
O Brasil está dando um importante passo na transição energética e na descarbonização do setor marítimo com o desenvolvimento do primeiro barco movido a hidrogênio verde produzido a bordo, uma inovação mundial. O protótipo da Explorer H1, embarcação com propulsão 100% limpa e zero emissão de carbono, foi apresentado no Rio Boat Show, evento náutico realizado na Marina da Glória, até ontem (4). O barco completo será exibido pela primeira vez durante a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em novembro de 2025, em Belém (PA).
Ernani Paciornik, presidente do Grupo Náutica e da JAQ, uma das unidades do grupo responsável pelo projeto em parceria com o Itaipu Parquetec, destacou que o hidrogênio verde já é uma realidade e não apenas uma possibilidade futura. “Queremos provar que é viável navegar sem emitir carbono”, afirmou durante o painel “Transição Energética e COP30 – Desafios e caminhos para um futuro sustentável”, realizado no Rio Boat Show. Atualmente, 80% das mercadorias comercializadas globalmente são transportadas por navios, e a ONU prevê que o comércio marítimo cresça 2,1% até 2027. No entanto, o setor é uma das maiores fontes de poluição no transporte, com navios de cruzeiro, por exemplo, emitindo em média o dobro de CO2 por passageiro em comparação com aviões na mesma distância.
O projeto brasileiro busca revolucionar a navegação sustentável com a produção de duas embarcações: a Explorer H1 e a Explorer H2, ambas totalmente limpas. A iniciativa, liderada pela JAQ em parceria com o Itaipu Parquetec, centro de referência em hidrogênio verde no Brasil, representa um avanço tecnológico significativo. O protótipo da Explorer H1 foi exibido no evento, enquanto a versão final será apresentada na COP30.
Paciornik, que tem forte ligação com o setor náutico, acredita que a sustentabilidade é o futuro da indústria. “Passei a entender melhor o potencial do hidrogênio verde e enxergá-lo como uma grande solução limpa para a indústria”, comentou. O projeto está dividido em três fases, com investimento total estimado em R$ 150 milhões. A primeira fase inclui o lançamento da Explorer H1, uma embarcação para exposições que funcionará totalmente com hidrogênio verde, sem emissões. Na segunda fase, o mesmo modelo será adaptado para operar com motores híbridos (20% hidrogênio e 80% diesel), reduzindo em até 80% as emissões de CO2, mas ainda dependendo de postos de abastecimento.
A terceira fase, prevista para o próximo ano, marcará o lançamento da Explorer H2, que terá capacidade de produzir seu próprio hidrogênio a bordo, extraindo água do mar, dessalinizando-a e realizando o processo de eletrólise para separar o hidrogênio do oxigênio. Esse sistema inovador permitirá que o barco opere de forma 100% sustentável, emitindo apenas vapor de água.
Eduardo Colunna, diretor de Inovação Marítima da JAQ e presidente da Associação Náutica Acobar, explica que o grande diferencial do projeto é a produção de hidrogênio verde diretamente no barco, algo inédito no mundo. “O processo começa com a dessalinização da água do mar, seguida pela eletrólise, que quebra a molécula de água, liberando oxigênio puro. O hidrogênio é então recombinado com oxigênio em uma célula a combustível, gerando eletricidade para os motores e emitindo apenas vapor de água. É um ciclo totalmente limpo e sustentável”, detalha. Essa tecnologia pioneira coloca o Brasil na vanguarda da navegação ecológica, abrindo caminho para um futuro com transporte marítimo livre de emissões de carbono.