Especialista avalia movimentação do Senado americano

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A decisão do Senado dos Estados Unidos de aprovar uma resolução que busca barrar as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros, com 52 votos a favor e 48 contra, movimentou o cenário político e econômico entre os dois países. Embora a medida ainda dependa de análise pela Câmara dos Representantes e da sanção presidencial, tornando sua aplicação imediata improvável, o gesto foi interpretado como uma mensagem política interna e um ponto de inflexão nas relações bilaterais.

De acordo com o advogado Daniel Toledo, especialista em Direito Internacional, a votação reflete uma tensão crescente dentro do Partido Republicano. Ele observa que cinco senadores republicanos votaram contra as tarifas de Trump, demonstrando uma tentativa de equilibrar o discurso político com o pragmatismo econômico. Em um ano de eleições intermediárias, manter alinhamento irrestrito com medidas impopulares pode ter custos políticos significativos.

O pacote de tarifas, que elevava em até 40% o custo de importação de determinados produtos brasileiros, havia sido justificado pela Casa Branca como medida de emergência econômica. No entanto, parlamentares argumentaram que a decisão teve caráter político, especialmente considerando que os Estados Unidos mantêm superávit comercial com o Brasil. Dados do U.S. Census Bureau mostram que em 2024 os EUA exportaram US$ 42 bilhões para o Brasil e importaram US$ 36 bilhões, resultando em um superávit de aproximadamente US$ 6 bilhões para os americanos.

Toledo avalia que a aprovação da resolução no Senado não altera as tarifas imediatamente, mas possui relevância simbólica. O efeito é mais político do que econômico, com o Congresso norte-americano deixando claro sua discordância em relação à justificativa apresentada por Trump. Isso enfraquece o argumento de emergência e pressiona a Casa Branca a negociar com maior cautela.

O especialista acrescenta que a votação fortalece a posição diplomática brasileira, dando ao governo margem para retomar o diálogo com Washington em bases mais equilibradas. O sinal do Senado indica que há espaço para recompor relações, o que é positivo tanto para a diplomacia quanto para as empresas que dependem do comércio bilateral.

Os Estados Unidos representam o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China. Em 2024, o fluxo comercial bilateral ultrapassou US$ 80 bilhões, com setores como agronegócio, aço e alumínio sendo particularmente afetados pelas tarifas, respondendo por cerca de 25% das vendas brasileiras ao mercado americano.

Toledo projeta que, embora Trump dificilmente sancione algo que contraria uma decisão própria, a mensagem foi recebida. O presidente percebe que não conta mais com apoio total do Congresso, mesmo entre republicanos, o que pode levar a uma postura mais conciliadora nas próximas semanas. O desfecho da disputa comercial dependerá de como a Casa Branca reagirá à movimentação legislativa, podendo transformar o impasse em oportunidade para novos acordos comercialmente vantajosos para ambas as partes.

Além do impacto comercial, as tensões tarifárias afetam áreas como imigração e investimentos bilaterais. O empresariado brasileiro que atua nos Estados Unidos observa o cenário com cautela, aguardando sinais concretos de estabilidade. Contudo, o episódio representa um alívio momentâneo para as negociações diplomáticas, sendo interpretado como a primeira grande contestação republicana a uma decisão comercial direta de Trump desde seu retorno à Casa Branca. Mesmo que a resolução seja bloqueada na Câmara, o gesto político pode reabrir espaço para discussões mais amplas entre Washington e Brasília.