A primeira coleta foi realizada na quinta-feira (4). Material foi doado por um médico
A Fundação Hemocentro de Brasília realizou a primeira coleta de plasma de pessoa recuperada com Covid-19 nesta quinta-feira (4). O material será utilizado na pesquisa desenvolvida pelo Hemocentro, pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Secretaria de Saúde com o objetivo de testar a eficácia desse componente no tratamento de pacientes internados com Covid-19 em estágio moderado, a fim de verificar se há redução no número de casos que evoluem para formas graves da doença.
O primeiro doador voluntário foi o médico anestesista Lucas Valente, de 29 anos. “Eu quis me inscrever na pesquisa para ajudar. A Covid-19 é uma doença solitária. O paciente fica isolado em um ambiente estranho; as pessoas se isolam para se proteger. É triste”, explica. Os primeiros sintomas – febre e tosse – surgiram no início de abril.
O profissional de saúde acredita que pegou o coronavírus no trabalho, durante o cuidado aos pacientes. “Fico feliz em participar do estudo principalmente porque ainda não temos um medicamento para a doença, e o plasma pode ser um caminho”, destaca.
O diretor executivo do Hemocentro, Alexandre Nonino, pretende aumentar o número de coletas diárias. “A doação de hoje ocorreu como esperado. Temos capacidade para aumentar o atendimento e ter mais plasma armazenado para cobrir a demanda da pesquisa”, esclarece.
O material será aplicado em 100 pacientes maiores de 18 anos internados em unidades de saúde do DF por Covid-19 em grau moderado, desde que eles ou seus familiares tenham consentido formalmente com a participação na pesquisa. A equipe de pesquisa vai acompanhar o estado de saúde dos pacientes e avaliar a eficácia e a segurança do tratamento.
Coleta do plasma
Pessoas que tiveram Covid-19 possuem anticorpos capazes de combater o vírus; eles são encontrados no plasma sanguíneo. Em pesquisas anteriores relacionadas a outras doenças virais, constatou-se que pacientes demonstraram melhora do quadro clínico após receberem o plasma de pessoas recuperadas. Ainda não há evidência clínica de que o plasma convalescente de Covid-19 seja eficaz no tratamento de pacientes infectados com coronavírus.
A doação de plasma é um pouco diferente da doação tradicional de sangue. A coleta é feita por meio de aférese, um procedimento no qual a separação de componentes do sangue é feita por centrifugação, por meio de um equipamento automatizado. O sangue do doador é captado por uma máquina que separa apenas o plasma na bolsa de coleta e devolve o sangue de volta ao organismo.
O volume de plasma a ser coletado é de 500ml a 600ml, dependendo do peso do doador, e procedimento leva entre 60 e 90 minutos. Na doação de sangue, o volume total doado varia entre 405ml e 470ml e a coleta acontece em cerca de 10 minutos.
Cabe ressaltar que a doação de plasma é feita para fins específicos de pesquisa e não deve ser confundida com a doação tradicional de sangue. Pessoas que tiveram Covid-19 estão impedidas de doar sangue por 30 dias após o desaparecimento completo dos sintomas. Não será extraído plasma da doação tradicional de sangue para utilização no estudo.
Seja voluntário
O cadastro para ser voluntário na pesquisa deve ser feito no site do Hemocentro. O interessado precisa ter entre 18 e 60 anos de idade, pesar no mínimo 60kg, ter diagnóstico laboratorial confirmado de infecção por SARS-Cov-2, estar sem sintomas de Covid-19 há pelo menos 15 dias e não ter tido manifestações graves em função da doença (choque séptico, parada cardíaca e/ou entubação traqueal/respiratória). O voluntário também precisa atender as condições básicas para doação de sangue e se atentar aos impedimentos ao ato. Se for mulher, não pode ter histórico de gestações.
Os candidatos à doação de plasma não devem comparecer ao Hemocentro. Eles devem aguardar contato da equipe de pesquisa para agendar uma entrevista. Serão avaliados outros aspectos clínicos e coletadas amostras de sangue para exames. Com base nesses resultados e no cumprimento dos demais critérios da pesquisa, a doação de plasma será agendada.
* Com informações da Fundação Hemocentro