Frotas e Fretes Verdes: Executivos e especialistas apresentam soluções para a transição energética e o futuro da mobilidade e logística no país

Foto: Raquel Paternostro/Portal Contexto

Em mais uma edição do Seminário Internacional Frotas & Fretes Verdes, especialistas mostraram como o país está se preparando para um futuro mais sustentável e inovador

Durante os dois dias do XI Seminário Internacional Frotas & Fretes Verdes, organizado pelo Instituto Besc, especialistas, executivos e autoridades estiveram reunidos em São Paulo para debater a transição energética, apresentar novas soluções no setor de logística e mobilidade urbana.

Foram realizadas cinco sessões de debate com a participação de mais de 20 representantes das principais empresas do setor que atuam no país, que falaram sobre temas que englobam: sustentabilidade, inovação e metodologia ESG. Durante as mesas, os executivos apresentaram o que já é realidade no mercado brasileiro e as metas para o futuro, que visam o maior equilíbrio com a questão ambiental, e tornar o país mais competitivo no aspecto econômico.

A transição da matriz energética e a descarbonização das frotas já aparecem como uma realidade no Brasil e no mundo. Exemplos que sinalizam a chegada do futuro é o desenvolvimento e utilização de combustíveis alternativos, biocombustível ou o gás. A eletrificação da frota já está presente uma realidade em montadoras e, um bom exemplo, apresentado durante o evento, foi o projeto da Universidade Federal de Santa Maria, a Rota Mercosul.

Durante a cerimônia de encerramento, realizada nesta quarta-feira (26), em São Paulo, a presidente do Instituto Besc, Jussara Ribeiro, aproveitou para agradecer a todos que trabalharam e viabilizaram a realização de mais uma edição do seminário Frotas & Fretes Verdes, além da audiência do evento presencial e online. “É muito gratificante e amanhã, nós já começamos a pensar no Frotas 2023”, disse.

O conselheiro do Instituto Besc, professor da Universidade Fluminense Aurélio Murta, lembrou que o que é visto e debatido no FFV é uma prévia do que será visto no futuro, e exemplificou: “biocoke”. 

Todas as sessões podem ser revistas no canal do YouTube do Instituto Besc: 

Confira um breve resumo dos debates das cinco sessões da XI edição do Seminário Internacional Frotas & Fretes Verdes:

Sessão 1: Soluções Tecnológicas Sustentáveis e Disruptivas

As apresentações começaram no dia 25 de outubro com a primeira sessão, essa teve como tema: “Soluções Tecnológicas Sustentáveis e Disruptivas”. 

Para começar o debate, o mediador Ricardo Chuahy, diretor da Risc Negócios, destacou as inovações que já fazem parte do cotidiano das pessoas, como as de tags de pagamento, a substituição do papel pelo digital, a utilização dos pagamentos digitais, feitos através dos gadgets, como os smartwatches, além do uso da mobilidade como um serviço. 

O primeiro palestrante da mesa foi o representante da Nstech, Cileneu Nunes, que abordou a atuação das startups no momento presente. O executivo destacou que a Nstech atua com “o propósito de melhorar o mundo através da tecnologia para logística e mobilidade”, a empresa conta com uma aceleradora que busca novos empreendedores que estejam em sintonia com os valores da empresa.  

O executivo trouxe exemplos das startups aceleradas pela Nstech e como as iniciativas estão atuando. Entre as soluções desenvolvidas estão as plataformas de gestão e operação da logística, com foco no consumidor, as startups estão propondo a gamificação e o uso do cashback para incentivar o descarte seletivo do lixo nos condomínios.

Na sequência foi a vez de Wesley Figueira, gerente Nacional de Vendas e Relacionamento da Veloe. No início da fala, o palestrante destacou o prejuízo gerado por problemas de mobilidade e engarrafamento, dessa forma, é importante pensar meios modernos para trazer mais fluidez ao trânsito nas cidades e rodovias, e essa é a solução proposta pela Veloe.

“Ao parar na cabine (para pagar o pedágio), o gasto de combustível aumenta em 5%”, Wesley Figueira ainda acrescentou, “tirar o carro da inércia aumenta o gasto”, e segundo o palestrante, é possível pensar em soluções simples para ajudar a atingir o máximo de potencial da operação. 

O futuro dos combustíveis já é uma realidade no país, como lembrou Guilherme Santana Freitas, Head de GNV da Comgás S. A. Em sua fala, o executivo ainda apresentou um panorama do uso do Gás Natural em veículos pesados no mundo. No Brasil, cerca de 500 veículos já utilizam o gás como alternativa. 

