Apesar de recente, a atuação do Comitê Brasileiro já avança a passos largos ao sonhado e necessário modelo nacional da pecuária de leite de baixo carbono para inserir o país no mercado internacional
Formado por renomados e experientes membros, o Comitê Brasileiro (CB) da Federal Internacional do Leite ( FIL / IDF) foi formado em fevereiro de 2019. Ele é composto por uma equipe multidisciplinar e geograficamente diversificada de pesquisadores, acadêmicos, produtores e diversos profissionais que são ligados à cadeia produtiva do leite ou dão suporte ao segmento.
O CB é diretamente vinculado à FIL /IDF, que é a maior autoridade global em conhecimento técnico e científico de toda a cadeia produtiva do leite: desde a produção passando pelo processo fabril até a internacionalização dos produtos.
A FIL / IDF teve um papel fundamental na criação do Codex alimentarius FAO / OMS em 1963. O Codex é a entidade que cria diretivas transparentes e de base científica para a qualidade e segurança dos alimentos e ainda promove e fomenta práticas justas de comércio internacional.
A Federação Internacional do Leite também trabalha com outros órgãos internacionais como ISO ( International Organization for Standardization), ICAR (International Committee for Animal Recording), OIE (World Organisation for Animal Health), OMS (Organização Mundial da Saúde), etc. Com eles, atua na definição de padrões e diretrizes em todas as bases técnicas ao longo de toda a cadeia de abastecimento de laticínios, desde a produção do leite até a rotulagem do produto final.
O contexto do Brasil no mundo
O setor lácteo brasileiro nunca esteve em uma posição mais estratégica, globalmente falando. A associação do Brasil à FIL / IDF (fundada em 1903) traz muitas informações e conhecimentos para a cadeia produtiva. Já que a entidade é a responsável por assegurar um consenso global sobre como alimentar o mundo com produtos lácteos seguros e sustentáveis.
O acesso a tais trabalhos científicos e pesquisas otimizam ainda mais a produção leiteira do país. Não será mais necessário “reinventar a roda.” Agora, é possível aproveitar estudos realizados por grandes instituições. Para que não se inicie uma pesquisa do zero.
Mais do que isso, o setor passa a ter voz no mercado global. A simples participação por si só já seria um grande avanço. Mas ganhou ainda mais importância ao eleger o associado Piercristiano Brazzale presidente mundial da entidade, em novembro de 2020.
Piercristiano Brazzale é italiano, e sua família investe no Brasil desde a década de oitenta. Mas a sua principal qualificação é o seu empenho e êxito na produção agropecuária sustentável, com baixa emissão de carbono. Tanto no Brasil, quanto na Itália a Brazzale é um exemplo mundial de produção responsável, sustentável e lucrativa.
A integração que garante a eficiência e a livre concorrência
De acordo com Piercristiano Brazzale, são inúmeras as linhas de pesquisas e estudos que a Federação Internacional do Leite faz ao redor do mundo. Como presidente da FIL / IDF, ele possui assento em outra renomada instituição, a Global Dairy Platform (GDP) que reúne as maiores indústrias e cooperativas de laticínios do mundo.
Um dos principais objetivos da FIL/ IDF é promover o papel dos laticínios em dietas saudáveis, produzidos de forma sustentável ( sócio econômico, meio ambiente, cuidado animal, nutrição) em Sistemas Alimentares também sustentáveis e contribuindo significativamente para os objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecidos pela ONU.
Neste sentido, Brazzale destaca o projeto Net Zero, Pathways to Low-Carbon Dairy (Rede Zero, caminhos para laticínios de baixo carbono em tradução livre). “O projeto vai incentivar o setor mundial de laticínios a agir e criar caminhos para a produção de leite de baixo carbono, que vai reduzir de fato, as emissões de carbono da produção.” Explica.
“O projeto tem dimensão global e envolverá as partes interessadas, incluindo as Agências da ONU para iniciar um diálogo setorial sobre ação climática. Reunirá líderes da indústria, especialistas em clima, associações e quem mais for necessário para identificar como o setor pode contribuir para a implementação do Acordo de Paris. A FIL-IDF, em conjunto com a GDP, constituirá o grupo de referência para o setor lácteo.” Piercristiano Brazzale
A Federação Internacional do Leite, tem histórico e possui parcerias estratégicas com entidades e organismos internacionais, como entre outros a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e Codex Alimentarius,.
Por isso, a FIL / IDF tem a capacidade de garantir a imparcialidade na criação de protocolos e métricas que garantem a livre concorrência, que protegem os produtores de todo o mundo, sobretudo os mais vulneráveis.
“A FIL / IDF é a única entidade capaz de integrar as pesquisas e estudos da cadeia produtiva de leite à nível mundial. Desta forma, somos a instituição que possui a chancela, além da capacidade técnica e científica de conseguir certificações internacionais que valem em todo o mundo, como a ISO. Isso é essencial para aumentar a competitividade das indústrias de qualquer país”. Piercristino Brazzale
Segurança Alimentar e qualidade nutricional
Apesar de criado recentemente, o Comitê Brasileiro da FIL / IDF já possui seus próprios estudos sobre a segurança alimentar dos produtos lácteos e sua capacidade nutricional em parceria com outras entidades.
Um exemplo é o estudo Tópicos especiais sobre bebidas vegetais e leite, que destrincha as diferenças nutricionais entre as bebidas, a utilização de aditivos, e o impacto ambiental de forma a esclarecer a população.
Outros estudos do CB- FIL / IDF que merecem destaque são:
- Importância das proteínas do leite no sistema imunológico;
- Importância dos lácteos probióticos na imunidade;
- Importância funcional da membrana do glóbulo de gordura do leite;
Os próximos passos do Comitê Brasileiro
No Brasil, o CB FIL já conta com maciça participação de pesquisadores, produtores, estudiosos e cientistas, inclusive da Embrapa. Porém ainda espera contar com a adesão e o apoio de multinacionais presentes na atividade láctea brasileira desde o campo até o consumidor.
Todas as Multinacionais fazem parte da FIL/IDF em seus países sede assim como em países onde possuem filiais, no entanto o Comitê Brasileiro da FIL/IDF ainda não teve a adesão de nenhum destes gigantes aqui no Brasil.
Prova deste estranho distanciamento, foi a recente divulgação da Nestlé que tem interesse em desenvolver um projeto nacional de carbono zero em parceria com a Embrapa.
Por mais recursos financeiros que uma empresa possua para desenvolver de forma isolada uma iniciativa deste porte, a notícia recebida pela imprensa, causou estranheza e dúvidas nos membros do CB.
A principal delas é como um projeto patrocinado por uma única empresa seria adequado à realidade dos produtores e das pequenas e médias cooperativas e indústrias de leite nacionais.
Sendo a FIL / IDF a única entidade capaz de viabilizar uma certificação internacional, com respaldo de entidades como a ISO, OMS ICAR, OIE, etc, capaz de colocar os produtos brasileiros no mesmo patamar de concorrência que os internacionais, porque uma empresa trabalharia de forma isolada e prol de um protocolo intitulado de nacional?
O grande desafio do Comitê Brasileiro da Federação Internacional do Leite, é externo. Os gigantes da produção de laticínios precisam entender que a realidade do setor de laticínios nacional mudou. Ele está unido, e fortalecido com projetos estruturados. E que estas empresas são bem vindas, em plantar e colher tudo de bom que está por vir, mas não há mais espaço para ações isoladas e desintegradas.