Pitaya é fonte para o desenvolvimento do corante natural coral vermelho-violeta

corante
Foto: Ana Paula Dionísio
  • O novo corante apresenta diversas nuances de vermelho, sendo de interesse para as indústrias alimentícias e de cosméticos. 

  • Desenvolvida pela Embrapa, a novidade poderá substituir os corantes importados

  • Pesquisadora acredita que o produto pode impulsionar a geração de emprego e renda no país, em especial, no nordeste brasileiro

  • No dia 14 deste mês, em evento híbrido, a Appibras realiza acontece o 1º Simpósio Brasiliero da Pitaya

Cientistas da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) desenvolveram um corante vermelho-violeta intenso, natural, obtido com tecnologia limpa e que faz bem à saúde. A variedade escolhida foi a Hylocereus polyrhizus (casca e polpa vermelhas), o produto está pronto para elevação de escala tecnológica junto a empresas interessadas em sua produção como alternativa promissora para o bilionário mercado de corantes.

A cor do produto aparece como uma das vantagens citadas pelos pesquisadores, dependendo da concentração, pode conferir diferentes nuances de vermelho, violeta e rosa. “É um insumo com características muito interessantes para os mercados alimentício e de cosméticos”, diz um dos criadores da novidade, o pesquisador Guilherme Julião Zocolo, coordenador do projeto.

De acordo com o cientista, nos últimos anos, as empresas têm migrado do uso de corantes artificiais para naturais, embora os primeiros apresentem menores custos de produção e características tecnológicas desejáveis. O consumidor tem rejeitado os corantes artificiais pela associação a doenças e a impactos ambientais.

O novo produto vem para substituir o carmim de cochonilha, o corante vermelho natural mais utilizado pela indústria, que apresenta algumas desvantagens. Produzido a partir de um inseto, esse corante pode causar alergia nas pessoas e nos mercados norte-americano e europeu, a indústria alimentícia é obrigada a informar em seus rótulos a presença de carmim de cochonilha para evitar reações em pessoas alérgicas.

A beterraba também pode perder espaço com o novo corante, e uma das vantagens é que a pitaya não tem aroma ou sabor, o que exige processos adicionais da indústria para neutralizá-la.

Vantagens para a indústria 

O engenheiro de alimentos da Embrapa Agroindústria Tropical Fernando Abreu explica que a fruta apresenta alto rendimento industrial da polpa, maior que 65%. Outra vantagem, de acordo com ele, é que para o processamento industrial basta redimensionar equipamentos já utilizados pelas indústrias de polpas de frutas.  “A polpa é fácil de trabalhar com tecnologias de corte ao meio e despolpamento por esmagamento, um tipo de extração usado para melão e já estabelecido”, diz. 

Ele salienta que o corante de pitaya confere uma coloração atrativa, que, quando utilizada em produtos lácteos, se assemelha ao morango.  O processo de produção industrial do corante desenvolvido na Embrapa utiliza a tecnologia de microfiltração por membranas. É um processo mais complexo e que, embora represente um custo maior, apresenta a vantagem de proporcionar rendimento muito maior na concentração. “Quanto mais concentrado, menor o custo de transporte e maior facilidade operacional”, diz. 

Bioeconomia e sustentabilidade

A pesquisadora Ana Paula Dionísio, da Embrapa Agroindústria Tropical, pontua que o processo de obtenção do corante, já em escala-piloto, segue princípios da Química Verde, vindo ao encontro de uma tendência de mercado cada vez mais próxima e de consumidores ainda mais ávidos por processos clean-label, ou “rótulo limpo”. Esse conceito vem ganhando força e está associado tanto à facilidade de compreensão dos rótulos pelos consumidores quanto à ideia de produtos mais “naturais”, ou seja, aqueles livres de conservantes e aditivos alimentares. 

O uso de uma fruta que se adapta aos mais diversos climas como ingrediente industrial pode ser classificado como um grande ativo de inovação. Essa tecnologia abre caminho para a criação de um novo nicho de mercado, ancorado também nos conceitos da bioeconomia, como observa o pesquisador Guilherme Julião Zocolo. Ele acredita que o desenvolvimento desse novo produto a partir de um ativo da biodiversidade cria grandes oportunidades de agregação de valor e renda para o agricultor e para a indústria.

“O desenvolvimento do corante baseia-se na bioeconomia, em que recursos naturais aliados à utilização de alta tecnologia agem em consonância com propósitos de criar produtos e serviços mais sustentáveis”, diz Zocolo. Para o pesquisador, uma grande vantagem do processo de produção é que podem ser utilizadas as frutas não selecionadas para o mercado de frutas de mesa, com o aproveitamento integral de cascas. Outro ponto importante é a substituição da importação de corantes naturais com essas mesmas características. “Essa tecnologia abre uma janela de oportunidade para estruturação de cadeia.” 

“O estabelecimento de sistemas de produção que atendam às demandas da indústria deve impactar positivamente pequenos, médios e grandes produtores rurais na região do Semiárido”, completa Ana Dionísio. Para ela, o corante de pitaya pode vir a ser uma nova fonte de geração de empregos, renda e desenvolvimento em regiões nordestinas fortemente atingidas pela seca. A pesquisadora lembra que a pitaya pode ser produzida por nove meses do ano e é uma cactácea de fácil cultivo.

Simpósio Brasileiro de Pitaya

A pitaya apresenta bons resultados para a saúde das pessoas, em testes de laboratório, ela foi eficaz para o controle do colesterol, da glicemia e da ansiedade. A fruta foi eficaz na redução do colesterol, do LDL e dos trigliceróis e na elevação do HDL. Em animais diabéticos, as doses 200 mg/kg e 400 mg/Kg apresentaram atividades farmacológicas promissoras, reduzindo significativamente a glicemia no grupo tratado. 

Os testes demonstraram efeito ansiolítico e ausência de toxicidade nas concentrações avaliadas. Além dos testes para determinação de atividades funcionais da fruta, os pesquisadores observaram os efeitos do processamento na composição metabólica, química, físico-química, enzimática e volátil da polpa da fruta. 

“A pitaya mostrou-se promissora para as indústrias de alimentos, ou até mesmo farmacêutica, como alimento funcional e fonte de compostos de interesse, que podem ser concentrados ou isolados, para amplificar seu efeito”, diz Guilherme Julião Zocolo, que coordenou também esses estudos.

Economicamente, a cultura da “fruta do dragão” abre oportunidades importantes de negócio para pequenos, médios e grandes produtores. O avanço das pesquisas como esta da Embrapa também possibilita a utilização da pitaya em outras frentes. 

Para incentivar o crescimento da produção nacional, a Associação dos Produtores de Pitayas do Brasil (Appibras) realiza o primeiro simpósio nacional sobre a fruta. O evento está marcado para o dia 14 de dezembro e terá formato híbrido, presencial em Juazeiro, na Bahia, e online.

Os ingressos podem ser adquiridos no link (https://www.sympla.com.br/1-simposio-brasileiro-das-pitayas__1410267)

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