
A direita venceu as eleições legislativas em Portugal, realizadas neste domingo (18), com destaque para o crescimento expressivo do Chega, partido de extrema direita fundado por André Ventura. A legenda alcançou um número recorde de votos, totalizando 1,34 milhão (22,6%) e ampliando sua representação para 58 cadeiras no Parlamento, de um total de 230.
A eleição foi vencida pela Aliança Democrática (AD), coligação de centro-direita liderada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, que obteve 89 cadeiras e 32,1% dos votos, mas não atingiu maioria absoluta. O resultado configura um novo cenário político, sem precedentes, com avanço do Chega como possível principal força de oposição.
“Hoje acaba o bipartidarismo em Portugal”, declarou Ventura, em discurso na capital, ao afirmar que as pesquisas subestimaram o apoio popular ao partido. Ele reforçou a pauta conservadora e nacionalista, com propostas como tolerância zero à corrupção, penas mais duras para criminosos e restrições à imigração.
Montenegro, por sua vez, descartou qualquer aliança com o Chega e afirmou que pretende formar um governo minoritário, mesmo diante da fragmentação do Parlamento. “Os portugueses não querem mais eleições antecipadas, querem uma legislatura de quatro anos”, disse ele, reforçando o slogan de campanha: “Deixem Luís trabalhar”.
Recuo dos socialistas e renúncia de Pedro Nuno Santos
O Partido Socialista (PS), que governava o país, sofreu forte queda, passando de 78 para 58 cadeiras, o mesmo número conquistado pelo Chega. O resultado levou o líder socialista, Pedro Nuno Santos, a anunciar sua renúncia ao cargo.
A eleição foi convocada após o colapso de um governo minoritário da AD e segue um ciclo de instabilidade política, com três eleições legislativas em apenas três anos. A instabilidade pode impactar reformas estruturais e projetos estratégicos, como a privatização da TAP, o avanço na mineração de lítio e a gestão dos fundos da União Europeia.
Ascensão da extrema direita preocupa eleitores da esquerda
A ascensão do Chega, aliado de grupos europeus como o Reunião Nacional de Marine Le Pen e o AfD alemão, desperta preocupações com o fortalecimento do discurso populista em Portugal. Em Lisboa, alguns eleitores compararam o fenômeno ao crescimento da extrema direita nos Estados Unidos sob Donald Trump.
“Estamos em perigo. É só olhar o que Trump está fazendo”, alertou António Albuquerque, 65 anos, que se absteve pela primeira vez por não confiar em nenhum dos partidos.