
O recente escândalo de fraudes no INSS reacendeu o debate sobre a dificuldade do governo em lidar com crises de forma transparente. As investigações, iniciadas ainda na gestão anterior, ganharam novo foco sob a atual administração, mas a falta de uma estratégia clara de comunicação amplificou os danos políticos. Carlos Lupi, ministro da Previdência Social, foi alertado sobre as irregularidades, mas, como aponta Paulo Ramirez, professor de ciências políticas da ESPM, o governo falhou em conduzir o tema de maneira eficiente.
“Antes de confirmar a extensão das fraudes, era necessário cautela ao levar o assunto ao público. A menos que houvesse provas concretas apontadas por órgãos oficiais, anunciar suspeitas prematuramente poderia gerar desgaste desnecessário”, avalia Ramirez. O especialista ressalta que a comunicação deficiente não se limita a esse caso, mas reflete um padrão do governo, que também não tem conseguido alinhar mensagens com partidos aliados — especialmente após as recentes trocas ministeriais.
O problema ganha contornos eleitorais. Lupi, figura central no PDT, tem sua permanência no cargo vista como crucial para a estabilidade da base governista. “Sua eventual saída seria uma catástrofe para as eleições de 2026, pois o PDT poderia romper com o governo, fragilizando ainda mais uma coalizão já debilitada”, explica Ramirez. A tensão revela a dificuldade do Planalto em equilibrar demandas internas e imagem pública, especialmente diante de uma popularidade em declínio.
Com apoio frágil no Congresso e descontentamento em setores da sociedade, o governo enfrenta um cenário complexo para ampliar alianças. “Se não resolver essas crises de forma estratégica, a administração atual terá ainda mais obstáculos para construir os apoios necessários em 2026”, conclui o professor. O caso do INSS, portanto, vai além da má gestão de comunicação: é um sinal de alerta para os riscos que ameaçam o projeto político do governo nos próximos anos.