Sua criança interna

Olá, meus amigos! Você, adulto, deve ter achado estranho o título da nossa conversa semanal, mas ela tem todo sentido para a vida. Essa criança interior cuida de toda a sua vida, e estranhamente, insistimos em amordaça-la, escondê-la, enfim, colocamos nossa criança em um cativeiro no mais profundo recanto da mente e isso nos traz consequências para a vida adulta.

Quando falamos de psicanálise, cuidamos do adulto, mas no fundo estamos tratando é justamente dessa criança que habita em cada um de nós, que jamais é efetivamente abandonada e passa a ditar o discurso do inconsciente, discurso esse que, quando entra em choque com o mundo real, acaba levando ao surgimento dos sintomas que levarão ao sofrimento.

Conflito interno

O sintoma, quando surge na vida da pessoa é justamente o resultado deste choque de realidades: o desejo infantil do sujeito e as cobranças sociais exercidas contra essa pessoa. Falando psicanaliticamente, é o conflito entre o Id (porção inconsciente) com o superego (porção externa ao sujeito e que limita o exercício do desejo idílico).

Diante desse conflito, muitas vezes essa criança interior, acaba sendo ferida, pois em dados momentos preferimos esconder nossos desejos no fundo de nossa alma a encarar o compromisso de dar vazão a eles. Claro que alguns desejos não podem ser realizados, até mesmo porque as consequências seriam trágicas demais. Quantas vezes você sentiu um ódio tão profundo que desejou matar uma pessoa? Ninguém aqui está pregando que você deva dar vazão a esse desejo, por motivos óbvios.

Por outro lado, quantas vezes você não sentiu vontade de mudar de vida, trocar de emprego, de ter mais tempo livre para fazer aquela determinada atividade, mas não fez isso por medo do que iriam pensar a seu respeito?

Escondendo a própria essência 

Esse processo de esconder a criança interior faz com que você simplesmente “esconda” suas dores, bem como esconda as virtudes que essa criança traz consigo, fazendo com que a graça do mundo se torne oculta.

Nesse processo de ocultar a sua criança interna, você perde algumas coisas, perde a coragem de brincar sem preconceitos, de se alegrar sem se importar com o que o outro pense. Mas, o mais importante é que perdemos a coragem de cair.

Como assim? Coragem para cair? Sim, viver é arriscado, como uma criança que está aprendendo a andar de bicicleta sem rodinhas. Ela vai cair, certeza que vai, mas ela cai, sobe de novo e continua… Cai de novo, levanta e segue tentando. Quando aprende a andar, muitas vezes, começa ficar mais corajosa e sabe que pode cair, mesmo assim arrisca, cai de novo e continua a andar de bicicleta.

As falhas nos ensinam

Lembro de um tombo que tomei de bicicleta que me levou para o hospital, sim eu era uma criança arteira, saí do hospital, depois de um internamento e logo estava sobre ela novamente, descendo as ruas do meu bairro em alta velocidade.

Queria dizer para você que tombos, ralados, fraturas não acontecerão em sua vida, mas isso seria uma mentira sem tamanho. Tenho certeza que já aconteceram antes e que vão continuar a acontecer. Quero te perguntar: E daí? Vai doer? Sim! Vai ferir? Muito! Pergunto de novo: E daí? Sabe, deixa eu te contar uma coisa, não adianta colocar armadura, proteção. Nada disso resolve e vai lhe dar uma vida sem dores. Se armadura fosse sinônimo de proteção, os guerreiros da idade média que as usavam não morreriam em combate.

O resgate

Meu objetivo nesse texto é tentar fazer você começar a resgatar a sua criança interna, aquela que não temia a vida, que ia atrás de seus sonhos, que brincava sem se importar muito com o amanhã. Felizmente a vida é para ser vivida, temos que saber que não é só prazer, que haverá momentos ruins.

Os mais velhos vão se lembrar que quando ralávamos o joelho em um tombo, nossas mães passavam aquele antisséptico que todos temiam. Aquele que só de pensar já sentimos o ardor e a queimação do contato dele com nossa pele. Mas era necessário para evitar que o machucado infeccionasse.

A vida é assim, de vez em quando vai ser dolorida mesmo, em outros, teremos que passar um antisséptico ardido. Mas também tem momentos como quando fazíamos um gol na partida de futebol na rua, ou quando demos o nosso primeiro beijo, em que nossa felicidade ia nas alturas.

Quero convidar a você a olhar para o mundo do mesmo modo que fazia quando era criança e, assim, descobrirá que o mundo é muito mais simples. Está difícil se lembrar disso, pois bem, aproxima-se o fim de semana, convido você a assistir um filme antigo do Tom Hanks, “Quero Ser Grande” e verá que o grande sucesso da personagem principal é que ela nunca matou a sua criança interna.

Para os mais novos, quero lembrar de Frozen, quando uma das personagens diz: “E os medos que uma vez me controlaram. Não chegam nem perto de mim”. Em ambos os casos podemos concluir que a vida é para ser vivida e não algemada pelo medo de ser o que se é!.

Bom fim de semana a todos

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