Excesso de encontros virtuais geram uma espécie de “fadiga do Zoom”
Videoconferências e encontros virtuais foram a melhor alternativa para substituir a reunião de pessoas. Empresas de todo o mundo tiveram que adotar a modalidade, para dar continuidade ao ritmo de trabalho. Com a pandemia, os trabalhadores perceberam que o ritmo de trabalho em casa se potencializou, com isso, é cada vez mais comum ficar horas á fio em frente a web can para resolver os compromissos. Mas o excesso destes encontros virtuais, pode comprometer a saúde mental e ocasionar a “fadiga do Zoom”, segundo identificou a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Na tentativa de mostrar as consequências das videoconferências na saúde mental do brasileiros, a ABP realizou uma pesquisa que revela a elevação das queixas de pacientes, em razão da carga de trabalho por reuniões online nos últimos cinco meses. Quase 56,1 % dos psiquiatras entrevistados pela associação, relataram um aumento no número de declarações envolvendo problemas quanto as videoconferências.
“Os pacientes relataram que a “fadiga do zoom” é um fato na vida delas, que elas de fato aumentaram o trabalho via teleconferência e adoeceram, precisaram de ajuda”, disse o presidente da ABP, Antonio Geraldo da Silva.
O estudo feito em conjunto com psiquiatras associados da ABP, que atendem no Sistema Único de Saúde (SUS), no sistema privado e suplementar, mostrou que 63,3% destes profissionais perceberam um aumento de prescrição de psicotrópicos (remédios controlados), para tratar pessoas que tinham a queixa de excesso de trabalho por videoconferências. Os médicos associados da ABP perceberam ainda o aumento significativo de 70,1%, da necessidade de indicarem psicoterapia para os pacientes com a fadiga.
“É uma situação nova, é um fato novo. Mas estamos percebendo que há um cansaço das pessoas em usar a videoconferência, porque ela retira de você toda privacidade, aumenta sua carga de trabalho e sua carga de descanso fica comprometida e isso é, realmente, adoecedor”, disse Silva.
O presidente da ABP disse que como todos estão em casa, os horários estabelecidos no regime presencial foram rompidos. “Os chefes passaram a entender que as pessoas estão disponíveis 24 horas. No teletrabalho, muitas vezes, as pessoas entram em uma videoconferência às 8h e saem somente ao meio-dia”, disse Silva. “Houve uma perda dos limites relacionais”.
Na avaliação do presidente da ABP, o cuidado com a saúde mental da população deve ser direcionado a todos para haver uma mudança. Ressaltou que as preocupações com a onda de consequências à saúde mental derivadas da pandemia permanecem com tendência ascendente.
Segundo Silva, a agenda da saúde mental “é urgente e será um dos pilares para o bom enfrentamento às demais consequências trazidas pela pandemia. A saúde mental é a chave para enfrentarmos o cenário atual e seus desdobramentos”.
A ABP estima que há 50 milhões de pessoas com algum tipo de doença mental no Brasil. O país engloba o maior número de pessoas com casos de transtornos de ansiedade do mundo. São cerca de 19 milhões de casos, que correspondem a 9% da população. Além disso, o Brasil ocupa o segundo lugar no mundo e o primeiro na América Latina em pessoas com quadros depressivos.
*Com informações da Agência Brasil.