Vacina da UFPR: testes em humanos podem começar no próximo semestre

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Foto: Marcos Solivan/Sucom UFPR

Mais barata e usando biopolímeros, a vacina da UFPR contra a covid-19 pode estar disponível em 2022 

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) confirma que a vacina contra a covid-19 desenvolvida pela instituição está em fase pré-clínica e espera que os testes clínicos, realizados em humanos, comecem em seis meses. O anúncio foi feito em uma coletiva de imprensa realizada na tarde desta segunda-feira (26).

Dependendo dos resultados dos testes pré-clínico e clínico, o imunizante, que usa insumos nacionais e biopolímeros, pode estar disponível para a população no próximo ano. 

As vantagens da vacina paranaense

De acordo com os pesquisadores, o imunizante apresenta diversas vantagens: grande potencial para ativar o sistema imune, baixo custo, independência tecnológica e versatilidade, pois a vacina poderá ter uma versão em spray nasal. 

A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores da UFPR se mostra promissora, isto porque os primeiros testes indicam que o imunizante apresentou “o nível (da vacina) é igual ou superior a vacina da Astrazeneca”, disse o professor Ricardo Marcelo Fonseca, reitor da instituição.

Os professores Emanuel Maltempi de Souza e Marcelo Müller dos Santos estimam que as doses possam custar entre R$ 5 a R$ 10, os valores contemplam os custos dos insumos para a fabricação das doses. Eles ainda falaram que há uma dificuldade em comparar os custos com outros laboratórios, mas entendem que o imunizante do Paraná apresenta um valor muito menor. 

Os docentes explicaram que todos os insumos utilizados para a fabricação da vacina podem ser produzidos no próprio estado do Paraná, assim, evitaria-se a dependência de outros países, pois não haveria a necessidade de importação do Insumo Farmacêutico Ativo. “Seríamos completamente autossuficientes”, afirma o professor Souza. 

A vacina poderá ter uma versão spray e assim, poderá ser aplicada via nasal. Esse formato contribui para a imunização local, pois segundo os pesquisadores, essa forma reduz a possibilidade de transmissão e o vírus que entra pelo organismo pelas vias respiratórias, e como as pesquisas mais recentes indicam, a transmissão se dá majoritariamente por aerossóis ou por partículas no ar. 

“Se nós tivermos uma proteção nas vias respiratórias, isso impede que o vírus se dissemine no organismo”, explica Souza.

Investimentos na pesquisa

Para o prosseguimento da pesquisa, a UFPR já conta com um convênio com o governo do estado do Paraná. O investimento prevê o aporte de R$ 995 mil por meio da Unidade Gestora do Fundo Paraná (UGF), vinculada à Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), sendo R$ 700 mil para compra de equipamentos e custeio da pesquisa e R$ 295 mil para pagamento de bolsas para pesquisadores em pós-doutorado. Em contrapartida, a UFPR investirá R$ 35 mil na solução. 

De acordo com a instituição, o total do investimento viabiliza a conclusão dos testes pré-clínicos, previstos para ocorrer nos próximos meses. “É só com investimento em ciência e tecnologia que podemos chegar a resultados. Estamos otimistas e esperançosos”, afirmou o superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Aldo Nelson Bona.

A pesquisa conta com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), no valor de R$ 230 mil. 

Entretanto, durante a coletiva, os pesquisadores se mostraram preocupados com o corte recente feito pelo Palácio do Planalto, que pode atrasar o desenvolvimento das vacinas brasileiras. Sobre esse assunto, o superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, Aldo Nelson Bona destacou a necessidade das parcerias para manter o investimento nas pesquisas e lamentou o veto de 200 milhões no orçamento para pesquisas de vacinas no Ministério de Ciência e Tecnologia.

Tecnologia utilizada

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Foto: Marcos Solivan/Sucom UFPR

Diferente das vacinas atuais contra a covid-19, a da UFPR utiliza biopolímero e a proteína sintética. O professor Emanuel explica que os polímeros produzidos por bactérias já eram estudados para uso na medicina, mas como plásticos, então, “notamos que algumas proteínas são capazes de se ligar ao plástico”, disse.

Com isso, os pesquisadores colocaram a proteína na superfície do biopolímero. Assim, não é necessário o uso do coronavírus e a proteína utilizada é produzida pela bactéria Escherichia coli.

De acordo com Souza, essa configuração de nanopartículas induz o organismo a uma resposta eficaz. “O corpo tende a reconhecer a partícula, desmontá-la, pegar as partes que são sensíveis e fazer anticorpos contra elas. Por isso, é importante que estejam nesse formato”.

Para quem possa achar estranho o uso de um plástico, o professor reforça que o polímero utilizado é biodegradável e biocompatível, ou seja, não tem efeitos tóxicos no organismo, conforme explica o professor. “Se injetamos esse material em uma pessoa, não se espera nenhuma resposta. Agora, se recobrirmos com as proteínas do vírus, teremos uma resposta só contra essas proteínas”.

Fases da pesquisa

Atualmente, os pesquisadores dependem de três ensaios para avançar para os testes clínicos. O primeiro deles é o de neutralização, em que se busca verificar por quanto tempo o nível de anticorpos permanece alto no organismo dos animais. Além disso, é necessário comprovar se esses anticorpos são capazes de bloquear a infecção pelo vírus, o chamado efeito neutralizante. “O que estamos vendo agora é quanto tempo dura essa resposta, para determinar se os efeitos da vacina são transitórios ou duradouros”, explica o professor da UFPR.

O ensaio seguinte será o de proteção animal, em que se verificará qual é a melhor dose da vacina para proteger o organismo. Para isso, os animais, vacinados ou não, serão expostos ao vírus vivo.

Por fim, o teste toxicológico verificará se diferentes concentrações da vacina poderão trazer efeitos colaterais ao animal de forma global, tais como febre, danos ao sistema hepático ou renal. Só com o ensaio toxicológico concluído é que será possível solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a autorização para o início dos ensaios clínicos.

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