Muito tem sido alardeado, noticiado, falado sobre esse novo fantasma que está assolando o mundo chamado Coronavírus e a coisa está tão estranha que o mesmo já tem até apelido, COVID-19.
Meu objetivo com este texto é fazer algumas reflexões sobre alguns dos motivos que levam as pessoas ao neste estado de alerta. Chama a minha atenção que situações muito mais graves não geraram tanto pânico global.
Não dedicarei a falar mais dos processos de contágio, cura, cuidados que devemos ter. Dedicar especificamente a trazer para conversa o ponto que por vezes é negligenciado, que é o sofrimento psíquico que o COVID-19 traz para a nossa sociedade e para cada pessoa.
Tenho que destacar que para aqueles que são mais sensíveis, esse quadro pode desembocar em adoecimentos psicossomáticos, síndromes de estresse pós-traumático e ainda queda na imunidade corporal com consequência na maior facilidade de se adoecer e de pegar o COVID-19.
A importância da coragem
A primeira palavra que devemos entender é o porque estamos mergulhando nesse medo tão intenso. De plano temos que entender que tudo que é medo possui uma origem fundamental, instintiva em algo que nos ameaça enquanto conhecedores da morte e da finitude.
Por conta disso, estou preocupado não com a gripe em si, mas com o a epidemia do pânico que está se espalhando pela sociedade e meu maior receio é que isso está tomando conta de nosso país.
Neste sentido, Freud na obra o Mal Estar da Civilização nos ensina que o Homem se assusta e sente muita dor quando percebe realmente a sua finitude.
O homem percebe que há uma superioridade da natureza e ainda que nossos corpos não são a fortaleza que achamos que são, pois podemos morrer e diante desse horror, que nosso Inconsciente não conhece, nos destroçamos.
Friamente falando, quando pensamos na morte, sempre a colocamos em um lugar distante e muitas vezes repetimos o discurso de que a morte faz parte da vida, que quando nascemos começamos a morrer e que dela ninguém vai escapar mesmo.
Isso tudo é muito interessante, mas o fato é que na verdade, como diria a música da Blitz que bombava nos anos 80:
“todo mundo quer ir para o céu,
mas ninguém quer morrer”.
Quando diante do poder da natureza contatamos que nem todo nosso intelecto é capaz de nos proteger de modo eficaz de algo, que segundo a biologia não é nem um ser vivo.
Aliás, poderíamos dizer, leigamente falando que um vírus é algo “tão insignificante” que nem sequer possui metabolismo e somente consegue se replicar caso invada uma célula hospedeira e esse “treco” pode nos exterminar com a mesma força que uma bomba.
Revela nossa impotência diante da natureza e da vida
Quando do 11 de Setembro o mundo entrou em uma convulsão por conta do terrorismo, mas os terroristas eram visíveis, havia um estereótipo para se identificar.
O COVIR-19 pode ser passado de um para o outro sem qualquer sinal, pode vir de alguém assintomático e ele “matar” uma pessoa sã. Dito de outra forma, um terrorista eu posso parar. Mas um vírus! Bom, diante do vírus eu só posso reagir e torcer para meu corpo resistir.
Isso revela o homem como impotente, desnudando a sua realidade, que ele não é senhor de tudo na natureza, aliás, ele não é senhor nem em sua casa, quanto mais na natureza.
Outra coisa que o COVIR-19 nos revela também vaticinado por Freud é justamente a fragilidade de nossos corpos e, sendo assim, ele descortina as nossas pulsões de morte revelando também que nosso corpo não é garantia de nada.
Não é incomum atribuir a um ente superior, ao maligno ou mesmo a artimanhas de algum político maluco na criação de algo que pode nos dizimar.
Na década de 80 ouvíamos a música Eva da banda Rádio Táxi que dizia:
“Meu amor,
hoje o sol não apareceu
É o fim da aventura humana na Terra
(…)
Olha meu amor
O final da odisséia terrestre
Cantávamos essa música pensando em uma tragédia nuclear e a aniquilação mútua entre inimigos capitalistas e comunistas.
