A Luta do Luto

Luto

Olá, amigos leitores da coluna “Bastidores de Você”. No texto de hoje escrevo sobre o Luto, seu papel em nossas vidas, os motivos para a sua existência. Tentarei, dentro do possível, trazer um certo sentido a essa dor que cada um de nós vive ou em algum momento já viveu.

Antes de mais nada, quero fazer aqui um alerta, o luto não nos atinge somente quando perdemos alguém por conta da morte. Aliás este é nosso primeiro engano, pois o luto se apresenta todas as vezes que perdemos algo que nos é muito importante. Assim, podemos sentir o enlutamento quando há uma perda de emprego, a perda de um animal doméstico, um relacionamento que termina de forma abrupta, uma amizade traída, enfim, em todos os momentos que algo que existia passa a não mais existir.

Então, o que seria o luto? A melhor definição que posso lhe dar é que ele consiste no tempo necessário para nossas mentes compreenderem aquilo que nosso coração já sente.

Assim, meus caros, é possível vivenciar o luto mesmo quando aquele objeto importante ainda não se foi definitivamente. Sabe aquele momento, em um relacionamento, que você sente que o amor acabou, mas ainda assim continua lutando para manter a situação? Isso não passa deste processo.

Aliás, é interessante a palavra luto, pois se de um lado ela pode ser um substantivo, por outro ela pode ser verbo, a primeira pessoa do singular do verbo lutar. Eu luto.

Isso nos descortina a primeira realidade, que o luto é um sentimento que temos que entender solitariamente. Não estou dizendo que nenhuma ajuda neste momento possa ocorrer, estou afirmando que o manejo do luto é uma experiência individual e cada um o fará de uma dada forma, bem como a experiência do luto em cada momento da vida de uma pessoa será diferente.

O luto tem uma força especial dentro de nós porque sabemos que aquele objeto perdido nunca mais vai retornar e essa é a nossa grande angústia, pois também nos revela a impotência diante de alguns fatores da vida.

Para Freud, o luto se caracteriza como um processo em que a pessoa sente uma tristeza profunda, donde seu desejo da pessoa é o de se afastar das atividades que não estejam atadas aos pensamentos sobre o objeto perdido. Isso faz com que a pessoa perca o interesse pelo mundo externo e a incapacidade de substituição com a adoção de um novo objeto de amor (FREUD, 1915).

Isto significa que no processo de luto, após a perda do objeto amado, toda carga de afeto que depositávamos naquele objeto fica sem um alvo para receber essa quantidade de energia psíquica, criando em nosso psiquismo um desbalanço. O processo de enlutamento é justamente o caminho do desinvestimento afetivo naquele objeto, para que se possa dar novo destino a essa quantidade de afeto.

Leon Tolstói já dizia que “apenas as pessoas que são capazes de amar fortemente podem sofrer grande tristeza, mas esta mesma necessidade de amar serve para neutralizar a sua dor e curar”.

Viver o luto é uma importante etapa na vida, pois uma boa resolução deste momento trará para a pessoa mais estabilidade no futuro. Assim, para cada objeto perdido, o luto perdurará por um determinado tempo, por exemplo, a perda de uma mãe, a pessoa experimentará o luto, em média por dois anos.

Elizabeth Kübler-Ross escreveu um livro onde ela descreve sobre o luto. Nesta nesta obra a autora afirma, com toda a razão, que o processo de enlutamento pode ser divido em etapas e que devem ser vividas sem qualquer tentativa de repressão, pois isso poderá causar mais danos psíquicos à pessoa. Uma “saída repentina” certamente no futuro irá cobrar o preço.

Em um primeiro momento ocorre a negação, onde a pessoa, como forma de se manter sólida, inconscientemente nega a existência daquele evento. No popular, “a ficha ainda não caiu”, ou seja, o evento está diante da pessoa mas ela mesmo reconhecendo o fato em si, seu inconsciente não aceita a realidade. É como se o corpo continuasse emanando aquela energia que descrevi acima e não percebesse que o alvo do investimento não mais estivesse ali.

Em um segundo momento surge um sentimento de raiva, pois a pessoa passa a se sentir injustiçada pela vida, neste momento, como um desdobramento da negação, o inconsciente da pessoa provoca a raiva como se cobrasse da vida a presença daquele objeto de afeto.

Na terceira etapa vem o processo de barganha, onde o inconsciente percebendo que não é mais possível a existência do objeto pelas vias usuais, passa a negociar saídas psíquicas mais producentes. A pessoa começa a buscar saídas psíquicas, criando “soluções mágicas” para uma tentativa de retorno daquele objeto perdido definitivamente. É muito comum nesses momentos haver o recurso de meios místicos como busca de preservação daquele objeto, como por exemplo, a busca de um “milagre”.

O quarto estágio, mais difícil de se lidar, é a fase depressiva, onde a pessoa percebe efetivamente que o objeto se perdeu definitivamente, jogando-a em um vale onde não há outra saída que não seja o repensar a vida. Neste momento, a pessoa se volta para si mesma, passa a sentir-se solitária e a dor é sofrida intensamente, pois torna-se constante.

Finalmente temos o último momento do enlutamento, quando, depois que a pessoa se fechou, consegue ressignificar as questões de sua vida, ela entra na fase final do processo, onde passa a aceitar o que ocorreu. Neste momento, a saudade que existe perde a marca da dor, ela passa a ser constituída de boas e agradáveis lembranças. Isso vai permitir que a pessoa passe a se reorganizar e viver de um modo mais tranquilo.

Quero finalizar o texto lembrando que a experiência do luto é somente sua e será única, a cada situação de sua vida. O importante é você saber que é um fato normal da vida. Não estamos dizendo que não vai doer. Junto com a perda vem sempre a dor, entender o processo não significa que ele não ocorrerá, pelo contrário, compreender o enlutamento pode dar uma dimensão para que você não lute contra a existência dele, pelo contrário, faz com que você passe melhor pelo processo.

 

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