O Brasil poderá largar na frente mais uma vez com a produção e o uso do mais novo combustível renovável: o Hidrogênio Verde
No momento em que o mundo discute a redução do uso de combustíveis fósseis e a transição energética, o Brasil poderá largar na frente com mais uma alternativa de combustível renovável: o Hidrogênio Verde. A novidade, que poderá se tornar uma tendência em breve, foi revelada na última edição do Seminário Internacional Frotas & Fretes Verdes (FFV).
Organizado e promovido pelo Instituto Besc, o evento aconteceu nesta semana na cidade de São Paulo, com transmissão online realizada pelo canal do YouTube da entidade, reuniu os principais executivos e empresas do setor de logística e transporte de pessoas, para apresentar as tendências e o que já existe de alternativa para a evolução da matriz energética.
Durante a cerimônia de encerramento do seminário internacional, o professor da Universidade Federal Fluminense e membro do conselho do Instituto Besc, Aurélio Murta, comentou que, nos últimos onze anos, o evento vem antecipando as tendências que serão vistas nas fábricas e nas ruas do país.
As hidrelétricas e o programa Pró-Álcool são dois exemplos que mostram como o Brasil se coloca à frente de outros países neste movimento de independência dos combustíveis fósseis. Com o Acordo de Paris, que defende a redução das emissões de gás carbônico até 2050, uma nova solução pode colocar o país novamente em posição de destaque internacional.
O chamado Hidrogênio Verde (H2V) é produzido a partir do processo de eletrólise da água, que acontece a partir de uma carga elétrica que separa os elementos e isola o H2V. Como o Brasil se utiliza, em sua maioria, de fontes de energia renováveis, a produção do novo combustível seria ‘limpa’ e um outro fator a ser considerado: o H2V não emite gás carbônico.
O processo de produção do H2V, como explica o professor Murta, demanda estudos para “reduzir a quantidade de energia necessária e utilizar energia proveniente de fontes limpas”.
Marcel Haratz, Founder e CEO da Comerc Eficiência, participou da sessão 4 do seminário. Falando sobre o Hidrogênio Verde, o executivo destacou que o Brasil está pronto para realizar a produção do novo combustível e isso dará uma vantagem competitiva importante para o país.
De acordo com Haratz, o mercado nacional, em grande escala, aparece como uma das oportunidades do H2V no país. Em estudos preliminares, apresentou o executivo: a célula combustível para carros de passeio teve o seguinte resultado: com 1 quilo de H2 foi possível rodar 150 quilômetros.
Outro mercado importante seria o de fertilizantes. Com a chegada e uso do hidrogênio, o Brasil poderia depender menos de parceiros internacionais para a importação da amônia. Dessa forma, o agronegócio teria uma redução de custo de produção e um aumento de competitividade internacional.
Durante o seminário, o representante da Marcopolo, Renato Florence, que tem o transporte de passageiros como um dos serviços do portfólio, sinalizou que a empresa já está desenvolvendo projetos para a utilização do Hidrogênio Verde na frota, e a nova opção de combustível foi apontada como promissora pelo executivo.
O novo combustível poderá ser utilizado também na “indústria química, em refinarias de petróleo, na indústria alimentícia, na metalurgia e na produção de cimento e aço, como exemplica Aurélio Murta. O docente ainda acrescenta, “o hidrogênio verde se coloca no mercado de energia como mais uma opção interessante para ser estudada e utilizada futuramente em larga escala para diversos setores que demandam as diversas formas de energia disponíveis”, conclui.
Mais tendências
O futuro dos combustíveis deverá oferecer diversos caminhos para empresas e consumidores. O gás natural e a energia elétrica foram outras opções apresentadas durante o FFV.
Como sinalizou André Leopoldo e Silva, diretor geral da Morada Logística, durante apresentação no evento, quatro alternativas aparecem no horizonte: HVO (diesel verde), gás, eletricidade e hidrogênio. O executivo revelou que a empresa dele, em estudos, entendeu que para o transporte urbano, o motor elétrico apareceu com bom desempenho e para viagens de longa distância, a escolha foi pelo gás.
O diretor ainda lembrou que em 2019, a empresa, a partir de uma parceria com a Scania, realizou um teste com um caminhão movido 100% pelo gás GNC, que pode ser obtido a partir de matérias orgânicas, como compostagens e bagaços de cana de açúcar.
O futuro dos combustíveis já é uma realidade no país, como lembrou Guilherme Santana Freitas, Head de GNV da Comgás S. A. Em sua fala durante o XI Seminário Internacional Frotas & Fretes Verdes, o executivo ainda apresentou um panorama do uso do Gás Natural em veículos pesados no mundo. No Brasil, cerca de 500 veículos já utilizam o gás como alternativa.
Além do gás ser mais limpo, Guilherme Santana Freitas destacou que existe uma preocupação em equilibrar a viabilidade econômica e a sustentabilidade para difundir ainda mais o uso desse combustível. Hoje, como disse o executivo, já se sabe que o GNV apresenta uma economia de 13% a 26% no custo do quilômetro rodado.
Mesmo com a previsão de redução do uso de combustíveis de origem fóssil, a gerente de Desempenho em Emissões e Eficiência Energética da Petrobras, Fernanda Diniz, defendeu que a empresa tem como meta oferecer uma energia limpa e abundante, mas “todo e qualquer cenário que a gente estuda, considera-se um papel fundamental do petróleo em 2050”. Sendo assim, mesmo seguindo a agenda de Paris, que prevê a redução dos derivados do petróleo, esse item não será completamente esquecido no futuro.