Era dos gamers e Tiktokers: até que ponto a vida online é saudável e estimula a criatividade?

Foto: Helen Mavichian

Há um bom tempo acadêmicos e especialistas discutem se o uso excessivo das redes sociais pode trazer problemas à saúde mental. A comparação da própria vida com a de outros no Instagram e TikTok, vinculado ao uso excessivo de eletrônicos, pode desencadear síndromes de ansiedade e depressão, dentre outras questões. Mas, em um mundo onde tudo é sobre o digital, a pergunta que fica é: como utilizar as redes sociais de maneira saudável, sem se desconectar totalmente do mundo, principalmente, no caso de crianças e adolescentes, que ainda estão em fase de desenvolvimento?

De acordo com um estudo publicado pelo Journal of Social and Clinical Psychology e realizado pela Universidade da Pensilvânia nos EUA, utilizar as redes sociais por até 30 minutos por dia pode trazer bons resultados à saúde mental. O estudo separou os alunos em dois grupos, um com tempo online limitado e outro livre. Aqueles que tiveram o tempo online limitado apresentaram uma melhora significativa no bem-estar, relacionada à diminuição das sensações de solidão e depressão. A ansiedade e o “medo de estar por fora dos acontecimentos” (em inglês, conhecido como FOMO – “fear of missing out”) também diminuíram. Em contrapartida, os estudantes que não tiveram tempo controlado, tiveram resultados negativos.

Identifique o uso excessivo de redes sociais

Mas, agora, a dúvida que ouço muito dos pais no meu consultório: como identificar síndromes de ansiedade, depressão e outras questões que o uso excessivo de redes sociais podem causar em crianças e adolescentes?

A recomendação é que os pais redobrem a atenção e observem quanto tempo os pequenos ficam conectados. Alguns sintomas ajudam a identificar questões como a ansiedade e a depressão, entre eles, problemas com o sono, agressividade, estresse, dependência, transtornos alimentares, problemas visuais, auditivos e de postura.

Uma ótima forma de ensinar o uso adequado e saudável das redes sociais para os filhos é pelo exemplo e também estimulando que os filhos realizem outras atividades que não necessitem de tecnologia como leitura, pintura, música, jogos e esportes. Combinar um tempo de uso de celulares e tablets pode ser uma boa estratégia, pois crianças podem ter dificuldades para compreender a passagem do tempo.

Para cada idade há um tempo de ideal de exposição a celulares

De forma geral, vale dizer que a exposição a eletrônicos não é recomendada para crianças de até 2 anos. Para crianças de 2 a 5 anos, é sugerido como ideal apenas 1 hora por dia de contato com os eletrônicos e entre 6 e 10 anos o recomendado são 2 horas. E, por fim, para crianças de 11 aos 17 anos é recomendado 3 horas. Lembrando que não são horas diretas, sendo recomendado dar um intervalo entre as exposições.

Alguns especialistas indicam que o ideal para que a criança ganhe um celular é entre os 9 e 10 anos, enquanto outros afirmam categoricamente que somente a partir dos 13 anos é que elas deveriam ter o seu primeiro celular. Seja qual for a idade escolhida, sempre deve permanecer o bom senso.

Acima de regras e controle de tempo, cabe lembrar que a educação pelo exemplo, assim como em outros assuntos, é importante para ensinar um uso saudável das redes sociais. Os pais têm muita importância na educação dos filhos, pois são responsáveis por legitimar ou rechaçar conhecimentos e valores adquiridos pela criança no processo civilizatório. Exercem, portanto, a principal mediação da criança com o mundo. Ou seja, muito mais do que palavras, o exemplo e a referência dos pais para os filhos é o pilar central quando o assunto é educar.

Outro ponto de atenção para os pais é o costume de “abrir exceções” quando estão em restaurantes e outras situações como viagens longas em que acabam permitindo que a criança extrapole o uso de telas para se distrair. O isolamento da pandemia também contribuiu para um aumento na frequência dessas “exceções”. Isso é muito prejudicial para a criança, uma vez que o cérebro vai ficando “preguiçoso” demonstrando resistência a outras atividades. A criança vai ficando impaciente e não consegue mais esperar, como se precisasse se ocupar o tempo todo e, assim, pode se tornar incapaz de se entreter sozinha, ficando assim angustiada.

Por fim, vale observar que os malefícios não estão restritos somente ao uso abusivo das redes sociais, mas sim ao contato com as telas digitais de forma geral. As consequências desse uso excessivo, como já foi dito, são questões como ansiedade, estresse, depressão, aumento da sensação de solidão e angústia. Pesquisas apontam que a superexposição a eletrônicos, no caso de crianças muito pequenas, pode causar déficit de atenção, atrasos cognitivos, distúrbios de aprendizado, aumento de impulsividade e diminuição da habilidade de regulação própria das emoções. É como se fosse uma distração passiva, em que as crianças acabam consumindo joguinhos e vídeos nas telas, algo prejudicial e bem diferente do desenvolvimento propiciado pelo brincar ativamente, um direito universal e temporal de todas as crianças em fase do desenvolvimento cerebral e mental.

Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita.

Contexto Livre é uma coluna rotativa, de assuntos diversos escrita por pessoas bacanas que tenham algo legal ou inspirador pra compartilhar.

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