Todo mundo é substituível? NÃO! [Bastidores de Você]

Olá meus leitores. Hoje converso com você sobre sermos ou não substituíveis. Resolvi escrever sobre esse tema após de assistir um vídeo do Mário Sérgio Cortella sobre o assunto. Contamos quase 100 dias de medidas restritivas por conta da pandemia, muitos têm perdido seus empregos e também percebo muito sofrimento sendo suportado pelas pessoas.

Em 1920, todos os lobos do Parque Nacional de Yellowstone (EUA) foram extintos. Isso trouxe um grande desequilíbrio ambiental, de tal modo que até os leitos dos rios mudassem, seu curso normal, por conta de assoreamento.

Você deve estar estranhando que a retirada de um animal, que habitava o topo da cadeia alimentar fosse capaz de mudar todo o ecossistema para pior. Aprendemos que a cadeia alimentar se organiza de baixo para cima, ou seja, dos menores até chegar ao predador máximo.

Pois bem, com a falta dos lobos, os alces e veados não tinham mais predadores naturais, por conseguinte, sua população aumentou vertiginosamente. Isso levou a um aumento de demanda por comida e eles passaram a comer os brotos da árvores causando um desequilíbrio na floresta e que também levou a diminuição da população de castores, e isso afetou o ecossistema dos peixes. Pássaros deixaram de se manter no local por falta de alimento e muito mais ocorreu

Em 1995 os lobos foram reintroduzidos no parque, fazendo com que alces e veados se vissem compelidos a adotarem um padrão de comportamento mais seguro, obrigando-os a se refugiarem nas terras mais elevadas. Isso diminuiu as suas área de pastagem e, por conseguinte, permitiu que as árvores se desenvolvessem. Árvores mais altas significam mais aves, insetos, e mais castores. Esses, veja só, com suas barreiras, criaram represas que atraíram lontras, patos, peixes e anfíbios.

Os lobos também caçam coiotes que, por sua vez, caçam pequenos roedores tais como coelhos e ratos. Menos coiotes a população desses roedores cresceu, atraindo de volta para o parque falcões, doninhas e raposas. Texugos e corvos chegaram para se alimentar das sobras das caças dos lobos. Ursos também apareceram, em parte pela caça farta, mas também pelo aumento das frutas nas árvores e arbustos.

O crescimento da mata afetou as margens dos rios, pois as raízes reduzem a erosão. Os rios tiveram seus cursos estabilizados, passaram a formar piscinas naturais, e os canais estreitaram.

Pois bem, valho-me dessa história para mostrar justamente o tema proposto, que na verdade ninguém é substituível, pois fazemos todos parte de uma cascata trófica, somos todos uma só corrente e nos interconectamos com o todo.

Vamos olhar de perto de onde vem a ideia de que todos somos substituíveis.

Nossa sociedade tem a péssima mania de colocar-nos a ideia de que somos substituíveis. Isso se deu porque nossa sociedade ficou cega pelo Ter, pelo trabalho e pelo acúmulo de riqueza. Assim, se uma pessoa desempenha uma determinada função em um trabalho, tendemos a imaginar que essa pessoa pode ser substituída por qualquer outra que com o devido treinamento, poderá fazer a mesma coisa.

A história da arte nos mostra que isso não é verdade, nunca mais vai existir um Mozart, um Picasso, Da Vinci, então, na verdade começamos a perceber que ninguém é realmente substituível. Mas aí você deve estar pensando, mas um “apertador de parafuso” pode ser qualquer pessoa. Se você pensou justamente isso, acabou de concordar com o argumento de que mudamos tanto, que o Ter passou a ser mais importante do que o Ser.

Lembro aqui uma frase de Marcos Costa: “A tua ausência é a amplitude do desejo para a substituição.” Ora, isso nos leva a pensar algo mais profundo, pois imaginemos a pessoa que você mais ama no mundo, seja ela quem for. Seja o amor de uma mãe por seus filhos, de um casal enamorado. Se algo acontecer, contra a vontade deles e um não mais existir, não haverá outra pessoa que irá substituir esse amor.

Ainda que uma mãe perca um filho e depois venha ter outro, o amor, por mais que digamos que seria o mesmo, na verdade não é. Tal amor é por si só diferente, mesmo porque as pessoas são diferentes e a relação de amor é sempre uma experiência única para aqueles que se amam. O amor sim, este é insubstituível.

O que posso substituir é o que o outro faz, nunca, jamais a outra pessoa. Como dizia Cortella: “eu sou único mas não sou o único” e penso que essa é exatamente a fonte de muitas de nossas angústias, pois nossa sociedade tem o condão de reconhecer alguém pelo seu valor externo e não interno.

A dinâmica do desejo é a sua insaciedade. Desta forma, como nossa “civilização” mudou o paradigma, valorizando mais o ter (externo ao sujeito) do que o ser (interno a ele) é que esse discurso falacioso de que todos são substituíveis ganha espaço em demasia.

Nossa sociedade transformou o querer em sinônimo de desejo, e também trouxe para nossa vida, que desejar está sempre ligada a algo material, naquele discurso tipo “eu desejo ter um carro X”, “eu desejo ter uma casa assim”, “eu desejo isso ou aquilo”. Enfim, a sociedade coisificou o desejo.

Acontece que no nosso inconsciente o desejo é sempre insatisfeito, sempre carece de algo e aí repousa o conflito, pois quando conseguimos aquela roupa que desejávamos comprar, aquela viagem que ansiávamos fazer acabamos por satisfazer nosso querer e não nosso desejo e assim a coisa perde relevância.

O querer, ousando discordar de Schopenhauer que também usa a expressão desejo, é sempre de algo que possui um valor externo a si. O carro tem valor pela utilidade dele, uma casa tem valor por sua utilidade, até mesmo o amor, nos dias de hoje, tem valor por sua utilidade em si.

Assim, paulatinamente, fomos perdendo nossa essência e, por conta disso, fomos nos coisificando, passamos ter valor não pelo que somos, mas por pela nossa utilidade, em outras palavras, fomos reduzidos a um fator externo a nós e não pela nossa essência.

Schopenhauer falava que somos marionetes do nosso querer e, por conta disso, ficamos presos a essa dinâmica de buscar exatamente esses “quereres” e, na sociedade consumista atual, nada mais “lógico”.

Assim, termino dizendo dois pontos para que você, pessoa desejosa, reflita um pouco: até onde você está querendo ao invés de desejar, pois seu desejo é que vai trazer a sua felicidade. O desejo tem um valor por si mesmo, interno a você enquanto o seu querer está depositado em um objeto externo e com utilidade externa a você. O segundo ponto consiste em destacar que, assim como os lobos em Yellowstone recuperaram o meio ambiente, quando é que você vai introduzir o lobo na sua vida e notar que apesar de você não ser a única pessoa no universo, você é único e portanto insubstituível, o seu real valor repousa em você e não no seu trabalho, no seu carro ou no seu status. Sua maior riqueza é você, reintroduza você no seu mundo e verá que a vida se tornará mais suave.

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