Com a participação de especialistas, o 2°Open Day mostrou a evolução do sistema produtivo brasileiro e as vantagens competitivas do país no setor
A segunda edição do Open Day realizado pelo Comitê Brasileiro (CB) da Federação Internacional do Leite (FIL-IDF) reuniu especialistas para apresentar a evolução dos Sistemas de Produção utilizados no país.
Secretário Nacional do Comitê Brasileiro, Guillaume Tessier fez um breve discurso na abertura. Ele explicou o papel e falou também sobre as ações do Comitê Brasileiro da FIL, que tem a missão de fortalecer o setor produtivo nacional, além de atuar na inserção brasileira no contexto mundial.
Andrew Jones, coordenador do subcomitê de gestão de fazenda, sistemas de produção e conforto animal do CB-FIL/IDF, reafirmou o propósito do encontro: “é um dia aberto para tratar de um assunto bastante importante”. Ele ainda elogiou o trabalho que vem sendo executado tanto pelos produtores quanto pelos pesquisadores.
“O Brasil é o maior país em condições de produção em diversos sistemas”, Jones acrescentou, “somos um exemplo para o resto do mundo”.
Os interessados podem rever o 2° Open Day no YouTube do Comitê Brasileiro da Federação Internacional do Leite
Confira o resumo das apresentações do 2° Open Day
As características de evolução dos sistemas de produção de Leite no Brasil
O tema foi apresentado pelo analista da Embrapa Gado de Leite, Dr. José Luiz Bellini Leite. Durante sua fala no 2° Open Day Bellini apresentou com os dados da produção de leite no país, de 1996 a 2019, o especialista mostrou de forma clara e objetiva que neste período houve uma redução dos pequenos produtores de leite, no entanto, o país vem vivenciando, nas últimas cinco décadas um aumento importante na produção, no número de vacas leiteiras e na produtividade.
Sistemas de produção em países selecionados
Dr. Lorildo Aldo Stock, analista da Embrapa Gado de Leite, deu um panorama sobre a produção do leite no mundo. Para tratar deste tema, o especialista fez uma seleção levando em consideração os maiores produtores, exportadores, importadores e a América Latina.
Os 20 maiores produtores de leite no mundo em 2020 correspondem a 75% da produção mundial do alimento. Sendo que a Índia (25%) aparece liderando o ranking, seguida por Estados Unidos (11%), Paquistão (5%) e Brasil (4%).
A Índia também lidera no quesito preço. Segundo Stock, o país apresenta um dos maiores valores do produto no mundo, US$ 0,40, já no Paquistão, o valor é de US$ 0,36. Os americanos aparecem como um dos grandes exportadores de leite no planeta e a produtividade da vaca também é significativa, 10 mil litros de leite por ano, diz o especialista.
Olhando para a produtividade na América Latina, o Uruguai aparece na 54° posição do ranking mundial, “com o gado mais à pasto do que estabulado”, explicou. A Argentina é o 19° país e oferece um preço competitivo, já o Brasil, nos últimos anos, teve uma perda de vacas superior aos 19 maiores produtores de leite do mundo.
O mundo vive uma alta no preço líquido do leite, em três anos, o valor subiu cerca de dez centavos e o custo do concentrado, ou como disse Stock, “do alimento” também apresenta uma alta, mas de onze centavos. O aumento dos valores justificam a baixa taxa de crescimento da produção mundial.
Inovações disruptivas e os desafios da sustentabilidade e da pecuária leiteira 4.0
Na sequência foi a vez de Dr. Luiz Gustavo Pereira, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, que começou destacando a busca dos produtores e pesquisadores pelo aumento da eficiência bioeconômica, ou seja, produzir mais com menos e da melhor forma. Ele ainda ressaltou “nós estamos na Era da Informação, mas a gente nunca viu tanta gente desinformada, e eu queria quebrar paradigmas (com relação à sustentabilidade) e dizer que somos muito mais uma solução do que um problema para o aquecimento global”.
Pereira apresentou os dados dos Estados Unidos e Alemanha para sinalizar qual o caminho que o Brasil precisa seguir trilhando: reduzir o rebanho e aumentar a produção. Os americanos contam com 9 milhões de vacas e uma produção de 98 bilhões de litros. No Brasil, são 16 milhões de vacas e 35 milhões de litros.
