Não importa se o paciente não apresentou sintomas ou desenvolveu uma versão leve da doença, a recomendação é buscar acompanhamento médico após, no mínimo, 15 dias da cura
O Ministério da Saúde estima que mais de 16 milhões de pessoas no país estejam recuperadas da Covid-19. No entanto, em torno de 80% dos recuperados podem apresentar alguma sequela e precisam buscar apoio especializado.
Como não se sabe se a sequela pode ser permanente ou temporária, a médica clínica geral e nefrologista e voluntária do Projeto COM.VIDA, Luciana Moreira Alves, explica que “a pessoa pode ter um quadro bem leve, ou de hospitalização grave, e podem acabar fazendo a síndrome pós covid, que são desde fadiga, perda de força muscular, falta de ar, cefaleia, ansiedade e depressão, queda de cabelo, perda do olfato ou do paladar, alteração da memória e déficit de concentração, principalmente em estudos e trabalhos”.
Dessa forma, todos os pacientes diagnosticados com covid-19 devem realizar um novo check-up após a alta. De forma geral, o ideal é procurar um médico após quinze, no máximo trinta dias da alta, para avaliar a recuperação e a necessidade de manter algum acompanhamento”, enfatiza Luciana. Segundo a médica, toda essa avaliação é individualizada, pois depende da existência de comorbidades de cada paciente, e como ficou e qual órgão foi mais afetado, avaliando como foi o desenvolvimento da doença. “Por isso não existe uma regra no tratamento após a covid, e isso é importante que todos recuperados entendam”, alerta Luciana.
A médica recomenda que o paciente que apresente cansaço por tempo prolongado, dor no peito ou palpitações precisa buscar ajuda especializada. Caso o paciente não tenha um médico de confiança, precisa buscar atendimento nas Unidades Básicas de Saúde, e se for um sintoma mais agudo, ir ao Pronto Atendimento. “Vejo hoje que as pessoas estão buscando alternativas, muita gente pagando por consultas populares, buscando projetos voluntários, correndo atrás do atendimento de alguma forma. Cada qual com seu recurso. Mas, particularmente acredito que as Unidades de Atendimento são a saída e se não conseguir, buscar o Pronto Atendimento hospitalar”, ressalta.
Na dúvida, o paciente pode buscar um clínico geral para que o profissional o encaminhe para a especialidade indicada. Claro se a pessoa apresentar falta de ar e cansaço, deve-se procurar um cardiologista ou pneumologista. Falta de memória ou dor de cabeça constante, um neurologista. Depressão ou ansiedade, psicólogo ou psiquiatra.
Com relação aos exames solicitados no pós-covid, Luciana afirma que não há um padrão, vai depender de cada caso.
Em relação ao tempo de isolamento, a recomendação atual da Organização Mundial de Saúde é no mínimo 10 (dez) dias para assintomáticas a partir do dia que tiveram PCR positivo. Se a pessoa for sintomática, dez dias a partir do início dos sintomas e com pelo menos três dias sem sintomas. “Ou seja, durante três dias não pode sentir nada, nem febre e não pode tá com medicação para febre pra não mascarar”, explica Luciana. Já a recomendação da Anvisa é um pouquinho mais complicada, pois diferenciam em quadro leve, quadro grave. “E faz sentido, porque parece que os pacientes que ficam mais graves têm uma carga viral maior e eles na maioria dos estudos transmitem a doença por mais tempo, então aí fala-se em vinte dias de isolamento”, salienta. O que é importante ressaltar que, o tempo de isolamento não interfere na cura, mas sim na transmissão do vírus. “Então, se a pessoa está isolada e sai do isolamento antes, ela tá transmitindo vírus e nesse caso, ficamos com essa alta taxa de transmissibilidade”, afirma a médica.
Suporte aos pacientes
No intuito de ajudar os pacientes após a covid-19, Raquel Trevisi, que teve covid de forma grave, idealizou o projeto Com.Vida, nele, diversos voluntários adotam pessoas que ainda estão lidando com as consequências do vírus.
No projeto fornecemos todos os atendimentos que o paciente necessita, como fisioterapia, fonoaudiólogo, psicólogo, médico, enfermeiro, nutricionista, medicamentos, exames, tudo sem custos e de forma voluntária”, enaltece.
Raquel chegou a ser internada e precisou passar 20 dias em uma UTI. Tive 85% de comprometimento nos pulmões, duas intubações, trombose no braço e perna, infecção no sangue. Tive alta hospitalar apenas movimentando o pescoço, posso até dizer que saí com um quadro de tetraplegia temporária”, relembra.
E ao perceber que muitos pacientes não conseguem ter assistência no pós covid, o projeto ganhou vida e os interessados em ser atendidos ou ser um voluntário pode acessar o Instagram @projeto.com.vida