As lendas e os comuns

Olá caríssimo leitor, caríssima leitora,

No último domingo, mais de 200 mil pessoas lotaram os espaços em Interlagos, Autódromo José Carlos Pace (São Paulo). A Fórmula 1 atrai olhares e torcedores de todas as crenças, de diferentes locais e cores. Um evento espectacular que vai além do esporte, pois mexe com memórias afetivas, gera oportunidades de trabalho e nos leva a reflexões intrigantes. E aproveito para compartilhar com você.

O que separa uma lenda dos comuns

Pensando no esporte pode ser a quantidade de títulos, ou pensando em empresas, pode ser o valor material ou imaterial de uma marca. Para se tornar lenda o caminho pode ser longo, no entanto, uma atitude pode definir alguém como comum ou lenda?

Acredito que uma atitude não. Seria delicado pensar que apenas uma atitude nos coloca entre os bons ou entre os maus, no entanto, existem atitudes que só os bons são capazes de fazer, e isso vale no esporte, na vida e em qualquer lugar.

Voltemos para Interlagos. O campeonato de pilotos já tem um vencedor, mas o vice-campeonato ainda é uma vaga em disputa e esse título também tem valor, não é, Barrichello? 

Na teoria, duas equipes brigam para levar a honraria de ter um vice-campeão, a Red Bull e a Ferrari. A Mercedes corre muito por fora e só algo fora da curva colocaria Russell na disputa.

O fiel escudeiro Sérgio Perez chegou a estar entre os primeiros na corrida em São Paulo, mas caiu de posição e, na parte final da prova, foi superado pelo companheiro e já campeão da temporada, Max Verstappen. 

E em uma Fórmula 1 competitiva qualquer ponto ganho pode representar muito, dito isso, vamos olhar para a Ferrari. Charles LeClerc, que briga para ser vice também, foi atingido no início da prova e foi ‘remando’ até parar em quarto. À frente do monegasco estava também o companheiro de time, Carlos Sainz.

Era natural esperar que as equipes ordenassem a troca de posições na pista para que os pilotos pudessem marcar mais pontos e chegar com alguma vantagem para a última prova em Abu Dhabi.

Preciso dizer que lá na frente estava George Russell e Lewis Hamilton, os dois ingleses e do mesmo time. O novato da equipe Mercedes perguntou: vamos fazer 1-2 ou vamos correr? A resposta foi: corram, mas com respeito. 

Nas últimas voltas foi possível ver a diferença da lenda e dos comuns. 

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“Vencendo juntos”, diz a legenda da foto publicada pela Mercedes F1. Foto: Reprodução/Twitter @mercedesAMGF1

Sir Lewis Hamilton, que nessa semana se tornou cidadão brasileiro, o maior vencedor de todos os tempos da Fórmula 1 poderia ter acelerado para brigar por mais uma vitória e sim, ele não estava com os melhores pneus e se preocupou com quem estava atrás, no fim das contas, ele optou pelo time e por defender Russell de um possível ataque.

Já na Ferrari, Carlos Sainz não cedeu o lugar para o companheiro e foi para o pódio. Na Red Bull, a equipe fez o pedido, assim como os italianos, para a troca de posições, contudo, Max Verstappen disse que não ia fazer isso e como quem diz, eu já disse que não faço esse tipo de coisa e deixou Sergio Perez decepcionado. O mexicano, na última prova do ano passado e durante todo ano, teve um papel importante para que o companheiro pudesse celebrar o título do ano.

Bandeira quadriculada e Hamilton celebrou com a torcida e com o companheiro o grande resultado para a Mercedes. Foi a primeira vitória da equipe alemã na temporada e a primeira vitória do jovem George Russell. 

Sir Lewis não desfilou com a bandeira do Brasil pelo autódromo, revivendo um certo tricampeão, mas voltou a imitar o ídolo de certa forma. 

Voltemos no tempo. O ano era 1991, a corrida no Japão e um certo Ayrton Senna liderava, e ele sabia que seria campeão terminando em primeiro ou segundo, e na última volta, ele deixou Gerhard Berger, o fiel escudeiro, passar e vencer. A narração histórica de Galvão Bueno, o famoso “eu sabia, eu sabia”, ficou eternizada na memória do brasileiro.

Ao ver a atitude de três pilotos nesse último fim de semana, confirmo mais uma vez: o esporte não se limita a autódromo ou a estádios, afinal, são seres humanos que estão ali e nos escritórios, nas famílias… 

A questão que fica é: quais atitudes gostaríamos de ter perto de nós? E quem somos nós no dia a dia: lendas ou comuns?

Até a próxima!

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