A definição do Amor [Bastidores de Você]

Olá, meus amigos! Hoje escrevo sobre o amor, aliás, mais uma vez. Isso porque tal sentimento está difícil de ser compreendido nos dias em que estamos vivendo, pois a pandemia, mudando as relações sociais, nos colocou em uma posição que fomos obrigados a pensar sobre esse sentimento.

Começo fazendo uma pergunta muito forte! Será que a palavra amor tem alguma coisa a ver com o sentimento de amor?

Para responder a esta pergunta eu vou usarei de um artifício. Vou lhe pedir que tente definir o que é o amor, para você. Difícil, né? Se a resposta sua foi sim, acredite, você não está sozinho. Se soubéssemos definir o que é o amor, não teríamos tantos poetas dizendo sobre ele.

Então, proponho algo diferente para você, um exercício que é muito difícil para nós. Sugiro parar de racionalizar o amor. Compreendo a dificuldade de se fazer isso, mas também entendo que mesmo sendo difícil é possível.

Spinoza dizia que nosso corpo é um conjunto de estruturas que, ao se aglomerarem, são capazes de agir diante do mundo, gerando assim aquilo que ele definiria como potência em ato.

Acontece que, esse agir diante do mundo, em dados momentos, simplesmente não é possível. Quando isso ocorre, somos carregados como folhas ao vento. No amor acontece exatamente isso, somos afetados de uma maneira em que somos absolutamente impotentes. A este impactado, Spinoza nomeou como afecções.

Renato Russo, vocalista da banda Legião Urbana certa vez escreveu o seguinte:

Ela passou do meu lado

“Oi, amor” eu lhe falei

“Você está tão sozinha”

Ela então sorriu pra mim

Foi assim que a conheci

Naquele dia junto ao mar

As ondas vinham beijar a praia

O sol brilhava de tanta emoção

Um rosto lindo como o verão

E um beijo aconteceu

 

Spinoza afirmava que nas afecções ocorre o encontro de dois corpos, onde ambos são impactados mutuamente, sofrendo transformações involuntárias e o mesmo filósofo também explica que existem afecções que nos levam a uma capacidade de agir o chamado Afeto de Alegria, bem como o Afeto de Tristeza que nos leva a uma condição de menor potência, onde há uma diminuição na capacidade de agir.

Freud, mais tarde, iria chamar essas duas formas de afeto de Pulsão de Vida e de Morte, claro que, dentro de uma modulação um pouco diferente da afirmada por Spinoza.

Assim, o amor, para Spinoza seria “a alegria acompanhada de uma causa exterior” e essa alegria seria a “passagem para um estado mais potente do próprio ser”.

Fiz toda essa digressão para apontar justamente uma falha que cometemos diariamente. Tentamos racionalizar tudo, inclusive o amor. Talvez, minhas palavras ao longo da primeira parte do texto, tenham feito sentido para você, mas quero virar o rumo de nossa conversa e ir para onde me importa, que é propor uma mudança de leitura.

E se nós deixássemos de tentar definir o que é o amor, para que quando estivéssemos diante dele, pudéssemos estar livres da forma racionalizada, para apenas sentir o que se sente?

Talvez, seria mais fácil viver esse sentimento tão forte e tão transformador. É exatamente por isso que penso que antes de definir o amor, penso ser melhor gozar o sentimento, pois o amor é melhor vivido do que pensado.

A racionalização do amor está construindo uma gama de impactos que nos tem privado de sentir o amor, e, por conta disso, percebo as pessoas mais frias, pois estamos perdendo a capacidade de entender a linguagem dos sentimentos e estamos caindo na teia do racionalismo.

O amor, longe de ser definível como algo, é corpo em movimento, é alma em gozo. Não existem provas de amor, amor é um olhar, um sentir, um pulsar. Nossa racionalidade foi tão longe que aprendemos o que é o amor nos bancos escolares, nos livros de autoajuda. Enfim, racionalizamos o amor de tal modo que não sentimos sua existência no beijo, no suspiro, no cheiro.

Novamente recorro a Renato Russo, na mesma música “Hoje à noite não tem luar”, onde ele fala:

Lua de prata no céu
O brilho das estrelas no chão
Tenho certeza que não sonhava
A noite linda continuava
E a voz tão doce que me falava
O mundo pertence a nós

E hoje a noite não tem luar
E eu estou sem ela
Já não sei onde procurar
Não sei onde ela está

 

Portanto, o que tenho para deixar de mensagem final é: Ame, mas não meça o amor, simplesmente ame, seja qual amor for. Talvez quando paramos de racionalizar a vida, podemos perceber o brilho que ela tem por si só e também entender que amor não é para ser simplificado ao cativo das palavras, amor é verbo e como tal precisa ser conjugado.

 

 

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