Além de ser um combustível mais limpo, Guilherme Santana Freitas destacou que existe uma preocupação em equilibrar a viabilidade econômica e a sustentabilidade para difundir ainda mais o uso do gás. Hoje, já se sabe que o GNV apresenta uma economia de 13 a 26% no custo do KM rodado.

A empresa atualmente desenvolve em parceria com montadoras e fabricantes soluções para viabilizar a infraestrutura necessária, sem esquecer do estudo das rotas para que os caminhões consigam rodar e possam abastecer sem problemas. Mais uma ação que já está em prática é o estudo de viabilidade para a utilização do gás no transporte público das cidades.

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Foto: Andrea Naomi

O founder e CEO da startup Meu Chapa, João Biarari, apresentou a solução proposta pela logtech. O palestrante começou citando que no país mais de meio milhão de brasileiros fazem o trabalho de cargas e descargas de caminhões. A solução conecta os ‘chapas’ às empresas de transporte de carga. “O ‘chapa’ é um invisível social, ele está dentro da cadeia de valor, mas não é visto como uma peça fundamental”, disse.

A plataforma, de acordo com Biarari, deu visibilidade ao ‘Chapa’ e seguindo a metodologia ESG, a solução vem proporcionando o aumento da participação feminina na função, além de proporcionar uma melhoria na renda dessas pessoas. 

Para os clientes, a plataforma tornou a cadeia totalmente rastreável, o que facilita a gestão da logística. Atuando em 21 estados brasileiros, a startup já tem operação no mesmo formato em outros países, como nos Estados Unidos.

O founder e CEO da Acta Robotics, Marcus Lima, encerrou a primeira sessão do XI Seminário Internacional Frotas & Fretes Verdes. A empresa oferece atualmente soluções em automação, P&D, manutenção e aluguel de robôs, uma opção nacional para contribuir com as empresas brasileiras.

Lima ainda destacou que muitas empresas ainda precisam alinhar os departamentos para conseguir abrir portas e aproveitar melhor as inovações e a parceria com startups, sendo a centralização e simplificação dos processos passos importantes rumo à inovação.

Sessão 2: Melhores Práticas em Sustentabilidade

O diretor da Scania Latin America, Gustavo Bonini, foi escolhido como mediador do painel que contou com a participação de três convidados para debater o tema e apresentar soluções atuais. 

André Leopoldo e Silva, diretor geral da Morada Logística, abriu a sessão e discorreu sobre “Experiência de Operadores Logísticos no Transporte de Carga com Combustíveis Alternativos”. Para começar, o diretor apresentou a Morada, uma empresa fundada na década de 1960 e que hoje dispõe de mais de 1.400 equipamentos, além de mais de 200 mil m2 de área operacional. 

“A sigla ESG é uma compilação de boas práticas, de alguma maneira, nós já vínhamos fazendo ao longo do tempo”, disse André Leopoldo e Silva, que acrescentou que o mercado tem novas expectativas, além do tempo e custo, agora a sustentabilidade e outras questões, até sociais, fazem parte do perfil atual do cliente.

Sobre os combustíveis alternativos, o diretor apresentou quatro opções: HVO, gás (GNC, GNL, eletricidade e o hidrogênio. E olhando as alternativas, a Morada escolheu a opção elétrica para o transporte urbano e para as longas distâncias, a escolha foi pelo gás. 

A partir de uma parceria com a Scania foi possível testar o primeiro 100% GNC no país em 2019. A expectativa para o próximo biênio (2023/24) é ter um frete verde com mais pontos verdes de abastecimento, inclusive, esse sendo interno, podendo ser realizado dentro das transportadoras.  

Patricia Pereira, gerente de Sustentabilidade do Grupo Simpar, deu sequência ao debate e falou sobre “Mudanças Climáticas: Desafios e Oportunidades no Setor de Logística”. A gerente apresentou um panorama do grupo, e trouxe o exemplo da JSL dentro da implementação da agenda ESG. 

Fechando a segunda sessão, Vinícius Pilz, presidente da Reiter Log, trouxe o tema “Logística Verde” para o debate. 

Sessão 3: Alternativas Energéticas para Processos Produtivos e de Transporte Mediador

Com o tema: Alternativas Energéticas para Processos Produtivos e de Transporte Mediador e a mediação do gerente geral de sustentabilidade da CBA, Leandro Campos de Faria, a terceira sessão encerrou o primeiro dia do XI Seminário Internacional Frotas & Fretes Verdes.

A gerente de Desempenho em Emissões e Eficiência Energética da Petrobras, Fernanda Diniz, abriu a Sessão 3 e apresentou as ações da Petrobras voltadas para a transição energética. 

