“Anitta perdeu o Grammy”

Contexto CariocaDefinitivamente, essa não é uma coluna de fofocas: a Contexto Carioca vai falar exclusivamente das novidades do Rio nas áreas de cultura, gastronomia, comportamento, entretenimento – com uma pitada de empreendedorismo e (por que não?) poesia! Será um prazer compartilhar descobertas da Cidade Maravilhosa com vocês, toda sexta-feira.

Mas antes de tudo, preciso dizer que o título “bombástico” da coluna de estreia, na verdade, não corresponde exatamente ao assunto do texto. Deixa eu explicar: é que eu não podia perder a oportunidade de falar sobre o meu pai, Cláudio Jorge. Calma, vocês vão entender.

Cláudio JorgeEle ganhou, no final do ano passado, o Grammy Latino na categoria melhor disco de samba, com o CD “Samba Jazz, de Raiz – Cláudio Jorge 70” (ouça no Spotify aqui). O trabalho celebra seus 70 anos e concorreu com nomes como Maria Bethânia e Zeca Pagodinho. Foi uma surpresa incrível, muito comemorada – afinal, é seu primeiro prêmio internacional em mais de 40 anos de carreira. Uma espécie de redenção, uma conquista tardia porém merecida, festejada também no meio artístico.

Mas foi muito engraçado, no dia seguinte, quando liguei pra perguntar sobre a repercussão na imprensa. Com seu bom humor habitual, ele respondeu às gargalhadas:

– Só falam que a Anitta perdeu o Grammy!!!

É dura a vida de artista…

TEM HISTÓRIA

Cláudio Jorge e seu primeiro violão
Cláudio Jorge com seu primeiro violão

Em “Samba jazz, de raiz” (Mills Records, 2019) Cláudio Jorge faz uma viagem aos tempos de juventude, em que tocava guitarra nos bailes do subúrbio. As influências musicais vinham da discoteca do pai – que incluía Wes Montgomery, Glenn Miller e Tommy Dorsey – junto com o som brasileiro suingado de Wilson das Neves, Dom Salvador e Bola Sete. No disco, Cláudio propõe a síntese desses estilos, criando com esta fusão o proclamado “samba jazz de raiz”. 

Não é tão dançante quanto o da funkeira carioca, mas vale a pena conferir: o trabalho de Cláudio Jorge é marcado por belas melodias, harmonias ricas e lirismo. Ente os parceiros no CD estão Paulo César Pinheiro, Nei Lopes e Lula Queiroga. As participações especiais incluem Ivan Lins, Fátima Guedes, Mauro Diniz e Frejat – o roqueiro, inclusive, cedeu gentilmente o estúdio para a gravação. O projeto foi todo realizado na base do amor, com os envolvidos trabalhando na parceria.

Cláudio Jorge é um cara de muitos amigos e goza de imenso prestígio. Carioca ilustre, foi até condecorado com a Medalha Pedro Ernesto, da Câmara Municipal. Adepto da boemia, é testemunha ocular e agente ativo na construção da história cultural do Rio.

Tocando com João Nogueira conheceu o universo do samba. Com Sivuca conheceu o nordeste. Com Martinho da Vila, o mundo. Fez músicas com mestre Cartola e muitos bambas, integrou a ala de compositores da Vila Isabel, fundou a Carioca Discos, o Bloco dos Cachaças, ganhou concurso de marchinhas, foi diretor sindical, gestor de espaço cultural do município, teve programa de rádio, lançou 1 compacto, 1 LP, 3 CDs autorais e outros 3 como intérprete, produziu, fez arranjos e tocou em tantos outros… São 70 anos bem vividos!

70 ANOS A MIL

Gabriel Versiani e Cláudio Jorge
Eu e meu pai durante a sessão de fotos para o compacto Uma casa brasileira

Pude aproveitar muita coisa. Eu, que sempre fui “garoto Zona Sul” do Humaitá, pegava com ele a linha 2 do metrô no sentido Zona Norte. Fui pela primeira vez à quadra de uma escola de samba, conheci o Morro dos Macacos, a Mangueira, o Renascença Clube, o Terreirão do Samba, o Beco da Cirrose, o Cachambi. Vi de perto a boemia, frequentei estúdios e camarins.

E ainda fico impressionado como, aos 70 anos, o “velho” ainda está a mil: acabou de lançar seu novo site (link aqui) – que inclui fotos, releases e até as partituras das músicas para download; mantém em seu canal do YouTube (link aqui) a playlist “Lugar de fala”, com crônicas sobre assuntos variados; se prepara para a produção de um documentário sobre sua trajetória, do cineasta Cassius Cordeiro com o jornalista Hugo Sukman – a mesma dupla já produziu, com ele, a websérie “Sequestro do samba”, também disponível em seu canal do YouTube. Lá você ainda encontra o show do novo disco, gravado na TV Brasil. Planos para o pós-pandemia?

– Depois da vacina, a primeira coisa será pegar minha neta no colo. Depois, tomar um chope com os amigos na Glória, fazer as devidas comemorações do Grammy. Pretendo também lançar 2 projetos, que ainda não posso divulgar, e fazer um show para o qual fui convidado, de lançamento do CD no Circo Voador.

É assim, sem ambição nem pretensão de disputar espaço na mídia com a Anitta, que Cláudio Jorge segue seu caminho de amor à música, ao samba, ao violão, à amizade, à vida.

Viva Cláudio Jorge!

Gabriel Versiani e Cláudio Jorge
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