“O velho mendigo caminhava com dificuldade. Na rua deserta, junto às calçadas cheias de buracos, poucas casas pequenas e sujas”.
Alcy Cheuiche
A frase acima descreve a realidade de muitas pessoas negligenciadas pela sociedade. Indivíduos apartados do rebanho, no chão das ruas, todos são invisíveis, disse uma amiga. A mais pura verdade.
Há quem defenda que as pessoas optam por viver na rua. Mas será? A rodoviária de Brasília acumula, além de trânsito, gente que mora embaixo das marquises, vivendo da mendicância, comendo os restos das lixeiras. Faça chuva, sol, a concentração de miseráveis por ali assusta. Será mesmo uma opção?
Outro dia, vi um mendigo cadeirante colocando roupas para secar na calçada, aproveitando o sol da tarde. Horas depois caía o mundo, chuva que Deus mandava, onde estará meu personagem do dia e sua roupa?
Nos últimos quinze anos várias ruas da Capital Federal foram invadidas por famílias em estado de vulnerabilidade; vivem em barracas, lonas, perto do lago para ter água e no meio da cidade para receber alguma doação.
E lá vou eu buscar na origem da minha formação acadêmica pelo conceito de dignidade. Constitucionalmente, essa palavra baliza todas as relações jurídicas e em nome da Dignidade da Pessoa Humana nosso Estado orbita, é o núcleo da estrutura social.
Onde está o amparo normativo da nossa gente que vive a poucos metros da Esplanada?
Entre um escândalo político ou outro, prolifera a maior vergonha, o maior descaso deste país. Homens, mulheres, crianças que vivem como ratos, marginalizados pela cegueira poderosa dos governantes desta triste e abandonada nação.