O futuro já chegou, mas não para todos

O desafio da educação em tempos de Covid-19

Educação no futuro

É fato que, com a Covid-19, muitos pais estão trabalhando em casa e alguns até estão preferindo esse modelo. Eu mesmo passo muito mais tempo em casa do que antes, o que me permite, entre outras coisas, passar mais tempo com meu filho de 11 anos. Davi é um nativo digital: essa geração que parece preferir um computador do que uma bicicleta. Eles interagem remotamente em suas partidas de Roblox (jogo infantil online da plataforma da Microsoft) e ao que tudo indica, para ele as coisas não ficaram tão ruins assim. Claro que o momento exigiu um largo investimento em um computador melhor, internet melhor, fones de ouvido de qualidade, cadeira de qualidade, melhor iluminação no quarto, rearranjo da mesa de trabalho e adição de uma série de outros aparatos para que o impacto fosse o menor possível. A conclusão é que, no fim das contas, a tecnologia ajudou e hoje posso dizer que estamos 100% adaptados. Quando entrou 2021, no entanto, uma coisa ficou no ar: Será que já é hora de retomar as aulas presenciais?

Sei que esse é um tema que gerou muitas discussões e não é sobre isso que quero falar. Eu, como “não especialista”, busquei fazer minhas próprias pesquisas, me deparando, inclusive, com citações como “após mais de um ano convivendo com o coronavírus, tem ficado claro que os pequenos não são os principais disseminadores da doença “ vindo de respeitado veículo de comunicação. Apesar de tudo, nada me deixou confortável para enviar meu filho para o campo de batalha. Porque sim, estamos vivendo uma batalha onde, de um lado há um ser minúsculo e invisível e do outro, toda a humanidade. E não preciso dizer para você como anda essa guerra.

Como dizia um famoso autor do universo das Startups : “Get out of building!”. Assim, como bom validador de ideias que procuro ser, resolvi fazer uma visita surpresa a escola do meu filho (uma escola particular) para ver como as coisas andavam por lá. Afinal, a melhor prova do bolo é comê-lo e não avaliar se a receita é boa, não é mesmo?

Então, em uma tarde dessas, peguei o Davi e fomos até a escola. Logo na entrada, olhamos para funcionários com máscaras e aparentemente tudo parecia bem. Em algum momento, no entanto, uma professora sai de uma sala com o nariz de fora da máscara. Nem preciso dizer que eu e Davi nos olhamos por alguns segundos e, apesar de ninguém dizer uma palavra, ele entendeu meu objetivo de leva-lo até lá para a visita “surpresa”.

Em um segundo momento, subimos para resolver umas burocracias e na descida, um grupo de crianças conversava em um canto mais isolado, todas sem máscara. E assim, em alguns poucos minutos, vimos uma série de situações que não gostei nada. Para ter certeza de que isso não era algo exclusivo da escola do meu filho, dei um pulo em outra escola particular para ver como as coisas estavam. Bom, o resultado você já deve imaginar. O problema, antes de tudo, parece ser cultural e isso não se ajeita só com álcool em gel e máscaras.

Será que na escola pública a situação estava diferente? Ao conversar com alguns professores percebi, digamos assim, uma visão única dos horrores da guerra. E antes que você classifique isso como um exagero, pense o seguinte: Uma coisa é ler sobre a segunda guerra mundial nos livros de história, outra bem diferente é você entrevistar um soldado da linha de frente.

Descobri, por exemplo, que muitos alunos, por falta de internet, recebem material impresso em casa e têm que se virar sozinhos. Descobri ainda que muitos professores estão gerando materiais e alternativas por conta própria para minimizar o problema. Alguns até gravam vídeos da aula e enviam para o whatsapp dos pais como forma de ajudar.

De outro lado, falando com alguns pais, ficou claro que essa não é uma atitude de todos. Existem professores que dão somente duas ou três aulas na semana, postam trabalhos sem orientação e têm uma dificuldade enorme em acompanhar as atividades dos alunos.

Acho que está claro que, apesar dessa guerra ser de todos nós, para alguns está sendo mais difícil. Difícil porque estão sendo obrigados a ir para a linha de frente, sem capacete, sem colete a prova de balas, sem armamento e para alguns, sem esperança, já que muitos alunos simplesmente abandonaram a escola. Quando falo com o pai desses alunos, percebo a tristeza de quem não teve opção, porque faltou a internet rápida, o computador potente, a cadeira de qualidade, o fone de ouvido com microfone, a iluminação adequada e por fim o mais importante: faltou comida.

Então fica aqui a reflexão: Qual a distância entre esse “futuro que já chegou” e o presente de muitos desses alunos?

E você, de que lado está?

Porque se o futuro já chegou, certamente não foi para todos.

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