Especialista avalia alta da taxa Selic

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O Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) elevou mais uma vez a nossa taxa básica de juros (a taxa Selic), para 14,75% ao ano – em linha com a sinalização da última reunião.

Os motivos por trás da elevação da Selic vieram principalmente do palco doméstico, diante de uma economia aquecida, inflação acima da meta e incertezas fiscais persistentes. O ambiente externo também influenciou a decisão, contribuindo para o tom cauteloso do comitê, diante de receios de uma desaceleração global, fruto de incertezas derivadas a política comercial americana.

Para entender melhor os efeitos da mudança, o especialista Antônio Sanches responde às questões abaixo:

A decisão

O Copom optou por elevar a Selic em 0,50 ponto percentual, para 14,75% ao ano, dando continuidade ao ciclo de alta de juros iniciado em setembro de 2024.

Acreditamos que o Banco Central deverá manter a taxa Selic em patamar contracionista, próximo a 15,00%, até ao menos o fim desse ano. Nesse nível, o objetivo é a desaceleração da economia – tornando o crédito mais caro, desincentivando o consumo, incentivando o investimento e, assim, reduzindo a demanda por bens e serviços e reduzindo a pressão sobre os preços.

Mas os juros não devem seguir para sempre em alta

A elevação dos juros pode ser vista como um “remédio amargo, porém necessário, para conter uma doença ainda pior: a inflação”.

Nesse contexto, embora projetemos que a Selic siga em patamar elevado nos próximos meses, a nossa taxa básica de juros não deverá seguir em nível contracionista de maneira permanente.

Diante dos desafios do cenário inflacionário doméstico, não vemos o início de um ciclo de corte de juros tão cedo. Dito isso, acreditamos que o Copom poderá encontrar espaço para um início de corte de juros em meados de 2026, mesmo que gradual. Isso se o “remédio” tiver surtido seu efeito até lá.

Vou sentir a alta dos de juros?

Para o dia a dia do brasileiro, pouca coisa muda com a elevação da Selic para 14,75% especialmente no curto prazo.

Isso porque mudanças na taxa básica de juros demoram a ser sentidas na economia – chamamos esse efeito de “defasagem da política monetária”. No Brasil, o intervalo para que alterações na Selic sejam refletidas nas taxas para empresas e pessoas física varia de 3 a 12 meses.

Vale lembrar: a política monetária opera com defasagem, fazendo com que o Banco Central sempre mire o que chamamos de “horizonte relevante de política monetária”. Em outras palavras, como os efeitos da taxa Selic demoram a ser sentidos na economia, o objetivo de trazer a inflação para a meta sempre irá considerar as projeções da inflação no futuro – e não necessariamente a inflação que vemos hoje.

Além disso, o impacto também varia de acordo com a modalidade do crédito. Por exemplo, a variação de 1p.p. na taxa Selic leva a uma variação quatro vezes maior nos juros médios do cheque especial ao longo de doze meses (conforme estudo do Banco Central). Já outros tipos de crédito, como o imobiliário e para veículos, são impactados em um período de 6 e 3 meses em média, respectivamente.

Assim, a sensação de aperto das condições financeiras deve ganhar força gradualmente, especialmente na segunda metade desse ano.

Renda fixa segue atrativa

Diante da elevação da taxa de juros no patamar contracionista, a renda fixa brasileira segue atrativa – garantindo retornos elevados para investimentos pós fixados e reserva de emergência.

Além disso, diante de um cenário onde a inflação segue um risco no longo prazo, títulos de renda fixa atrelados à índices de preço seguem uma excelente proteção para seus investimentos – dando espaço para vencimentos mais longos, com prazo médio de seis anos.

Para os pré-fixados, o último mês foi marcado pela redução das taxas observadas incorporando uma menor percepção do risco fiscal. Para essa classe, mantemos nossa recomendação para pré-fixados e bastante cautelosa, priorizando vencimentos de curto prazo (1,5-2 anos) e oportunidades pontuais em títulos privados.

Dito isso, o momento segue propício por um bom equilíbrio entre os diferentes indexadores na carteira do investidor.

Selic em alta pede cautela, mas não o fim da diversificação na bolsa

Independente da taxa Selic em patamar elevado, a diversificação dos investimentos segue a melhor amiga de bons retornos no longo prazo. Além disso, vale destacar que seguimos vendo a bolsa brasileira como barata (comparada ao histórico recente e a pares emergentes), e uma frente de oportunidades para investidores com horizonte de longo prazo.

Dito isso, o cenário de juros altos por mais tempo contribui para um ambiente mais desafiador para empresas – e assim, investimentos na bolsa.

Essa dinâmica é sentida principalmente por ações mais sensíveis aos movimentos dos juros, como as cíclicas (ou seja, de empresas que atuam em setores que refletem de maneira mais clara o “sobe e desce” da economia) e com maior nível de alavancagem – em bom português, com maiores dívidas.

Nesse contexto, seguimos com nossa recomendação de manter um bom “filtro” para a escolha das empresas, buscando companhias com balanços mais sólidos, que possuam maior qualidade em seu negócio, e que possam oferecer resiliência em meio ao cenário doméstico ainda desafiador.

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