“Hoje o mercado quer que atividade seja neutra. O Brasil tem o compromisso de reduzir em 30% até 2030, é um cenário desafiador, mas de oportunidade”, sinalizou.
Um dos paradigmas quebrados pelo especialista foi com relação ao metano. Ele esclareceu que o metano é o resultado da transformação do capim, rico em fibra, em leite. O gás é relacionado ao aquecimento global e muito se diz que as vacas estão acabando com o mundo, mas a emissão corresponde de 5 a 6%.
Outro ponto com relação ao metano, citando a pesquisa da Universidade de Davis, o especialista disse: “o gás metano não é acumulativo, ou seja, se tivermos uma redução no número de rebanho, a gente tem uma contribuição para o resfriamento global”.
Gestão eficiente de sistemas de produção de leite no Brasil
O diretor executivo do Grupo Araunah, Jônadas Ma, compartilhou a experiência dele enquanto produtor.
A sustentabilidade e o bem-estar animal também foram temas abordados na fala de Jônadas Ma, e uma apontou a tecnologia e o monitoramento para garantir que esses quesitos possam ser atendidos e como consequência, o resultado é o aumento da produtividade e a redução de perdas e da mortalidade do gado.
Uma projeção de produção ainda foi apresentada pelo diretor. Em 2026, ele espera ter uma produção diária de 40 mil litros, atualmente, o número está em 12 mil. Uma das raças aliadas dos produtores no país é o Girolando, pois “é uma raça brasileira que consegue se adaptar e permite altas produtividades”, disse.
Otimista, o diretor celebra a evolução do sistema e vislumbra um futuro promissor para as futuras gerações. Aconselhando futuros investidores ou produtores, ele disse que é preciso ter paciência e persistência pois, “a atividade leiteira é de alta rentabilidade, desde que gerida de forma profissional”, disse.
Casos de sucesso do Programa Balde Cheio
Na sequência, o especialista da Embrapa, André Novo, apresentou alguns resultados do Programa que fomenta o conhecimento técnico com produtores de todo o país, mostrando as melhores formas para aumentar a produção, independente do sistema ou da região em que se encontra o produtor.
Os números são do programa expressivos. André Nova trouxe alguns exemplos que indicam a importância do projeto.
Uma propriedade em Olho D’água das Flores em Alagoas, em um período de menos de três anos participando do Balde Cheio, saiu de 57 para 120 litros de produção diária. Já em Serra Negra, em São Paulo, o produtor tinha 200 e depois de 13 anos de trabalho, tem 1.500 litros e a produção por hectare é equivalente a 20 mil litros. Outro exemplo vem de Taquaruçu do Sul, no Rio Grande do Sul, em onze anos, a produção começou em 460 e hoje está em 4.750 litros.
Caso de sucesso de Sistema de Produção no Nordeste Brasileiro
Encerrando as apresentações dos convidados, Merinalvo Bezerra apresentou a evolução da produção leiteira do Nordeste brasileiro, que vem se destacando no país, ele ainda aproveitou para parabenizar os produtores do nordeste “que estão evoluindo acima da média nacional” e além da produtividade, a qualidade do leite produzido merece destaque, segundo Bezerra.
Na região Nordeste, as fazendas produtoras de leite utilizam a palma e esse formato possibilita uma produção sustentável, por ser de carbono zero, além da alta eficiência econômica.
Um dos desafios dos produtores hoje é com relação à logística. Merinalvo Bezerra explicou que o frete tem um custo maior e um dos fatores é a alta concentração de água do produto, e isto faz com que não se tenha competitividade logística, como acontece com o transporte de grãos.
Após os palestrantes terem respondido as respostas do público que assistiu o 2°Open Day ao vivo, o evento foi encerrado pelos diretores do Comitê Brasileiro da Federação Internacional do Leite Marcelo Bonnet e de Wilson Massote Primo, que sinalizou que o próximo encontro deverá ocorrer no primeiro trimestre de 2022.
*Conteúdo produzido em parceria com o www.terraviva.com.br