Crítica musical não é minha praia: na verdade, acho que nem seria ético da minha parte dar pitaco sobre os trabalhos de outros músicos. Mas aqui me sinto muito à vontade para dar espaço aos artistas que considero merecedores de atenção – principalmente pelo sentimento de que os grandes meios de comunicação, quase sempre, ficam a reboque das paradas de sucesso e de interesses comerciais.
Então, me aventuro a discorrer sobre as manifestações espontâneas, a sentir o calor das ruas, descobrir tendências que ainda não estão no mainstream – ou relembrar aquelas meio esquecidas! Afinal, é sempre válido reverenciar artistas que pautam suas carreiras pela qualidade.
E foi nesse espírito, pesquisando novidades no Spotify, que me deparei outro dia com o lançamento do single “Veneno”, da Mart’nália com o Johnny Hooker. A faixa estará no novo trabalho da cantora carioca (“Sou assim até mudar”), com previsão de lançamento para 26/02.
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A faixa caiu como uma luva nas vozes dos dois, com uma produção e arranjo muito bacanas. Mas é claro que foi inevitável lembrar, na hora, da Marina Lima – já que a versão de Nelson Motta para a canção italiana “Veleno” foi sucesso de seu clássico LP Fullgás (Universal Music, 1984).
Eu jurava que a composição era da Marina – e poderia muito bem ser: a cantora sempre imprimiu sua marca nas canções que interpretou, como fez lindamente em “Para um amor no Recife”, de Paulinho da Viola, em “Registros à meia-voz” (EMI, 1996).
O relançamento de “Veneno” me fez pensar como a Marina continua atual, cultuada por um grande público e revisitada por grandes nomes da MPB – e também novos talentos.
O CD “Qinho canta Marina”, do cantor e compositor carioca radicado em Sampa (como sua diva), é um ótimo exemplo. O álbum inclui faixas como “Charme do mundo”, “Uma noite e meia” e “Criança”, marcadas por levadas eletrônicas e teclados que acompanham Qinho e seu timbre de voz particular.
O trabalho começou com um show temático em 2016, “despretensioso”, relembra. Em seguida, Qinho foi convidado para gravar o programa Versões, do Canal BIS. Em 2017, saiu um EP independente com 4 faixas e, um ano depois, a gravadora Biscoito Fino lançou o trabalho completo.
“Foi incrível como esse projeto aconteceu de maneira orgânica, espontânea. Foi genial dar esse mergulho profundo no repertório da Marina. Considero seu encontro com Antônio Cícero um dos maiores da nossa música. Sua obra serviu como verdadeiro alimento para meu desenvolvimento musical e experimentação de linguagens”. Mas a despretensão deu certo: o CD já bateu 1 milhão de plays!!
“Esse foi meu primeiro trabalho lançado no novo formato da música digital, e me deu uma boa visibilidade nesse sentido. O show também é maravilhoso de fazer, com as pessoas cantando o tempo todo, muito emocionante”, conta Qinho, que se prepara para lançar, em março, uma série de singles em parceria com o selo LAB 334.
DOCUMENTÁRIO
Marina já fez participações em shows de Qinho, e seu diálogo musical com as novas gerações não para por aí: em seu último trabalho autoral, “Novas famílias” (EMI, 2018), ela contou com as participações do paulista Marcelo Jeneci e da carioca Letrux – que também assina parceria na faixa “Mãe gentil”.
Também tem música, é claro, com seu principal parceiro: Antônio Cícero. A propósito, o fato de o poeta e escritor ter conquistado uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, em 2017, só aumenta a importância da obra concebida junto com a irmã.
E parte dessa história chegou às telonas no documentário “Uma garota chamada Marina” (dir. Candé Salles, 2019). O filme foi feito ao longo de 10 anos e retrata a mudança da cantora do Rio para São Paulo, além de trazer imagens inéditas de acervo e entrevistas – gravadas principalmente durante a gravação do disco “Clímax” (Independente, 2011).
O longa participou da Mostra Competitiva do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade (2019). Atualmente está na programação do canal Curta! e disponível no site tamandua.tv.br.
Em suas redes sociais, Marina anunciou recentemente que lançará em breve um novo EP e um songbook. Fica a dica!
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