A empresa tem como meta oferecer uma energia limpa e abundante, mas como lembrou a palestrante, “todo e qualquer cenário que a gente estuda considera um papel fundamental do petróleo em 2050”. Sendo assim, mesmo seguindo a agenda de Paris, que prevê a redução dos derivados do petróleo, esse item não será completamente esquecido no futuro. 

A gerente ainda apresentou as ações da Petrobras no desenvolvimento do biocombustível e adiantou que os testes realizados com o Diesel R5 em Curitiba no transporte coletivo apresentaram resultados promissores. Já na aviação, o bioQAV ainda se encontra na fase de desenvolvimento e pesquisa.

As ações, de acordo com a palestrante, reforçam o compromisso da empresa e o entendimento de que oferecer “um produto descarbonizado será um diferencial no futuro”. 

O Gerente Executivo de Desenvolvimento de Caminhões da Scania Latin America, Maurício Torrão, apresentou as novidades da empresa com relação às metas climáticas e o executivo acredita que o futuro será “eclético”, com mais de uma opção de combustível alternativo. 

Sobre o Acordo de Paris, a Scania, de acordo com Torrão, tem o compromisso de bater a meta estipulada em 2040 e isso será possível com a redução “agressiva” no consumo de água, na emissão de gás carbônico e de energia elétrica na produção de novos veículos, por exemplo.

Seguindo a programação, Marcio Massakiti, coordenador de Projetos de P&D na área de Energias Renováveis de Itaipu Binacional, apresentou os projetos da usina e destacou que o Brasil aparece como um bom exemplo para o mundo por ter as hidrelétricas e outras fontes de energia renovável na matriz energética. 

Na relação entre emissões totais versus energia e PIB, enquanto o mundo apresenta índice médio de 0,23, no Brasil, a taxa média fica em 0,14.

Naiade Araki Gonçalves, especialista em Sustentabilidade e Meio Ambiente Biometano da Gerdau S.A., falou sobre o “BioCoke: Uso de Biomassa para Redução de Emissões de GEE”

Eduardo Lima, membro do Conselho Diretivo da Gás Verde, trouxe o seguinte tema: “Biometano, a solução ambiental para frotas e fretes verdes”. 

Luiz Claudio Mandarino, sócio e idealizador do Energy Hub Ventures tratou da “Inovação como Alavanca para a Segurança e Transição Energética”. 

Sessão 4: Evolução e Futuro da Logística e da Propulsão de Motores 

A sessão que abriu o segundo dia do XI Seminário Internacional FFV contou com a mediação do diretor de Peças & Marketing da MWM Motores e Geradores, Thomas Püschel, e teve cinco palestrantes.

O diretor de Tecnologia da Randon Implementos, Juliano Pimentel, apresentou as novidades da empresa para os semirreboques. O executivo construiu um panorama mostrando o aumento da complexidade e dos requisitos dentro do mercado de logística. Atualmente, o cliente demanda mais velocidade no transporte e de outras informações, por exemplo, qual a temperatura da carga durante a viagem?

A evolução do agronegócio impulsionou as melhorias do semirreboque, que passou a ter condições de transportar mais e com o desafio de seguir a agenda ESG, deixando assim, o país ainda mais competitivo.

Alzenira da Rosa Abaide, professora do Departamento de Eletromecânica e Sistemas de Potência da  Universidade Federal de Santa Maria, abriu a palestra parabenizando o Instituto Besc ao colocar o mercado e centros de pesquisa em um mesmo espaço para dialogar. 

A docente mostrou as parcerias existentes entre o mercado e a academia, e atualmente, a intenção é buscar encontrar soluções para problemas reais, um dos projetos desenvolvidos é a Rota Mercosul, que tem como proposta instalar pontos de recarga elétrica para os veículos que circulam por essa rota.  

O Uruguai hoje já apresenta várias estações de recarga (ER) elétrica para veículos, e com o projeto da UFSM, os pontos estão se multiplicando para que nenhum carro que entre na Rota Mercosul fique sem abastecimento. Junto a cada Estação de recarga é previsto a instalação de placas fotovoltaicas para garantir a sustentabilidade.

O projeto inclui estudos relativos à autonomia dos veículos, a distância entre as ER e outros itens como conforto térmico, o uso de aquecedor nos carros reduz a carga. Várias cidades já foram elencadas para receber as ER como Torres, Cristal, Pelotas e Jaguarão.

Felipe Bottosso, gerente sênior de Engenharia de Sistemas da Wabtec Corporation, levou o seminário a ocupar os trilhos, e trouxe um breve histórico das tecnologias aplicadas nas locomotivas do transporte ferroviário, que foram evoluindo ao passar das décadas, considerando eficiência energética, sustentabilidade e a transição energética.