Era perigoso, sim, era, mas sabíamos que tínhamos de certa forma o controle dos fatos, mas um vírus, um ridículo vírus, um filamento proteico que morre em contato com álcool, tão insignificante, nem cérebro tem, mas pode nos dizimar.
Podemos andar “Sobre o Rio, Beirute ou Madagastacar e toda terra reduzida a nada, a nada mais” revelando que na verdade nossa vida é um flash, não mais de botões anti-atômicos, mas na verdade é que ela pode se esvair de uma hora para outra.
Esse monstro do COVIR-19 nos revela justamente isto. Desnuda o que há de mais tenebroso em nossa alma, a possibilidade de um vazio existencial rumo a uma finitude orgânica.
Para escapar da tragédia de seu fim, o homem é capaz de fazer qualquer engenho, mesmo que tal implique em eliminar outro homem.
Entenda que você é parte, nem tudo nem nada!
O COVIR-19 quebra a nossa ética e pode quebrar a nossa civilização. Fazer o homem cair de joelhos justamente por conta de nossa soberba em acreditar que somos nós que dominamos o mundo e a natureza, mas que no fundo, com todos nossos avanços, não passamos de meros peões no tabuleiro.
E o que isso faz em nós? Em primeiro lugar traz um medo que é o medo da solidão. Apesar do homem ser o lobo do homem, somos gregários e portanto dependemos do outro e da relação com o outro para caminhar, porém as quarentenas trazem em si o medo tanto de estarmos infectados como também frustração e tédio.
Tais fatores são estressores que por si só podem levar a quadros depressivos mais severos, em pessoas menos preparadas, até a situações piores. Apoio torna-se fundamental e a atenção a dor do outro mais importante ainda.
Pensando nisso que o CFP liberou as consultas com psicólogos através de atendimento online, pois essa segregação imposta ou autoimposta pode levar a quadros de sofrimento mental.
Encontre “o seu” remédio
Outra medida que pode ajudar muito as de combate a ansiedade e cada pessoa tem seu remédio para isso, uns vão ler, outros estudar, outros ver tv, enfim, busque aliviar a ansiedade, caso esteja muito difícil, busque meditar.
No Youtube há dezenas de milhares de meditações guiadas que podem ajudar nesse momento, mas se nada disso está adiantando, procure ajuda.
Cuidado com o conteúdo que você lê e assiste
Ajuda bastante afastar-se das notícias, pois a imprensa, quando quer, quando precisa vender algo, torna-se sensacionalista. O excesso de notícias e informações tem levado o ser humano a um descontrole e a uma insegurança sem igual.
Com o advento tecnológico, tudo ganha um impacto viral e, através de chamadas sensacionalistas, tende a prender o público e acaba assim, por desestabilizar emocionalmente quem consome essas notícias.
Cuide da sua saúde mental
Uma coisa que vai ocorrer e tenho certeza disso, nos mais vulneráveis é o aparecimento de transtornos de estresse pós-traumático, transtornos de ansiedade generalizada, fobias e outros sintomas decorrentes. Estas são as respostas que a mente possui para a pandemia desenhada para que não caia na ruptura egóica.
Tal como em uma guerra, quando há uma avalanche de notícias do front, as pessoas se sentem inseguras.
Sem a certeza do que pode realmente ser real, levando a crença que não estão no controle, isto torna os dias vindouros incertos e esta instabilidade gera comportamentos destrutivos, para si e para o outro.
Nestas horas, tenho orientado as pessoas a não alimentar mais a sensação ruim que se instalou em nossa sociedade. O vírus COVID- 19 fez um estrago para a economia e paz mundial, o que já é uma realidade, mas por conta disso não devemos piorar as coisas.
Tranquilidade e serenidade é o que devemos buscar para nossa vida e para os que estão em nossa volta e para retomarmos rápido à nossa antiga forma de viver.
Quanto mais nos afastarmos agora, mais prudentes formos, mais rápido iremos poder nos abraçar, sem medo, novamente.
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