Olá caros leitores, temos visto os quadros da Pandemia se alastrarem pelo país, com a chegada da Segunda Onda. E por conta disso, temos percebido que as pessoas se dividem basicamente em dois grupos, aquelas que ainda têm força para continuar adotando as medidas necessárias e as que não conseguem mais se manter no isolamento.
Temos percebido que as pessoas estão se irritando mais facilmente e ainda empresários afirmarem que não iriam fechar e alguns mais exaltados, ameaçam inclusive partir para a confrontação com as autoridades municipais. Algumas pessoas indignadas, afirmam que o processo de abertura das cidades teria sido tomado apenas para garantir o processo eleitoral.
Para aqueles que acompanham meus escritos sabem que desde o início da pandemia tenho alertado para os riscos do adoecimento psíquico da população, com a manifestação de casos de ansiedade, depressão, bem como distúrbios no sono ou ainda manifestações de transtorno por estresse pós traumático.
A pandemia trouxe a obrigatoriedade das pessoas em criarem mecanismos de enfrentamento psíquico diante das restrições impostas e essas restrições levaram a perda de empregos, renda, saúde física, luto por conta dos óbitos, enfim, uma gama de desafios que estão levando as pessoas ao seu limite emocional.
Vamos recordar, no início diziam que o quadro seria breve, informações entregues pelos canais oficiais neste sentido, depois, as autoridades foram “alargando” o momento do chamado pico de contaminação e as pessoas e empresas sempre dando sua cota de participação e fazendo o sacrifício. Primeiro disseram que era em maio teríamos o pico, depois em junho, e assim foi. As autoridades também disseram que em breve teríamos vacina para a população e que a vida voltaria ao normal.
Isso foi em uma certa medida funcionando como uma válvula de escape para as pessoas e quando tivemos os dois feriados prolongados do segundo semestre vimos uma realidade se desenhando de forma mais delicada. Neste sentido, vimos as praias lotadas de pessoas. Vimos também muitas outras pessoas questionando a moralidade ou a falta de inteligência das pessoas que foram “descansar” em algum canto e acabaram por aglomeram-se nesses locais.
Esse movimento de “saída” já era um sinal claro de que as pessoas estavam ficando fatigadas de todo esse cenário atual, pois todos que lá estavam sabiam dos riscos, mas o incômodo do isolamento fez com que as pessoas abandonassem o comportamento de proteção, não por serem pessoas más, e sim por estarem sofrendo psiquicamente.
A migração das cidades para um estágio de maior liberdade a população acreditar que o fantasma da morte que nos assolava estava ficando cada vez mais distante e isso deu um certo alívio nas pessoas que puderam voltar a ter uma vida mais normal, dentro desse novo normal.
Diante desse quadro as pessoas se encheram de esperança, porém a notícia de um novo fechamento trouxe para as pessoas que já estavam emocionalmente esgotadas uma reação de raiva e de luta contra o confinamento. Essa reação, muito mais do que uma reação inconsequente é um modo de defesa psíquica, pois nossos processos mentais estão ligados a vários mecanismos e um deles é o de fuga ou luta.
A saída para a praia, a retomada da atividade econômica, o trabalho e o contato social operavam como parte desse processo de sanidade psíquica, onde como não é possível lutar efetivamente contra o vírus, as pessoas estavam se apegando a essa nova onda de liberdade como uma fuga diante da impossibilidade de lutar.
Quando as prefeituras falam do risco de um novo fechamento, somando-se a isso o fato de que o brasileiro, em sua maioria, não confia, por motivos mais do que conhecidos, na classe política, ao se ver frustrado em seus desejos de contato com o outro, de retomada da vida como antes e ainda como oportunidade de realizar seu sustento de sua família, gerou um comportamento de raiva e pude ver isso nas minhas redes sociais. Depois de um texto que fiz sobre o assunto, as pessoas, quase que em sua totalidade, passaram a atacar os nossos representantes.
Diante disso, nada tem sido feito para cuidar da saúde mental das pessoas, não há preocupação com isso e infelizmente não percebo melhora nessa situação no curto prazo, pelo contrário.
Penso que podemos agir agora no sentido de desenvolver trabalhos para a prevenção do adoecimento psíquico, mas diante do cenário atual, será que a prefeitura irá tomar alguma atitude nesse sentido? Se até agora não fez, duvido que fará.
Peretti-Watel (2020), professor em recente texto publicado na General Psychiatry fala justamente dos problemas ligados a segunda onda de Covid-19, sinalizando uma repetição da mesma situação em Paris. No mesmo sentido temos visto em aplicativos de mensagens manifestações ao redor do mundo justamente contra esse novo fechamento, não porque as pessoas são burras ou acreditam que existem soluções miraculosas, mas porque não aguentam mais.
Assim, quando uma pessoa está se sentindo ameaçada ela precisa de encontrar uma saída para manter a sua sanidade, neste sentido, num primeiro momento tentou-se a fuga, agora, não sendo mais possível parte-se para a luta. Porém como ninguém vai entrar em luta com um vírus, naturalmente há um deslocamento dessa energia de luta para outro lugar. Isso, associado a projeção, outro mecanismo de defesa do Ego, faz com que as pessoas, mesmo sabendo dos riscos, acabem por optar por reações mais imperativas, para não usar outras palavras mais fortes.
Desta forma, diante desse quadro todo, é necessário a proteção da saúde mental da população e assim, diante do quadro, é imperioso exigir das autoridades, em todas as esferas de governo, que desenvolva uma política de enfrentamento das questões psíquicas causada pela pandemia, pois caso contrário, poderemos, dentro em breve, ver a situação se transformar em um cenário mais tormentoso.
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