De uns tempos para cá, tenho notado no Rio uma proliferação de “cevicherias” e restaurantes peruanos – inclusive em locais menos chiques, como a Lapa. Fui pesquisar um pouco e descobri que há várias opções em diferentes bairros. O movimento parece ser de expansão: o Lima Cocina Peruana, por exemplo, inaugurou recentemente uma nova filial na Tijuca e outra em Niterói, além do restaurante em Botafogo.
Já o Intihuasi (primeiro do Rio, no Flamengo) também projetava expansão, mas paralisou as obras por conta da pandemia. A saída foi investir em medidas protetivas reforçadas para o restaurante e inovar com o serviço de entregas. Fui conferir ‘in loco’ estes dois peruanos, entre os mais tradicionais da cidade, e trago minha experiência para vocês na Contexto Carioca – prometendo, de antemão, uma nova coluna sobre o tema mais para frente! 😉

Não é só ceviche
Se engana quem pensa que a culinária peruana se resume ao ceviche: a variedade de temperos, pimentas e vegetais do país andino faz com que Lima seja considerada a “Paris dos trópicos” em termos de gastronomia. A propósito, a capital foi a primeira cidade fora da França a receber a famosa escola Le Cordon Bleu.

Para fugir do óbvio, não incluí o ceviche nas minhas escolhas. No Lima, pedi de entrada Mejillones al Rocoto (R$ 32): mexilhões salteados, molho cremoso de rocoto (tipo de pimentão) e torradas apimentadas. Saborosa, a entrada serve tranquilamente 2 pessoas. “Gostamos de tudo muito bem servido”, conta a atendente peruana. As torradinhas parecem tacos mexicanos, bem crocantes.
Eu estava acompanhado e, para o prato principal, escolhemos a Plancha de Mar (R$ 125): tábua com camarão, polvo, lula, cogumelos, cebolas, alcaparras e batata, com molho da casa – um toque pop com tempero intenso. Acompanha risoto de alho poró trufados e mix de folhas. Os drinks são um capítulo à parte, e uma dica quente é o El Imperial (R$ 29): pisco, capim santo, abacaxi, laranja e casca de laranja – show de bola! De sobremesa, o Tradicional Suspiro de Limeña (R$ 19) é de lamber os beiços: redução de leite condensado e leite evaporado com merengues ao vinho do porto.
Culinária é cultura
Depois de conhecer o ambiente cool e a cozinha mais pop do Lima, fui para o clima familiar e a culinária tradicional (embora moderna) do Intihuasi. Lá, pude conversar com um dos sócios, João Paulo, casado com a chef peruana Margarita Sayan e profundo conhecedor da cultura local. Ainda não visitei as bandas de Machu Pichu, mas a conversa aguçou muito a curiosidade de conhecer este país tão rico culturalmente.

Uma história interessante é a do prato de entrada, “Causa de Camarones” (R$ 51) – massa de batata temperada com suave pimenta peruana, recheada com pasta de camarões com aipo e abacate. Na época da guerra de independência, as mulheres peruanas amassavam batatas com temperos e entregavam para os soldados, pela causa.
“Imagine que, mesmo nas condições precárias de uma guerra, eles se preocupavam em temperar bem a comida. Esse cuidado com o que se come faz parte da cultura dos peruanos”. João Paulo, sócio do Intihuasi.

O destaque da entrada é o molho de ají amarillo, pimenta amarela bem saborosa. Para o prato principal, a dica foi Majarisco (R$ 71) – prato típico do norte peruano, feito com banana da terra amassada, frutos do mar em tempero de pimentas. O sabor é suave e refinado, como parece para mim a culinária peruana em geral: ela não chega com o “pé na porta”, conquista pelos flancos.
Era um almoço no meio da semana, então nada de álcool: para beber, a deliciosa e refrescante Chicha Morada (R$ 17, jarra 500 ml), feita do legítimo milho roxo com abacaxi e maçã em cubinhos. E, fechando, com chave do ouro, Don Ernesto (R$ 21): sorvete de lúcuma (fruta local) com cobertura de algarrobina e nozes pecãs. É… tenho mesmo que conhecer o Peru!
Dica Carioca
A dica cultural da semana é o lançamento do novo trabalho da banda instumental carioca Bondesom: “Pista Livre” chega às plataformas hoje e traz 8 composições próprias. Sou fã incondicional dessa galera que começou há cerca de 2 décadas, todos garotos novos tocando música instrumental. Os bailes dançantes da banda arrebataram um público cativo, e posteriormente o projeto Acarajazz se tornou destaque na agenda cultural de rua no Rio.
A banda sempre teve os ritmos brasileiros como matéria-prima fundamental, com influências do jazz e sons latinos. Em seu 4° CD, a banda mostra pela primeira vez influências voltadas para o soul e funk americanos, além do afrobeat – ritmo popularizado pelo nigeriano Fela Kuti. Também é o primeiro trabalho em que o Bondesom conta com reforços para o naipe de sopros – o “Big Bonde”.
“É um disco muito dançante, e acho que é o mais legal da banda até agora. As composições são bastante coletivas e foram feitas durante muitos ensaios, ao longo de 3 anos o trabalho”, Pedro Mann, músico.
Vale a pena conferir!

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