Renato Florence, gerente de Engenharia de Planejamento e Desenvolvimento da Marcopolo, abriu a palestra apresentando a empresa de transporte de pessoas, além de ter um braço de inovação e transporte sobre trilhos. Atualmente, o portfólio da companhia conta com um ônibus elétrico totalmente nacional.

A maior frota de ônibus urbano da América está em São Paulo e o grande desafio é realizar a substituição da frota diesel pela elétrica. Reduzindo assim, a poluição sonora e a do ar. Mais uma vantagem é o custo operacional menor para as empresas de ônibus. 

A Marcopolo ainda está desenvolvendo projetos para a utilização do Hidrogênio Verde na frota, outra opção de combustível, apontada como promissora.

Marcel Haratz, Founder e CEO da Comerc Eficiência, encerrou a sessão 4 do seminário. Falando sobre o Hidrogênio Verde, o executivo destacou que o Brasil está pronto para realizar a produção do novo combustível e isso dará uma vantagem competitiva importante para o país. 

O mercado nacional em grande escala aparece como uma das oportunidades do H2V no país. O novo combustível não emite gás carbônico, e o processo de obtenção vai a partir da eletrólise da água, utilizando assim energia limpa. 

Em estudos preliminares, a célula combustível para carros de passeio teve o seguinte resultado: com 1 quilo de H2 foi possível rodar 150 quilômetros. Outro mercado importante seria o de fertilizantes, com a chegada e uso do hidrogênio, o Brasil poderia depender menos de parceiros internacionais para a importação da amônia. Dessa forma, os produtos do agronegócio poderiam ter uma redução de preço e um aumento de competitividade.

Sessão 5: Meio Ambiente, Aspectos Sociais e de Governança (ESG) na Logística

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Participantes da última sessão do FFV 2022. Foto: Andrea Naomi

A última sessão do seminário promovido pelo Instituto Besc contou com a mediação do diretor executivo de Desenvolvimento de Novos Negócios da JSL S.A., Fabio Velloso e a participação de cinco palestrantes. 

O general Ridauto Lúcio Fernandes, diretor do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde, compartilhou a experiência da iniciativa pública no setor de logística. Atualmente, a pasta não é mais responsável pelo transporte, a contratação agora se dá pelos editais, e isso proporcionou mais agilidade para levar para estados e municípios itens fundamentais para a saúde das pessoas, como o caso de respiradores ou vacinas durante a pandemia da Covid-19. 

O diretor afirmou que o ministério representa o maior comprador único de medicamentos em todo o mundo, em um sistema tripartite, a pasta consegue ter uma capilaridade relevante e assim prover apoio a estados, municípios e o Distrito Federal.  

Em seguida, Ariane Buzanello Negrão, Head de produtos da Edenred Brasil Participações – Divisão Ticket Log, trouxe a experiência do programa de carbono da Ticket Log chamado de Move for Good, que além da questão ambiental gera impactos positivos nas questões sociais.

Falando em questões sociais, Cláudio Anjos, presidente da Fundação Iochpe, apresentou o Programa Formare, uma oportunidade de formação e capacitação para jovens, que gera valor para os participantes e para as famílias. Os ex-participantes se encontram empregados em grandes empresas em várias partes do mundo. 

Marcos Mello, diretor regional de Consultoria de Riscos Latam & Caribbean daMarsh Corretora de Seguros, abordou os “Riscos ESG no Setor Logístico”

Rodrigo Peres Barcellos, Head administrativo e financeiro do Pró-Frotas, startup da Ipiranga. O “ESG veio para ficar”, o executivo mostra como as mudanças no comportamento do consumidor impactam na adoção e manutenção das práticas ESG. Ele ainda exemplificou ações que fazem parte da nova agenda: redução de emissão, valorização das pessoas e diversidade da equipe e transparência na administração da empresa.

As boas práticas podem agregar valores relevantes para as empresas, como a retenção de talentos, “investir em ESG traz um retorno a média e longo prazo”. 

Como exemplo, Barcellos cita as ações da Ipiranga, a empresa adotou medidas como a licença parental para pessoas LGBTQIA+, abriu programas para a formação de mulheres na liderança. 

De olho na transição energética, a companhia já dispõe de 50 pontos com recarga elétrica, com mais 40 previstos e o cartão carbono zero. Entre as metas da empresa para 2030 estão 50% de equidade de gênero e etnia nas lideranças e mais um case é o próprio Pró-Frotas, que oferece um sistema totalmente digital para gestão de abastecimento digital e gratuita do país. 

 

 

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