A pergunta que tentarei responder é justamente o que faz uma pessoa a desenvolver um sentimento de ciúmes doentio, que chega ao ponto de estragar as relações pessoais.
A primeira coisa que vai sustentar ciúmes doentios é a baixa autoestima da pessoa ciumenta. Ela, em seu caminhar pela vida, por se sentir inferior aos outros, acaba desenvolvendo um medo quase que patológico de perder a pessoa amada. Desta forma, essa baixa autoestima vai desembocar em uma série de outros comportamentos que levam a condutas que são no mínimo questionáveis.
Há uma música do Charlie Brown Jr. que revela exatamente isso: “Perdoa meu ciúme, é só esse meu medo demasiado de que um dia você ache alguém melhor e coloque no meu lugar”.
O sentimento de baixa autoestima gera na pessoa, uma instabilidade emocional, pois isso implica em um medo de se perder a pessoa amada. Por conta desse medo, o ciumento desenvolve um sentimento de insegurança e para dar conta desta realidade hostil, o indivíduo encontra, como saída psíquica, o desenvolvimento de um sentimento no qual acredita que tenha o direito sobre o outro. Um sentimento de posse, tal como se o objeto de afeto fosse sua posse, sua coisa.
O ciúme deriva justamente dessa incapacidade de se sentir bom o bastante para seu parceiro, como na música do Charlie Brown Jr, criando fantasias de abandono, impotência, insegurança e que a qualquer momento a pessoa será trocada por algo melhor. Nota que do mesmo modo que o ciumento, como saída psíquica, coisifica o outro, também se coisifica, dessa forma sua insegurança somente aumenta, pois ao se comparar com o outro e se diminuir, o ciumento não vê motivos para que a pessoa se mantenha ao seu lado.
O ciúme provocará mecanismos para o sujeito proteger-se das eventuais perdas e a pessoa passa a se autorizar, em nome do medo e da dependência emocional, a controlar e dominar a vida do alvo de seus ciúmes. Neste sentido, Rubem Alves uma vez escreveu: “O ciúme é aquela dor que dá quando percebemos que a pessoa amada pode ser feliz sem a gente”.
Não estou aqui falando que a pessoa que sente ciúmes é vítima ou uma pobre coitada, mas quero alertar que, quem experimenta esse sentimento está na verdade em profunda dor, pois o mundo lhe é tão hostil que a pessoa acredita não ser digna do amor e do afeto do outro. Não se trata de seguir atentamente o que Ivete Sangalo disse em um dado momento: “Não precisa mudar vou me adaptar ao seu jeito, seus costumes seus defeitos, seus ciúmes, suas falhas”. Pelo contrário, a pessoa que é extremamente enciumada precisa de ajuda.
Isso ocorre porque, na verdade, o ciúme se manifesta através de um movimento que se assemelha a um arco. Desta forma, temos um primeiro momento uma tensão que é a crise de ciúmes. Ela é sucedida de um momento de relaxamento posterior, quando a coisa se esclarece. Acontece que pelo fato do sentimento estar ligado à baixa autoestima e seus desdobramentos, a tensão, através da criação de uma nova fantasia na mente do ciumento irá levar o sujeito a tencionar o arco novamente.
Todo esse movimento tensional possui uma base nos mecanismos psicológicos infantis do sujeito, especialmente nas questões de seu apego aos pais e ainda nos desdobramentos do Complexo de Édipo, que podem retornar na idade adulta. As frustrações decorrentes dessa fase da vida do sujeito, em alguma medida, podem retornar à superfície na forma do sintoma de ciúmes, o que em um certo grau pode levar até ao desenvolvimento de uma paranoia.
O mais importante disso tudo é que, com um trabalho terapêutico correto, é possível sair dessa situação, especialmente, se você, leitor, for a pessoa ciumenta.
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