Pesquisa robusta utilizou informações mais de 140 mil pessoas em 21 países. O resultado aponta que o consumo de laticínios diminui a incidência de hipertensão e diabetes, além de outras doenças cardíacas
Conduzido pela doutora Balaji Bhavadharini, o estudo internacional aponta para uma nova evidência de que o consumo diário de laticínios pode reduzir o risco de doenças cardíacas. Foram estudados 147.812 indivíduos em 21 países. A pesquisa foi publicada no BMJ Open Diabetes Research & Care.
O tema não é novo na comunidade científica, tanto que pesquisas anteriores já sugeriram que ao aumentar o consumo de laticínios, a tendência é reduzir os riscos de diabetes e pressão alta. No entanto, os achados anteriores se limitavam a concentrar-se em populações localizadas na América do Norte e na Europa.
Então, o primeiro desafio do estudo foi ampliar as localidades observadas. Isto foi resolvido ao utilizar os dados do Prospectivo de Epidemiologia Urbana e Rural (Pure), tradução livre. Pois esta pesquisa traz informações de pessoas com faixa etária de 35 a 70 anos em 21 países, incluindo o Brasil. Outros locais do Pure: Argentina, Suécia, Filipinas.
Foram utilizados questionários de frequência alimentar para, nos últimos 12 meses, avaliar a ingestão habitual dos indivíduos. Os produtos lácteos incluíam leite, iogurte, bebidas de iogurte, queijo e pratos preparados com produtos lácteos. Também foram classificados como gordurosos ou com pouca gordura (1-2%). Todavia, os pesquisadores tiveram que avaliar a manteiga separadamente, pois, ela não é consumida com frequência em alguns países estudados, como por exemplo na China e na Malásia.
Outras informações coletadas foram: histórico médico pessoal, uso de medicamentos prescritos, escolaridade, tabagismo e medidas de peso, altura, circunferência da cintura, pressão arterial e glicemia em jejum.
Números da pesquisa
Cinco componentes da síndrome metabólica (SM: conjunto de doenças que elevam os riscos de doenças cardiovasculares) estavam disponíveis para quase 113.000 pessoas: pressão arterial acima de 130/85 mm Hg; circunferência da cintura acima de 80 cm; baixos níveis de colesterol (benéfico) de alta densidade (menor que 1-1,3 mmol / l); gorduras no sangue (triglicerídeos) superiores a 1,7 mmol / dl; e glicemia de jejum de 5,5 mmol / l ou mais.
A amostra inicial da pesquisa era de 153.220 participantes distribuídos em 21 países. Porém, destes apenas 147.812 foram considerados para o estudo pois tinham uma dieta diária entre 500 e 5000 kcal por dia. Durante a realização do estudo, os indivíduos foram contatados pelo menos uma vez a cada três anos. O contato aconteceu por telefone ou pessoalmente com pesquisadores locais. A saúde dos pesquisados foi acompanhada por, em média, nove anos.
A ingestão de lacticínios e ingestão de gordura do leite foram relacionadas a uma prevalência mais baixa da maioria dos componentes da SM. A redução pode ser 24% ou 28%, que acontece quando há o consumo de laticínios ‘gordurosos’, comparando com a não ingestão de nenhum produto lácteo.
Conclusões do estudo
Este estudo tem caráter observacional e deste modo não pode estabelecer uma causa definitiva. Os cientistas entendem que os questionários de frequência alimentar podem ser aplicados novamente, e as alterações na síndrome metabólica não foram mensuradas ao longo do tempo, o que pode ter influenciado os achados.
No entanto, os pesquisadores sugerem: “Se nossas descobertas forem confirmadas em ensaios suficientemente grandes e de longo prazo, o aumento do consumo de laticínios poderá representar uma abordagem viável e de baixo custo para reduzir (síndrome metabólica), hipertensão, diabetes e, finalmente, eventos de doenças cardiovasculares em todo o mundo”.