Cara leitora ou caro leitor,
Já diria a canção de Renato Russo: “Se você quiser alguém em quem confiar. Confie em si mesmo”.
Por que você está começando a coluna assim?
O motivo é simples. Estamos vivendo em um caos com a quantidade de informação que nos chega a cada segundo. Será que conseguimos processar todas essas informações, qual nos diz a verdade e o que é verdade afinal? Talvez seja o momento de duvidarmos de tudo ou de quase tudo. Bom, nada como começar a semana filosofando.
Na coluna de hoje, vamos conversar sobre o controverso palco político nacional e sobre o polêmico documentário “Plandemic”.
Política
Resolvi começar com a polêmica de casa. A nossa tão controversa política de todos os dias. Os últimos capítulos foram movimentados, melhor que qualquer trama das nove. Tivemos o depoimento do Moro, presidente atravessando a rua, o tal fake churrasco, e Regina Duarte.
Sergio Moro
Não me surpreendeu o depoimento que foi divulgado. Afinal, apenas tivemos a confirmação do que foi dito no dia da demissão. A frase que mais repercutiu foi a do pedido do presidente para ter a superintendência do Rio de Janeiro. Alguns alegam que essa atitude teria ligação com o caso Marielle Franco. Eu não sei de nada, só sei que tudo me parece um tanto estranho.
Logo depois que o depoimento se tornou público, o presidente na porta do Alvorada mostrou o celular para a imprensa. E eu volto a me sentir como se eu estivesse no meio da briga de dois irmãos:
– Então, mãe, mas ele disse isso!
– Mentira, tá aqui a prova!
E quando isso acontece, alguns pais colocam os dois de castigo e pronto.
STF
Ainda sobre a última semana, o presidente foi até o STF com ministros e empresários. Aqui eu peço licença para fazer uma versão lúdica da situação. Ou seja, essa parte tem um ponto de verdade e muita ficção, ok?
Era uma tarde agradável em Brasília e o presidente aproveitou para receber vários representantes do setor produtivo. As vozes pediam uma solução para a economia e tudo pela sobrevivência dos negócios. A resposta do líder do Planalto era pela reabertura e pelo fim do distanciamento social. Mas como isso poderia ser feito? Com o poder da caneta? E eis que aí que os distintos senhores decidiram fazer a travessia. O sol não os incomodou durante o trajeto. Poucos minutos depois, eles estavam no Palácio da Justiça. A visita não estava programada, mas o grupo foi recebido e pode questionar: Justiça, precisamos retomar os trabalhos, o país não pode interromper o progresso econômico. Que tal pararmos com essa coisa de quarentena?
Voltando para a realidade. O ato não deu certo. O STF não mudou de opinião por conta da visita. Os estados seguem com autonomia para definir as políticas de distanciamento, isolamento, quare… E já estamos vivendo o lockdown (trava-rua) em algumas cidades do país.
Alguns analistas que acreditam que o judiciário terá um papel importante dentro da crise política. Como assim? Na gaveta da Câmara dos Deputados, os pedidos de impeachment se acumulam e seria o capital político do bolsonarismo – que fez muitos eleitos e com recorde de votação – que estaria impedindo o início do processo. Assim, acredita-se que o STF pode pedir a investigação e tirar o peso dos congressistas. Entende?
Manifestações e Churrasco
Quando eu vejo as manifestações na Esplanada, bom, a minha sensação é seguinte: ainda estamos em período eleitoral? Então, vocês já ganharam a eleição, sabiam? Agora é o momento de transformar o discurso em ação.
Seguimos com a polarização, seguimos com esse jogo de tensão e retração.
De um lado os com camisa da seleção e de outro, os camisas vermelhas ou de outras cores. Já disse, a polarização não nos traz nenhum benefício. A ideologia pode ser diferente, e tudo bem, mas o ‘bem comum’ precisa superar essa briguinha. Eu sei que entender o que é o bem comum atualmente é uma tarefa quase impossível.
E neste contexto ainda surgiu a história que o presidente estava organizando um churrasco no Alvorado. Defesas e críticas foram feitas. No fim das contas, a festa foi cancelada ou melhor, nunca existiu, foi uma fake news.
Regina Duarte
Perdoe-me, mas é preciso falar de Regina. Percebo que o discurso que ela vem adotando é um tanto delicado. E cada palavra dita por ela inflama alimenta a fogueira das polêmicas e o resultado não pode ser positivo.
Vamos refletir sobre alguns pontos da entrevista concedida à CNN na última semana.
