Celebrar a Amazônia ainda que num único dia, significa muito mais do que evidenciar a importância deste Bioma regionalmente e mundialmente. Celebrar a mais exuberante floresta tropical úmida do Planeta, com 30.000 espécies de plantas, 1800 espécies de borboletas¸ 3.000 espécies de formigas, 1300 espécies de peixes e aproximadamente 3.000 espécies de abelhas ainda é quantitativamente um cenário inconclusivo. No entanto, para além da diversidade biológica acima comentada e da contribuição que serviços ecossistemas Amazônicos exercem para o controle do clima e mitigação de gases de efeito estufa, celebrar a Amazônia de forma legítima é reconhecer e respeitar os povos da floresta, com sua cultura e práticas de conservação de rios, igarapés e florestas enquanto populações originárias e extrativistas, resistentes de um tempo, onde a incompletude de políticas de proteção à floresta Amazônica associada à uma reforma agrária ineficiente nos oferecem diariamente na mídia, cenas de conflito agrário e ambiental.
Amazônia, como não esquecer no teu dia, os conflitos agrários em teus territórios culminando quase sempre em destruições de florestas e plantações da agricultura familiar, coação de agroextrativistas, exploração ilegal de madeira em unidades de conservação, operação ilegal de garimpos e avanço de monoculturas exóticas à região? Mas, resilientemente tu segues enquanto Sistema Aberto, Vivo e Complexo que és, capaz de se alterar pela alta plasticidade que possui e assim sobreviver a cada novo estresse biótico, abiótico ou antrópico. Dessa forma, pelos processos de regeneração natural da flora nas áreas desmatadas e degradadas, inúmeras novas florestas secundárias surgem em meio à imensidão da floresta primária, e tudo isto graças à uma fisiologia altamente plástica dessas espécies, permitindo assim que uma nova fitossociologia surja a cada estresse.
Oportuno ainda, é comentar a dicotomia da Lógica da Produção na Amazônia, surpreendente para não dizer avassaladora, pois destaca se, quando de forma explícita dois pólos bem distintos se apresentam; o primeiro caracterizando se pela exploração sustentável centenária de recursos da Biodiversidade por populações tradicionais amazônicas, enquanto o segundo, caracteriza se pela exploração baseada na substituição da floresta por agroecossistemas de grãos. Então, enquanto estudos de mercado como os da APEX (2022) apontam a alta demanda mundial pela exportação de produtos não madeireiros Amazônicos, notadamente as espécies açaí (Euterpe oleracea), castanha do Brasil (Bertholletia excelsa) e guaraná (Paullinia cupana), por outro lado, o desmatamento gigantesco de partes da floresta onde tais espécies ocorrem se dá com um aumento significativo nos últimos 4 anos, a favor da implantação da monocultura de grãos. Dessa forma, dois modelos opostos de produção em territórios Amazônicos podem conviver de forma ecologicamente correta? Cemitérios de castanheiras estão aí por toda a Amazônia para nos dizerem que este modelo atual não é mais eticamente possível, não apenas pela perda da biodiversidade e de qualidade climática, mas pela perda econômica e de dignidade daqueles que têm nos produtos não madeireiros seu modo de sobrevivência.
Mas hoje, dia 5 de setembro, é o dia da AMAZÔNIA! E se não podemos celebrar a sua integridade e conservação, vamos celebrar a esperança, a luta, a resiliência, o sorriso e o brilho nos olhos daqueles que vivem e acordam todos os dias numa das últimas grandes Florestas Tropicais do mundo, VIVA!
Patricia Chaves de Oliveira é Doutora em Ciências Agrárias e Professora Titular da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)
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