Webinar aborda debate “Burnout x Boreout”

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Webinar gratuito será dia 26/1 e vai discutir como os profissionais de qualidade de vida devem lidar com esses problemas nas organizações

No mês da campanha Janeiro Branco, idealizada por psicólogos, psiquiatras e outros profissionais da saúde, desde 2014, a fim de aproveitar o primeiro mês do ano para a reflexão e de planejamento atrelado à simbologia de recomeço para discutir a relevância da saúde mental e do cuidado com as emoções, a Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), realiza, no próximo dia 26, a partir das 17h, em seu canal no YouTube, o webinar “Burnout x Boreout — Qual é a diferença entre a síndrome de Burnout e de Boreout”.

O evento online e gratuito terá a participação de Katie Almondes, psicóloga, neuropsicóloga, professora associada do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Pós-Graduação em Psicobiologia e membro do grupo de trabalho de enfrentamento à covid-19 da diretoria da Sociedade Brasileira de Psicologia.

Sob a coordenação de Ana Carolina Peuker, especialista em Psicologia Clínica, mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e diretora de Mercado e Expansão da ABQV, o webinar vai abordar a síndrome de burnout, conhecida como síndrome do esgotamento profissional, desencadeada por estresse crônico no trabalho, que desde 1º de janeiro de 2022, a Classificação Internacional de Doenças (CID 11) a incluiu no capítulo de doenças relacionadas ao trabalho; a síndrome de boreout, caracterizada pelo tédio causado pela falta de expectativas e motivação no trabalho; e como profissionais de promoção da saúde e qualidade de vida podem lidar com estes dois problemas nas empresas.

Para participar do webinar, basta fazer a inscrição gratuita no endereço eletrônico https://abqv.org.br/eventos e receber o link de acesso ao evento.

O tema que envolve as questões de saúde mental e emocional é muito importante na visão da diretora de Certificação da ABQV e psicóloga, Sâmia Aguiar Brandão Simurro, uma vez que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior taxa de pessoas com ansiedade, além de ocupar o quinto lugar no ranking de indivíduos com depressão. E segundo Secretaria Especial da Previdência e Trabalho, mais de 576 mil brasileiros foram afastados em 2020 devido a transtornos mentais e comportamentais.

Atribuir tudo à crise sanitária devida ao novo coronavírus, uma vez que ela, por si só, já coloca as pessoas em contato com muitos dos principais fatores que elevam os níveis de estresse, é simplificar a questão.

“A pandemia de Covid-19 nos aproximou da nossa vulnerabilidade, que sempre existiu, mas que vemos agora demonstrada. A realidade atual nos impôs a conviver de perto com os medos humanos mais profundos, como: perder emprego, não ter o que comer, adoecer, morrer, enlouquecer, ficar só, perder entes queridos, sentir dor, abandono e solidão. Não resta dúvidas que todo esse cenário nos exige muito mais energia física e mental para uma adaptação e necessária retomada do equilíbrio. Porém, não podemos esquecer que a sociedade vinha numa curva crescente de adoecimento mental e burnout, mesmo antes desta crise em saúde pública”, aponta Sâmia.

Ela lembra que a OMS e os profissionais da saúde mental já alertavam para esse problema e que a pandemia acelerou ainda mais essa forma de adoecimento, pois, embora os transtornos mentais já estivessem em evidência, a atenção e os investimentos nessa área ainda estão bem abaixo do desejável. No relatório da Pan American Health Oganization (PAHO), divulgado em novembro passado, consta o alerta para esta realidade e o apelo aos países para aumentar os orçamentos em saúde mental a fim de atender às necessidades mínimas das pessoas com esses problemas.

“É preciso apoiar, prevenir, diagnosticar e tratar adequadamente se quisermos pessoas mais saudáveis e equilibradas”, afirma a diretora da ABQV.

Sobre o burnout ter sido incluído na CID da OMS, Sâmia comenta que há algum tempo a síndrome é objeto de muito debate e que para alguns médicos, outras condições, como problemas de saúde mental, ansiedade e depressão, levam a esse problema, o que significa que não é uma condição própria.

“A imprecisão e ambiguidade são apenas uma das razões pelas quais o burnout foi reconhecido como uma condição médica legítima em 2019, incorporada à CID agora”, ressalta.

Desafio que precisa ser enfrentado

Falar sobre saúde mental no ambiente de trabalho em qualquer cenário, na opinião de Sâmia, é um desafio que precisa ser enfrentado com coragem e abordado cuidadosamente. Isso significa entender as necessidades humanas e por ações coordenadas que atendam às suas diferentes dimensões e buscar as melhores práticas de intervenções.

