
Estudo revela possível caminho para um novo tratamento da fibrilação atrial, condição que pode levar a AVC e insuficiência cardíaca
Um estudo inovador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) identificou uma proteína do sistema imunológico que pode estar diretamente envolvida no desenvolvimento da fibrilação atrial (FA), um tipo de arritmia cardíaca que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
Os pesquisadores descobriram que a interleucina 1 beta (IL-1β), uma proteína inflamatória, influencia a atividade elétrica do coração, criando condições para a FA. Essa condição está associada a riscos elevados de AVC, insuficiência cardíaca, infarto e até demência. A descoberta abre portas para novos tratamentos, principalmente para pacientes com doenças inflamatórias, como aterosclerose, hipertensão, obesidade e diabetes, que têm maior risco de desenvolver arritmias.
Publicada na renomada revista científica Nature Cardiovascular Research, a pesquisa ganhou destaque internacional, sendo citada por especialistas da Universidade de Harvard e pelo médico Eric Topol, referência global em cardiologia.
Fibrilação Atrial: um problema que pode afetar 1 em cada 3 pessoas
A fibrilação atrial é a arritmia mais comum no mundo e pode atingir até 30% da população ao longo da vida. Seus principais sintomas incluem palpitações, fadiga e falta de ar, mas, em muitos casos, pode ser silenciosa e descoberta apenas quando já provocou complicações mais graves, como AVC.
Hoje, os tratamentos disponíveis incluem medicações para controle da frequência cardíaca, anticoagulantes para reduzir o risco de AVC e procedimentos como a ablação cardíaca, que busca corrigir a arritmia. No entanto, cerca de 30% dos pacientes não respondem bem a essas opções.
“A descoberta da relação entre essa proteína inflamatória e a fibrilação atrial pode abrir um novo caminho para tratar esses pacientes”, explica o cardiologista Bruno Pereira Valdigem, do Hospital Albert Einstein e da Rede D’Or.
O que os cientistas descobriram?
Os pesquisadores testaram a hipótese em pacientes e camundongos, analisando amostras de pessoas com FA e comparando com indivíduos saudáveis. Eles identificaram que altos níveis de IL-1β estavam associados à presença da arritmia e, ao aplicar doses controladas dessa proteína em camundongos, perceberam que o coração deles ficava mais suscetível à FA.
Um detalhe surpreendente do estudo foi que a proteína IL-1β não atua diretamente no músculo do coração (os cardiomiócitos), mas sim nos macrófagos, células do sistema imunológico que residem no coração desde o nascimento. Essas células são responsáveis por enviar sinais que podem desencadear a arritmia.
“Antes, achávamos que toda a inflamação no coração vinha da circulação do sangue. Agora, sabemos que existe um ‘sistema imunológico interno’ dentro do coração, que pode ser um fator determinante no desenvolvimento da fibrilação atrial”, explica o pesquisador Emiliano Medei, coordenador do estudo.
Próximos passos: novos tratamentos no horizonte
Com essa descoberta, os cientistas agora estudam formas de bloquear a IL-1β para prevenir a fibrilação atrial em pessoas com risco elevado. A boa notícia é que já existem medicamentos que inibem essa proteína, o que pode acelerar o desenvolvimento de um novo tratamento.
Se os testes avançarem conforme esperado, ensaios clínicos em humanos poderão começar nos próximos dois ou três anos. Isso significaria uma abordagem inovadora para prevenir a fibrilação atrial antes que ela se torne um problema crônico, reduzindo significativamente o risco de AVC e outras complicações.
Conclusão
A pesquisa da UFRJ representa um avanço importante para entender como a inflamação influencia as arritmias cardíacas e abre um caminho promissor para o desenvolvimento de novos tratamentos preventivos.
Com a possibilidade de um medicamento eficaz para bloquear essa resposta inflamatória, pacientes com maior risco de fibrilação atrial poderão, no futuro, contar com uma opção mais segura e eficiente para evitar essa condição cardíaca tão comum e perigosa.