No Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, especialista enfatiza a necessidade de redobrar a atenção voltada para crianças e adolescentes

Consulta psiquiatra Freepik

Dados da OMS revelam que, apesar da queda mundial no número de suicídios nessa faixa etária, de 2011 a 2022 houve um aumento no Brasil

O mês de setembro é o mês de prevenção ao suicídio, mas se engana quem pensa que a campanha é destinada apenas a adultos. Pesquisas recentes vêm assustando especialistas por todo o país. Um estudo da OMS, Organização Mundial da Saúde, mostrou que só em 2019 cerca 14 mil brasileiros cometeram suicídio, ou seja, em média 38 pessoas tiraram a própria vida por dia naquele ano.

Os dados mostram ainda, que, apesar de os casos estarem em queda em diversas partes do mundo, nos países das Américas essa tendência segue em lado oposto. Um estudo feito pela Secretaria de Vigilância em Saúde e divulgado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, mostrou que entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade por suicídio de adolescentes entre 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil. A OMS também destaca o aumento de autolesões nesse período, com registro de crescimento de 29%.

Josianne Martins, médica psiquiatra e diretora tesoureira da Associação Psiquiátrica de Brasília, a APBr, pontua que a maioria dos casos está relacionada às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente. Isso quer dizer que grande parte desses suicídios poderiam ter sido evitados se esses pacientes tivessem acesso ao tratamento psiquiátrico e informações de qualidade.

A especialista destaca, neste 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, que esse cenário exige uma abordagem cuidadosa e multifacetada. “É essencial que adultos incentivem um diálogo aberto com os jovens sobre seus sentimentos e experiências, sem julgamentos ou minimizações. Ouvir com empatia e sem interrupções pode ser um primeiro passo crucial para acolher o sofrimento desses jovens e buscar ajuda médica”, ressalta.

Embora seja um tema delicado, a médica ressalta que é necessário falar de suicídio com crianças e adolescentes. “Abordar o assunto de forma adequada à faixa etária é fundamental para prevenir o suicídio”, afirma. Para isso, é importante que o tema seja tratado por especialistas que possam ensinar sobre saúde mental, identificar sinais de alerta e orientar sobre como buscar ajuda.

De acordo com ela, os transtornos psiquiátricos em jovens podem se manifestar de formas diferentes em comparação aos adultos, e a identificação precoce é crucial. Dra. Josianne explica que mudanças de comportamento, irritabilidade, queda no desempenho escolar e desinteresse em atividades antes prazerosas são sinais de alerta que não devem ser ignorados. Segundo ela, a intervenção precoce pode melhorar significativamente a qualidade de vida e o desenvolvimento da criança ou do adolescente.

A psiquiatra pontua ainda que esse acompanhamento especializado é vital para a prevenção de agravamentos e suicídios. “Quanto mais cedo o tratamento adequado é iniciado, menores são os impactos na vida do jovem, pois ele garante intervenções adequadas ao estágio de desenvolvimento, proporcionando um cuidado mais eficaz e humanizado”, destaca.

Prevenção
A prevenção do suicídio entre jovens envolve estratégias que vão desde a educação e criação de um ambiente de apoio até o acesso a cuidados de saúde mental e intervenção precoce. Martins aponta que a identificação e tratamento precoce de transtornos psiquiátricos são essenciais para a prevenção do suicídio. Além disso, a supervisão contínua e a redução do acesso a meios de autoagressão são fundamentais.

A psiquiatra enfatiza a importância do Setembro Amarelo, realizado anualmente pela Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina. “Essa campanha visa reduzir o estigma das doenças psiquiátricas e, consequentemente, prevenir o suicídio. Falar sobre o tema é crucial para que as pessoas saibam que é possível ter ajuda”, conclui.

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