“As soluções são complexas, pois o tema não é nada simples e nem igual para todos. Não é à toa que a questão da saúde mental foi e ainda é negligenciada. A falta de serviços de apoio, de tratamento adequado, deixam a situação ainda mais complexa e de difícil solução”, destaca a diretora.

Do ponto de vista prático, no momento que ainda se vive a pandemia, ela aponta que medidas de proteção e segurança, como protocolos de higiene no local de trabalho, uso de máscara, testagem de temperatura, álcool gel e vacinação não só protege a saúde física como diminui a insegurança no ambiente de trabalho.

Também é preciso, segundo Sâmia, minimizar a sensação de isolamento. Iniciativas de motivação, engajamento e integração crescem em importância para suporte para a saúde emocional. Em tempos difíceis também é relevante desenvolver rapidamente novas habilidades para que os profissionais possam acompanhar as mudanças que virão.

“É importante promover a saúde mental desenvolvendo a capacidade de adaptação, flexibilidade, pensamento crítico, aprendizagem ativa, habilidade de autogestão, resiliência, resolução de problemas e habilidade com tecnologias que possam ajudar positivamente nas transições necessárias para o momento. No caso do adoecimento, o desafio é o diagnóstico precoce e encaminhamento à intervenção adequada. Uma boa cultura de suporte ao bem-estar por políticas, processos e programas disponíveis minimizam os riscos”, garante a diretora e psicóloga.

Para ela, hoje as organizações estão mais atentas à saúde mental dos trabalhadores e existe uma forte motivação financeira para elas darem um passo à frente. As condições de saúde mental custam aos empregadores, segundo a Organização Mundial do Trabalho (OIT), mais de US$ 100 bilhões e 217 milhões de dias de trabalho perdidos a cada ano.

“Ao abordar questões de saúde mental no local de trabalho e investir em cuidados de saúde mental para os trabalhadores, os empregadores podem aumentar a produtividade e a retenção de funcionários. Não é à toa que já há algum tempo os fóruns financeiros mundiais discutem a saúde física e mental como elemento fundamental para o desenvolvimento da pessoa, das empresas, dos países e do mundo. Nas discussões, já é um consenso de que não há desenvolvimento sem saúde física e mental”, salienta Sâmia.

E o primeiro passo é falar sobre as questões mentais que ainda são consideradas tabu por muitas pessoas. A diretora acredita que a maioria dos indivíduos não está preparada para lidar com o doente mental e ainda há os que acreditam que problemas desse tipo tornam os doentes perigosos, quando, na verdade, eles correm um risco maior de prejudicarem a si mesmas do que ferir outras pessoas.

A falta de serviços de apoio, tratamento adequado, o estigma, descrédito, vergonha e discriminação, para a psicóloga, deixam a situação ainda mais complexa e de difícil solução.

“Isso faz com que o doente mental seja marginalizado, o que leva a violência, isolamento social e até o suicídio. É verdade que temos visto cada vez mais campanhas destinadas a aumentar a conscientização sobre depressão, vício, transtorno bipolar e suicídio, bem como a abertura de mais celebridades sobre suas próprias lutas pela saúde mental. Isso nos dá esperança de que estamos caminhando para um melhor cenário para o doente mental”, aponta.

Admitir que precisa de ajuda é fundamental e apesar de termos progredido, segunda Sâmia, muitas pessoas que precisam de ajuda para um problema de saúde mental ainda não a procuram. Um estudo da OMS, demonstrou que entre 30% e 80% das pessoas com essas enfermidades não procuram tratamento. Isso inclui 50% dos que têm transtorno bipolar; 55% das pessoas que possuem transtorno do pânico; 56% das que estão com depressão grave; e impressionantes 78% dos indivíduos com transtorno do uso de álcool.

As razões são inúmeras, enfrentar o estigma, a negação do problema, medo do tratamento ou o desconhecimento de que este problema está relacionado com a saúde mental.

“Precisamos entender que a maioria das pessoas que lutam contra a doença mental está insegura sobre si e sua posição na vida, que é difícil arriscar um precioso capital social e profissional para buscar ajuda. Admitir o seu problema para o seu médico, cônjuge ou até para você mesmo pode ser difícil. Por isso, é importante incluir o tema na cultura organizacional, bem como a importância de ferramentas que permitam o diagnóstico da saúde mental dos colaboradores, além da necessidade de trabalhar com prevenção quando falamos da saúde mental e bem-estar dos trabalhadores”, conclui.

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