Quem é você neste Natal?

Thiago Paz. Foto: divulgação

Mais do que arrumar a casa ou comprar presentes, talvez o convite mais urgente seja outro: preparar o coração, fazer silêncio e rever prioridades

O Natal é, para muitos, um tempo de festa, reencontros e nostalgia. As luzes nas ruas, as músicas que embalam a memória da infância e os presentes cuidadosamente escolhidos ajudam a criar um clima especial. Mas, se não tomarmos cuidado, tudo isso pode virar distração. Por trás da tradição, há um símbolo poderoso esperando para ser visto com um olhar mais atento, o presépio.

Ele não é só uma cena bonita com figuras de barro. É uma representação viva de como o divino entra no mundo: simples, discreto e no meio dos esquecidos. Mais do que uma lembrança religiosa, ele funciona como um espelho simbólico: onde você está nessa história? Quem você representa?

Maria está ali como o retrato da entrega confiante, aquela que aceita o mistério mesmo sem entender tudo. José mostra a força do cuidado silencioso, do que age sem precisar de aplausos. Os pastores, humildes e atentos, nos ensinam que não é preciso status para reconhecer o sagrado. Já os reis magos são o exemplo dos que buscam sinceridade, atravessando longas jornadas para se ajoelhar diante da verdade.

Mas há também os que não aparecem no presépio e isso é igualmente simbólico. Os moradores de Belém estavam ocupados demais para perceber o que acontecia ao lado. Herodes, por sua vez, representa o medo de perder o controle, preferindo eliminar o que ameaça seu poder. Esses personagens ausentes também falam de nós. Afinal, quantas vezes deixamos de perceber o essencial por estarmos apressados, distraídos ou fechados em nós mesmos?

A mensagem do presépio atravessa os séculos porque ela continua acontecendo. Deus segue vindo ao nosso encontro, mas raramente no palco iluminado. Ele escolhe o silêncio, o escondido, os cantos que ninguém vê. É preciso disposição interior para percebê-lo. Um olhar simbólico, aquele que enxerga além da aparência, ajuda a revelar essa presença sutil no meio da rotina.

Neste Natal, mais do que arrumar a casa ou comprar presentes, talvez o convite mais urgente seja outro: preparar o coração. Fazer silêncio. Rever prioridades. A beleza do presépio está justamente em sua simplicidade. Mas essa simplicidade exige de nós uma escolha que é acolher o mistério ou seguir distraídos. E não há tragédia maior do que estar perto do sagrado e permanecer indiferente.

Por isso, ao olhar para o presépio este ano, pergunte-se: “onde estou nessa cena? Com quem me pareço mais? Estou desperto ou adormecido?” O Natal é uma nova chance de se colocar dentro dessa história e não apenas assisti-la de fora.

“Cristo continua nascendo. A pergunta é: ainda temos espaço para Ele?” O presépio não é apenas memória, é escola de vida, altar de contemplação e ponto de partida da missão. Nele aprendemos o segredo da educação à maneira de Maria que se faz por presença simples, escuta atenta e amor concreto.

O presépio revela a humildade de Deus que se fez pequeno para alcançar os pequenos; ele é o nosso primeiro livro de espiritualidade. Ali, Maria nos convida a formar Jesus em nossos corações e nos corações dos jovens, com ternura e firmeza, como se cada um deles fosse o próprio Menino de Belém.

Thiago Paz é pastoralista no Colégio Marista de Brasília.00