Novidade causou polêmica entre governos e delegações; a moeda Yuan Digital será um dos meios de pagamento aceito durante os jogos
Yuan Digital: duas palavras que vêm causando muitos debates quando o assunto são as Olimpíadas de Inverno de Pequim, que começam no próximo dia 4 de fevereiro. Depois de vários testes no país, a China decidiu lançar sua moeda digital como meio de pagamento oficial dos jogos, o que despertou discussões em diversos países sobre a segurança de dados, por exemplo.
Durante o evento, só serão aceitos como pagamento o Yuan Digital, dinheiro e cartões Visa, que é um dos patrocinadores dos jogos. De acordo com a diretora de Tecnologia e Operações da Tecnobank, Adriana Saluceste, a novidade pode, na verdade, ser uma boa notícia para o futuro das transações financeiras. “O Yuan Digital vem se popularizando na China como um meio alternativo de pagamento às carteiras digitais já existentes. Nos últimos dois anos, a China colocou a moeda em fase de testes e viu nas Olimpíadas de Inverno um apelo para uma prova-real da moeda virtual também entre os estrangeiros”, explica.
A especialista lembra que adotar moedas digitais agiliza o processo das transações feitas e/ou recebidas no exterior. Pequenos depósitos podem ser feitos de forma anônima e, por se tratar de uma moeda com lastro – o que a diferencia das criptomoedas -, é mais difícil usá-la para fins ilícitos. “Resta-nos esperar esse grande teste e saber se o Yuan Digital terá uma melhoria na experiência de usuário para competir com os aplicativos de pagamentos já existentes”, destaca.
Qual a diferença entre uma moeda digital e o uso de cartões de débito ou de recursos como o Pix?
Lançado em 2020, o Pix, sistema de transferências instantâneas, é um sucesso absoluto entre os brasileiros. Trata-se de um pagamento ponto-a-ponto, instantâneo e disponível 24 horas por dia, o que facilitou as transações de pagamentos que ocorrem principalmente entre pessoas físicas. Por sua vez, o cartão de débito é uma forma de pagamento à vista, assim como o Pix ou o uso de dinheiro em espécie.
“Já a moeda digital é uma extensão da moeda física, mas para uso em ambiente virtual, emitida e garantida por autoridade monetária federal. Com ela, é possível movimentar dinheiro que não existe fisicamente. Essas iniciativas estão interligadas para permitir um maior alcance dos serviços bancários digitais”, detalha Adriana.
Tendência
Não é de hoje que o uso de moedas digitais vem se popularizando em todo o mundo. Mas a experiência chinesa ao longo dos jogos de inverno pode ser determinante para que essa se torne uma tendência definitiva. Em um futuro próximo, esse tipo de meio de pagamento pode, por exemplo, facilitar o cotidiano de quem deseja trocar de carro ou de casa. A iniciativa amplia o acesso a transações financeiras mais ágeis e de menor custo. As pessoas poderão escolher lidar com seu dinheiro de forma convencional ou digital.
Especializada em tecnologia para registro de contratos, a Tecnobank trabalha diariamente com operações de financiamento de veículos, por exemplo. “Na compra de um imóvel ou automóvel, a transferência do dinheiro seria feita simultaneamente ao registro da transferência da propriedade, o que eliminaria as burocracias e riscos”, pontua Adriana. Para ela, outro benefício está nas transações internacionais, como compras de turistas no exterior ou processos de exportação e importação. Todos esses processos são simplificados com a moeda digital, desde que ela seja interoperável entre os países.
Ao usar o Yuan Digital, meus dados podem ser usados de forma indevida?
O tratamento de dados é, hoje, uma das grandes preocupações em todo o mundo. Os Estados Unidos, inclusive, pediram que seus atletas não utilizem o Yuan Digital por medo de vazamentos e de uso indevidos dos dados. Mas há maneiras de garantir que isso não aconteça. De acordo com a especialista, atualmente a segurança da moeda digital é a mesma do dinheiro em papel, mas o governo pode acompanhar de forma mais fácil a oferta de dinheiro. Essa segurança estará muito atrelada à segurança das operadoras, enquanto as autoridades da China controlam o Yuan Digital. “O que pode ser feito é um uso das mesmas tecnologias das criptomoedas blockchain, sistema que permite rastrear o envio e recebimento de informação pela internet, além de ter um protocolo que dita a produção de novos ativos”, finaliza.