Em Brasília, grafites são modificados para alertar para violência contra mulher

Foto: divulgação/Artplan

 

Durante cinco dias, grafites e mobiliários urbanos foram modificados para ilustrar o projeto “Não deixe ela virar paisagem”

Murais de grafite com a proposta de conscientizar a sociedade sobre a naturalização de agressões contra a mulher chamaram a atenção do público na cidade de Brasília. As obras – criações das artistas Key Amorim (@keyamorim) e Ganjart ( ganjart3) – estão disponíveis nas estações de Metrô Praça do Relógio e Águas Claras, respectivamente. O trabalho – que busca chamar a atenção para o dia 25 de novembro, Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher – faz parte da iniciativa “Não deixe ela virar paisagem”, realizada pelo Instituto Gloria, plataforma de transformação social que possui uma rede de apoio para combater o ciclo de violência contra mulheres e meninas.

Apesar da similaridade das artes, há uma diferença que singulariza o trabalho de cada artista: enquanto Key Amorim ilustra uma mulher negra, Ganjart desenha uma mulher branca. O objetivo é sinalizar que a violência doméstica não escolhe cor, etnia ou classe social. A iniciativa também contou com mobiliários urbanos espalhados por Brasília, com réplicas da artista Key Amorim, reproduzidas digitalmente. Já a figura da mulher representada por Ganjart foi projetada em alguns painéis da cidade, seguindo a mesma lógica do mural.

Durante cinco dias, quem passou pelas obras com o olhar mais atento teve a oportunidade de perceber a transformação das ilustrações femininas, de uma representação confiante e sorridente para semblantes tristes e inseguros, cujas mudanças representam diversos tipos de violência, como física, psicológica, patrimonial e moral. Ambos os grafites sofreram as mesmas alterações e todas as intervenções no Metrô aconteceram durante a noite, como forma de representar o silêncio muitas vezes existente em casos de violência contra a mulher. Os mobiliários urbanos, igualmente, foram trocados durante a madrugada, com as mesmas modificações realizadas junto ao muro de sua estação correspondente.

Os grafites e a arte digital foram finalizados nesta sexta, dia 24 de novembro, revelando a seguinte mensagem: “Vários tipos de violência aconteceram nesse muro, mas muita gente não percebeu. Não deixe a violência contra a mulher virar paisagem. Denuncie. Ligue 180”. No mural, há também um QR Code, que direciona as pessoas para que possam ver a transformação completa da obra em um sistema de realidade aumentada.

“Violência contra a mulher sempre esteve relacionada com processos culturais, ou seja, tão normalizadas que impactam na não percepção social. Tudo vira paisagem. E o reflexo desta aceitação é o aumento contínuo da violência contra nós, mulheres”, conta Cristina Castro, fundadora e CEO do Instituto Gloria.

A ação “Não deixe ela virar paisagem” surge em um momento agravante, em que o gênero feminino é a principal estatística do mapa brasileiro da violência. Só em 2022, foram registrados 1.437 casos de violência à mulher no País, um aumento de 6,1%, em comparação com 2021 – quando foram relatadas 1.347 situações de vulnerabilidade, segundo o Anuário do Fórum Brasileiro da Segurança Pública 2023. O feminicídio também foi um dos crimes que teve aumento de registros no último ano. Sete em cada 10 mulheres perderam a vida dentro de casa, sendo assassinadas por parceiros íntimos (53,6%), ex-parceiros íntimos (19,4%) ou familiares (10,7%).

 

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