
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou, neste domingo (18), que a morte de 38 cisnes e patos no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul, no Rio Grande do Sul, foi causada pelo vírus da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (H5N1). O zoológico foi fechado para visitação por tempo indeterminado.
O local, que abriga mais de mil animais de 130 espécies diferentes, está situado a cerca de 50 km de Montenegro (RS), município onde foi registrado, na última semana, o primeiro caso do vírus H5N1 em sistema de avicultura comercial no Brasil.
O que é a gripe aviária e como ocorre a transmissão?
A gripe aviária, causada por subtipos do vírus Influenza A, como o H5N1, é uma doença viral altamente contagiosa entre aves silvestres e domésticas. Em aves, os sintomas incluem:
- Dificuldade respiratória
- Secreção nasal ou ocular
- Torcicolo e falta de coordenação
- Diarreia
- Mortalidade súbita e elevada
Segundo o infectologista e virologista David Uip, médico infectologista e ex-secretário de Saúde do Estado de São Paulo, seres humanos podem ser infectados ao ter contato direto e sem proteção com aves contaminadas, principalmente ao manipular fezes, secreções ou carcaças infectadas. A transmissão entre humanos, no entanto, é extremamente rara.
“Até o momento, os casos em humanos são raros e geralmente ocorrem em profissionais que lidam diretamente com aves doentes sem os devidos equipamentos de proteção individual (EPIs)”, explica o médico.
É seguro comer carne de frango ou ovos durante um surto de gripe aviária?
Sim. De acordo com o Ministério da Agricultura e a Organização Mundial da Saúde (OMS), a gripe aviária não é transmitida pelo consumo de carne de aves ou ovos devidamente cozidos.
O médico veterinário e pesquisador da Fiocruz, Raphael Mazzi, ressalta que o vírus não resiste ao calor:
“O cozimento adequado dos alimentos – acima de 70°C – é suficiente para eliminar o vírus. Portanto, não há risco no consumo de carne de frango ou ovos bem cozidos”, afirma.
No entanto, o especialista reforça a importância de manusear alimentos crus com higiene, evitando contaminação cruzada com alimentos prontos para consumo.
Por que a gripe aviária afeta a exportação, mesmo sem risco no consumo?
Risco de contaminação dos plantéis
Mesmo que o vírus não seja transmitido pela carne cozida, a presença da doença em aves vivas é vista como um problema sanitário grave.
- Países importadores exigem que a origem da carne esteja livre do vírus, para garantir que o produto venha de rebanhos saudáveis.
- Prevenção de surtos nos países compradores
- Muitos países adotam o princípio da precaução: ao detectar qualquer surto no país exportador, suspendem temporariamente as importações para evitar introdução do vírus em seus próprios plantéis.
Requisitos de organismos internacionais
- O Brasil é signatário das normas da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), que define critérios sanitários para o comércio seguro de produtos de origem animal.
- Um país perde o status de livre de gripe aviária se o vírus for confirmado em plantéis comerciais (como aconteceu em Montenegro-RS em 2024).
Impacto na confiança do mercado
Mesmo sem risco real ao consumidor, supermercados, distribuidores e consumidores estrangeiros podem optar por suspender ou reduzir compras como medida de precaução ou por pressão política interna.
Exemplo prático:
Em 2023, quando o Peru e o Chile detectaram surtos de H5N1, vários países da Ásia e Europa suspenderam imediatamente as importações de carne de frango e ovos desses países, mesmo sem nenhum caso humano.
Contexto
É seguro comer carne de ave bem cozida, mesmo durante um surto de gripe aviária. Mas para exportar, é preciso comprovar que o país — ou a região exportadora — está livre da doença nos plantéis. A imagem sanitária e o status internacional são fundamentais para o comércio exterior.
Alerta e monitoramento
A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema-RS) orienta que qualquer suspeita de gripe aviária, incluindo sinais respiratórios, neurológicos ou alta mortalidade em aves, seja imediatamente notificada à Secretaria da Agricultura por meio da Inspetoria de Defesa Agropecuária local ou pelo WhatsApp: (51) 98445-2033.
O Brasil permanece em estado de alerta máximo para monitoramento da doença, e as ações de biossegurança em criadouros comerciais estão sendo intensificadas.