Ninguém quer que a Secretaria de Cultura vire um obituário, mas saudar a memórias dos artistas que perderam a vida, não seria importante?
Sim, a vida e a morte estão ligadas. O começo e fim estão dentro do mesmo ciclo. O que começa, termina. Acredito que entender a morte como um processo natural é um ponto importante. Pois, ao entender que somos mortais, passamos a dar mais valor a nossa existência. Contudo, acredito que devemos evitar a banalização da morte, que acontece quando tratamos a perda de vidas como números. Os números são frios e escondem a verdade, cada número tem uma história, uma família, um trabalho, um amor… Faz sentido para você?
Sigamos. No meio da entrevista, Regina cantou “Pra frente Brasil”. A música da Copa do Mundo de 1970. E a secretária se mostrou admirada quando questionada, afinal, com qual o problema da Ditadura? Bom, qual o problema do Regime Militar? Consigo pensar em alguns: censura, tortura, morte, corrupção…
Alguns analistas comparam a ditadura brasileira com os vizinhos, Argentina e Chile, e dizem que a nossa foi ‘branda’.
Em 2012 ou 2013, não me lembro ao certo o ano, mas eu estive no Ministério da Justiça fazendo uma matéria sobre os arquivos da ditadura. Lembro de ouvir os depoimentos dos parentes das vítimas do regime. Para eles, a ditadura foi um período sombrio e triste da nossa história. Cada vida importa, relativizar um período por causa dos números leva a banalização, e minimiza o horror que cometemos ou que testemunhamos.
Pois bem, percebi o quanto as cobranças irritaram a secretária durante a entrevista. Uma pena afinal todos nós somos cobrados. Falei da morte acima, e acredito que a segunda certeza da vida é a cobrança. Ela vem de todos os lados, da sociedade, do trabalho, dos boletos…
Imagine você, se pudéssemos ter aquela reação quando as cobranças batessem à porta.
“Plandemic”
Eu falei ali, no início do texto, questione tudo ou quase tudo. Dito isto, falemos de Plandemic.
O vídeo viralizou nas redes sociais nos últimos dias. Com uma estética de documentário, a produção traz a versão da doutora Judy Mikovits sobre o coronavírus.
A produção de 26 minutos foi retirado das redes sociais por trazer um conteúdo que viola as políticas de conduta, e por estar em desacordo com as orientações de saúde das autoridades. Mas é claro, que a cada vez que o vídeo cai, um novo upload é feito.
Eu vi o vídeo. Independente das acusações feitas, o que fica claro é o tal do óbvio ululante, preciso usar a expressão de Nelson Rodrigues. Existem seres humanos que são movidos pelo dinheiro e que colocam o interesse econômico acima de qualquer coisa.
Judy constrói o discurso nessa linha e lança argumentos que a pandemia é uma criação humana. Ela alerta para a existência de uma conspiração bem arquitetada para que governos e iniciativa privada lucrem com o coronavírus.
Claro que já existe o outro lado do outro lado. Ou melhor, se a Judy é o lado B, já existe o lado C. Ou uma atualização do lado A.
Primeira pergunta é quem é Judy Mikovits? No vídeo ela é apresentada como uma das grandes cientistas do seu tempo. Fato este questionado pelos veículos americanos. O Washington Post foi atrás dessa história e o que eles encontraram? Judy teria roubado dados e outros materiais do Whittemore Peterson Institute, onde ela trabalhou e por isso teve problemas com a justiça – no documentário, ela afirma que sofreu com uma ‘lei da mordaça’ e por isso teria sido presa. Em 2012, as acusações foram retiradas.
Já o USA Today reforça a desserviço mostrado no vídeo, afinal, tratamentos sem comprovação contra o coronavírus são destacados, e o uso de máscaras também é criticado.
Para quem quiser ler mais sobre o que diz, Judy, o livro dela Plague of Corruption: Restoring Faith in the Promise of Science (Children’s Health Defense) está entre os mais vendidos na Amazon.
É fácil encontrar críticos ao documentário na Internet, no entanto, os defensores também existem. Centro Dom Bosco, uma instituição de educação católica postou as provas das denúncias que foram feitas por Judy. Aproveite para ler.
No que acreditar então? As teorias conspiratórias, as verdades expostas (os vazamentos de informação confidencial) sempre foram uma constante na história da humanidade. Posso apenas te recomendar uma coisa: duvide de (quase) tudo, até deste texto.
Duvidar é saudável. Mas não se esqueça de seguir as recomendações médicas neste momento de crise de saúde pública. Como dizem: bom senso e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Até a próxima!