Os efeitos da globalização no futebol em ano de Copa do Mundo

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Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Denis Rodrigues da Silva, professor de História do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (Ceunsp), explica como um mundo globalizado reflete em todas as esferas do principal esporte do planeta

No Brasil, o futebol é um dos assuntos preferidos e mais falados pela população. A modalidade é debatida em todos os lugares, desde os programas de televisão aos botequins. Tendo em conta as devidas proporções, os efeitos do fenômeno da globalização também passaram a ser observados em diferentes ambientes, inclusive no futebolístico.

A globalização atinge todas as faces sociais, como o futebol. Dessa forma, o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, em 1999, dizia haver redundância na distribuição de privilégios e carências que podem ser uma forma de observação sobre o tema.

A globalização, o futebol e os reflexos da desigualdade sempre andaram juntos independentemente do ano e época, entretanto, em ano de Copa do Mundo esses fatores são ainda mais evidenciados.

O professor de História do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (Ceunsp), Denis Rodrigues da Silva, explica: ao mesmo tempo que o evento revela uma expectativa com dimensões globais, acessível por meio da televisão (meio ainda entendido como privilégio por muitos), também ressalta aos olhos, em notícias menos evidentes, os contrastes da união de jogadores valorizados e contratos valiosos e, de outro lado, povos mais humildes acompanhando o evento; de altos valores das camisetas oficiais vendidas nos sites e lojas especializadas opostos às réplicas da 25 de Março, em São Paulo capital.

Mas, Denis considera que os efeitos globalização devem ser analisados localmente. O professor exemplifica que o Brasil é comumente associado ao gosto pelo futebol. O evento figura as ruas, que são pintadas pelas comunidades, mobiliza a moda com a camisa canarinho e faz com que as pessoas hasteiem a bandeira nacional na porta de casa como símbolo de uma torcida. “Consequentemente, países em que não são tão fanáticos quanto o nosso, contentam-se em assistir aos jogos dos ambientes mais triviais e seguem a rotina comum dos lugares”.

As possibilidades econômicas que andam junto ao esporte também figuram como um reflexo da globalização. “Inicialmente os jogadores de contratos valiosos tendem a aparecer nas propagandas, as mais diversas, influenciando gostos e desejos de consumo, além de representarem o quanto seus valores de mercado como atletas estão à altura de seu desempenho. Esse impacto é sensível ao mercado consumidor das grandes marcas que atingem os consumidores nos diversos estados nacionais, assim como nos negócios aos quais as pessoas nem imaginam a dimensão de valores que circulam nessa esfera, portanto é de uma expressão muito complexa tais impactos. Talvez seja perceptivo num frenesi de figurinhas para um álbum, num lanche sazonal de grandes redes de fast food, mas não na dimensão dos grandes negócios que ocorrem nos bastidores do futebol”.

Denis ainda comenta as perspectivas diferentes em relação a temática da Copa desse ano, a primeira sediada no Oriente Médio. “A copa do Catar é singular para a história do futebol moderno. O país é novo, com posição autoritária, do ponto de vista dos valores democráticos, e é governado por Emir Tamim bin Hamad Al Thani, caracterizado como uma monarquia e sendo um dos países mais ricos do mundo, haja vista seu desempenho nos negócios petrolíferos. Cabe apontar a relação com os parceiros econômicos nas importações com Estados Unidos, Itália, Japão, França, Alemanha e Reino Unido, curiosamente, importantes estados à representação dos valores democráticos. Dessa forma, pode-se ao menos inferir o quanto tornar o país visível tem alguma pretensão política para ampliação dos negócios”.

Ser um país de primeiro ou terceiro mundo impacta no desempenho e na oportunidade em quesitos financeiros e de visibilidade. O historiador Denis comenta que essa questão não está no país em si, mas na sua oferta do atleta no mundo globalizado.

“Basta refletir o quanto as seleções sul-americanas do Brasil e Argentina sempre aparecem na lista das possíveis vencedoras, mesmo sendo economias subdesenvolvidas. Porém, no elenco dessas duas seleções, a maioria dos convocados jogam nos grandes clubes europeus. No entanto, países subdesenvolvidos e com menor possiblidade de explorar o ‘mercado da bola’, também tem menor chance de disputa”.

Vale destacar que apesar do Brasil ser um país em subdesenvolvimento, seu “mercado da bola” é aquecidíssimo e um dos maiores reveladores de talentos.

Por fim, o professor salienta a importância e a significância do futebol para o povo brasileiro. “Apesar de todas as evidências teóricas que nos fazem observar esse esporte magnífico por uma via sociológica e histórica, no fim de tudo, ficamos com a posição de Darcy Ribeiro, quando, em 1995, questionado por Juca Kfouri sobre a representação do futebol para o nosso povo, com maestria disse o intelectual que o futebol é a pátria do povo brasileiro. Nenhuma verdade é mais evidente.”

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