeiro.

Roda de Terapia – A partir do dia 27/01
Campus Darcy Ribeiro: segundas-feiras, das 12h30 às 14h, e às quartas-feiras, das 18h às 20h, na sala da CoAP – AT 149/19, no ICC Sul.
Campus Ceilândia: quintas-feiras, das 12h30 às 13h30, na sala A1 42/40, do prédio UAC.
Campus de Planaltina: segundas-feiras, das 12h30 às 13h30, na praça Rebendoleng

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